Cientista político internacional analisa golpe militar em Myanmar, na Ásia

Foto: commons.wikimedia.org

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Felipe Padovese (1º semestre)

No dia 1º de fevereiro de 2021, o exército de Myanmar, sudeste na Ásia, declarou que a eleição foi uma fraude e, fazendo uso da força física, depôs do parlamento a líder do partido, Aung San Suu, substituindo pelo general do exército Min Aung Hlaing.

Após a tomada forçada do comando do país, iniciaram-se manifestações pró-democracia em Myanmar. A resposta foi agressiva por parte dos militares, que abriram fogo contra a população, deixando mais de 400 mortos.

O professor de relações internacionais do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa), Leandro Consentino, explica a importância das manifestações contra os militares e da retaliação das grandes potências. “Os protestos da população são muito importantes, mostram que não há uma visão única no sentido de apoio aos golpistas, mas igualmente importante à revolta é a pressão internacional. Ajuda a população oprimida a se sentir empoderada, ou pelo menos mais fortalecida para se revoltar contra uma virada antidemocrática”, afirma.

Além de abrirem fogo em resposta às manifestações, os militares passaram a reprimir os habitantes do país de forma violenta, mesmo que não estejam presentes nos protestos anti-governo. Thu Ya Zaw, morador de Myanmar, disse ao site da agência Reuters: “É um massacre, não mais uma repressão. Eles estão nos matando como passarinhos ou galinhas, até mesmo em nossas casas”.

As críticas vindas de outros países não demoraram a chegar. Nações como Estados Unidos, Japão, Austrália e Reino Unido já emitiram notas de repúdio ao golpe e aos massacres ocorridos no país. Os Estados Unidos declararam estar horrorizados com os acontecimentos, e representantes da ONU, chocados com a situação, convocaram uma Cúpula Internacional de Emergência.

Consentino também levanta possíveis soluções para o golpe, como uma intervenção das grandes potências no Myanmar. “Uma intervenção militar é um último recurso, porque os países, dentro da ordem nacional, são soberanos. Podem ser instaladas sanções tanto econômicas quanto políticas e podemos ter uma pressão pura e simples como estamos assistindo, isso cria constrangimento naqueles que sofrem essas críticas”.

O professor continua: “Não podemos nos acostumar com uma mera formalidade, como uma nota de repúdio, mas é importante ter essa ‘marcação de passo’ para dizer que o golpe junto ao massacre não é tolerável”, alerta.

Quando analisado o passado do Myanmar, fica claro que desde sua independência o país foi regido por pautas ditatoriais. “Myanmar desde o processo de independência, foi governado por Estados não exatamente democráticos, você pode notar que a ditadura militar durou mais de 50 anos ininterruptos. Em 1988 houve uma pressão por redemocratização que não foi adiante, só em 2011 o país conseguiu instaurar um processo de redemocratização estável”, completa  Leandro.

Myanmar é um país asiático com população absoluta de 54 milhões de pessoas. Sua economia é fortemente embasada na agricultura, sendo o destino de 70% da mão de obra da população nacional. O IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), medidor mais preciso de qualidade de vida de um país (valor máximo de um ponto), marca a pontuação de 0,45, um valor considerado muito baixo. Além disso, a renda per capita (por pessoa) do país é de 379 dólares por ano.

Fundado em 4 de janeiro de 1948, mesmo após proclamar sua independência dos britânicos, o país continuou a sofrer com ditaduras. A mais duradoura, entre 1984 e 2011, foi encerrada com o fim de um regime militar, dando espaço para um governo democrático.

Em 2012, após o início do período de democracia no país, o partido LND (Liga Nacional pela Democracia), liderado por Aung San Suu, se destacou no cenário político, propondo a paz para a população do Myanmar. Com apoio popular, o partido conquistou 83% dos assentos parlamentares nas eleições do país de 2020.