“Começamos o dia duvidando e o terminamos cheios de euforia, acreditando no dia seguinte”, afirmou Dines
Alunos do terceiro semestre do curso de Jornalismo da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM-SP) participaram, em 22 de março, do evento “Conhecimento científico do jornalismo no Brasil: a contribuição de Alberto Dines”, realizado no auditório da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). O intuito do seminário foi homenagear o jornalista, que comemorava, além dos 80 anos de idade, 60 de carreira dedicados à imprensa.
Estudantes, jornalistas e professores puderam assistir a palestras com profissionais de prestígio tanto no jornalismo como no meio acadêmico, que falaram de sua relação profissional com Dines.
Com o tema “Criação do Departamento de Pesquisa do Jornal do Brasil”, o jornalista e ex-deputado federal Fernando Gabeira iniciou enfatizando a preocupação de Dines com a cobertura jornalística da educação. Falou sobre o surgimento do departamento, nos anos 1960, que funcionou como uma base de dados com informações que serviam de subsídio para a redação. “O departamento representou, naquele tempo, uma espécie de Google”, comparou.
Em seguida, o jornalista e biógrafo Sérgio Vilas-Boas, apresentou o tema “Jornalismo e Biografia: Construção de Morte no Paraíso: A tragédia de Stefan Zweig”, enfatizando a atuação de Dines como autor da obra. Além disso, Vilas-Boas destacou como o jornalista o influenciou em sua carreira de biógrafo.
Encerrando o primeiro turno das atividades, o jornalista, e professor do curso de Pós-Graduação em Jornalismo com Ênfase em Direção Editorial da ESPM-SP, Carlos Eduardo Lins da Silva, apresentou o tema “Cadernos de Jornalismo e Comunicação”. A publicação, que circulou de 1965 a 1973, foi uma das primeiras iniciativas de crítica de mídia no Brasil.
À tarde, o jornalista Caio Túlio Costa, e também professor do curso de Pós-Graduação da ESPM-SP, apresentou o tema “Crítica da Imprensa: Jornais dos Jornais, Revista Imprensa, Jornal da Cesta e Observatório da Imprensa”. Caio comentou da capacidade de produção de Dines e fez uma analogia do trabalho do homenageado com o livro “Os Eleitos”, de Tom Wolf. Comparou-o ao aventureiro, heroico e épico astronauta do livro – personagem que rompe as barreiras do espaço.
O livro “O Papel do Jornal”, lançado por Dines em sua primeira edição em 1986, foi comentado por Eugênio Bucci, professor da ECA/USP e diretor do curso de Pós-Graduação da ESPM-SP. “O livro traz muita paixão [pelo jornalismo], mas é também muito atual”, disse Bucci.
Para falar sobre “A Experiência do Labjor na Unicamp”, o ex-presidente da Fapesp, Carlos Vogt, destacou a história do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo e disse que se não há comunicação, não há ciência. “A comunicação é um elemento vital para a existência da ciência”, disse.
A última palestra teve como tema “Jornalismo na Internet”, sendo comandada pelo jornalista Luiz Egypto. Ele falou sobre webjornalismo e salientou o percurso que Dines fez da trajetória da mídia mais tradicional até as mídias digitais.
Devido a problemas pessoais, o professor emérito da ECA/USP José Marques de Melo não pôde comparecer para proferir a palestra “Estruturação das disciplinas de jornalismo comparado e teoria da imprensa”. No entanto, ele enviou uma carta enfatizando a contribuição de Dines para o que chamou de magistério jornalístico.
No encerramento, Dines agradeceu as homenagens, a presença dos palestrantes e do público. Relembrou também o patriarca do jornalismo Hipólito da Costa e citou a frase, que jamais esqueceu, publicada na primeira edição do “Correio Brasiliense”: “O primeiro dever do homem em sociedade é ser útil aos membros dela”.
Para Dines, sua contribuição para o conhecimento científico do jornalismo Brasil se resume apenas à sua curiosidade. “Não importa o que legisladores e governantes farão com as verdades que nós estamos empenhados em descobrir, como artistas ou cientistas, o que importa é que vamos continuar a buscar”, provocou Dines.
O jornalista encerrou o seminário enfatizando que o encontro não foi uma celebração em homenagem ele, mas que ele foi apenas o pretexto para se falar da uma das suas paixões: a imprensa. “O jornalismo é uma festa: começamos o dia duvidando e o terminamos cheios de euforia, acreditando no dia seguinte”, disse a respeito do ofício que cumpre há 60 anos.
Cacá Junqueira (3° semestre)