Cinemateca Brasileira reúne o maior acervo audiovisual da América Latina

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Instalado em um antigo matadouro, espaço completa 20 anos na Vila Mariana, em São Paulo, mas ainda é desconhecido por muitos moradores da região

Numa pacata praça da Vila Mariana, em São Paulo, está sediado o maior acervo de imagens em movimento da América Latina. A Cinemateca Brasileira, mantida pela Secretaria do Audiovisual, autarquia ligada ao Ministério da Educação do Governo Federal, tem a função de preservar e divulgar a produção audiovisual brasileira, com um acervo de cerca de 30 mil filmes, entre longas e curtas-metragens.

A Cinemateca Brasileira surgiu a partir da criação do Clube de Cinema de São Paulo, formado nos anos 1940 por estudantes da Universidade de São Paulo. Fechado na época do Estado Novo de Getúlio Vargas, o Clube voltou à ativa em 1946 e funcionou com esse nome até 1986. A partir desse ano, rebatizado como Cinemateca Brasileira, o acervo foi incorporado pelo Governo Federal.

Antes sediada no Museu de Arte Moderna de São Paulo, em 1992, a Cinemateca se instalou na Vila Mariana, no antigo Matadouro Municipal. Inaugurado em 1887, o local funcionou até 1927 como cenário para abate de gado, abastecendo açougues e mercados de toda a cidade de São Paulo.

O prédio, hoje tombado pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo), mantém suas características arquitetônicas originais. “Tudo foi mantido e reformado: as paredes com tijolos aparentes, os abatedouros, que hoje viraram salas de cinema. Tudo é igual a como era há cem anos”, conta Carlos Senger, monitor da Cinemateca.

A estrutura do lugar impressiona. Além das duas salas de projeção, que exibem filmes nacionais e retrospectivas de grandes cineastas estrangeiros, a Cinemateca possui uma biblioteca que reúne milhares de livros, revistas, roteiros e cartazes de filmes, que conseguem abranger grande parte da obra audiovisual brasileira.

Ausência

Porém, poucos moradores da Vila Mariana frequentam, ou ao menos têm conhecimento, da riqueza material mantida pela Cinemateca Brasileira. “Moro aqui há dez anos. Toda vez que passava por lá achava que era uma Igreja ou algo parecido”, afirma Carlos Henrique dos Santos, bancário de 42 anos.

“Nunca tinha passado nessa rua”, confessa Jussara Blatkauskas, 56 anos, dona de casa. Mas o valor do ingresso dos filmes, R$ 8, é um incentivo aos novos frequentadores. “Vou tentar passar lá. Parece ser uma boa alternativa aos cinemas do shopping”, afirma Jussara.

Se, por um lado, os moradores da Vila Mariana desconhecem a Cinemateca e seu acervo, por outro, a instituição também se ressente de uma maior interação com os vizinhos. Os próprios funcionários admitem que a maioria dos frequentadores do espaço vem de outros bairros, quando não são de outras cidades.

A Cinemateca é próximo à favela Mario Cardim, mas não possui nenhuma espécie relação com os moradores da comunidade. “Está nos planos da Cinemateca ter alguma forma de contato com os jovens da Mario Cardim e trazer os moradores para nosso espaço, mas não há nada concreto”, afirma Carlos Senger.

(Gabriel Garcia, 3 ºsemestre)