Busca pela iluminação

Detalhe de templo budista em São Paulo | foto Lucas Negreiros

Share

Laura Stabile
Marina Cassiolato
»»» Entre 563 a.C. a 483 a.C., na Índia, um príncipe de 29 anos abdicou do luxo de seu palácio em busca de uma vida livre de coisas materiais. Até essa idade, o príncipe não tinha consciência plena de como as pessoas viviam fora de seu reino nem possuía qualquer estudo aprofundado sobre religião, mas vivia inquieto. Sidarta Gautama, o Buda que marca a era cósmica budista em que estamos, partiu em sua busca religiosa e percorreu o território indiano atrás de conhecimento e práticas de meditação até chegar à iluminação, um estado de despertar espiritual.

Detalhe de templo budista em São Paulo | foto Lucas Negreiros

Baseada em seus fundamentos surge a religião budista, que une as práticas de meditação a desenvolvimentos da sabedoria e da introspecção analítica. Cada vez mais o brasileiro tem se interessado por ela, e hoje em dia o Budismo ocupa o quinto lugar entre as religiões com mais fiéis no Brasil.
André Ribeiro, professor de música no templo Tzon Kwan, na Vila Mariana, acredita que o elevado número de fiéis por aqui decorre do fato de o Budismo estar ligado a outras práticas além da religião. “As pessoas vão ao templo para praticar a meditação, como uma espécie de amparo psicológico, para sofrer menos o estresse da vida diária”, analisa. “Nem sempre é pela religião, mas pela paz. Eu, inclusive, vivia estressado e olhava o Budismo como uma coisa que seria boa para mim”, afirma o professor. Ele estava certo.
O praticante Upasaka Hui Shius concorda. Os brasileiros costumam buscar o Budismo para encontrar descanso e uma espécie da paz interior, mas, segundo ele, esquecem que a religião não é só isso, o Budismo exige muita prática e disciplina. “Para muitos o Budismo se torna difícil no começo. As pessoas no Brasil têm um estigma que, praticando o Budismo, se chega ao Nirvana em uma semana e, às vezes, muitas chegam ao templo com milhares de dúvidas em um dia só. Elas são afoitas e ansiosas, esperam milagres no Budismo, e milagre não existe na nossa religião”, comenta.

Professor de música no templo Tzon Kwan, na Vila Mariana, André Ribeiro | fotos Lucas Negreiros

Abrasileiramento
O Budismo vem sofrendo uma espécie de abrasileiramento por aqui. De acordo com Ribeiro, o que acontece é uma separação entre escolas mais e menos tradicionais. “Há aquelas que querem difundir o Budismo em larga escala, mas outras não querem isso. A ideia central é sempre a mesma, o que muda é a cultura que vai receber a religião, os monges e mestres divergem em muitas práticas, e as escolas vão surgindo assim, por divergência e convergência”, conta.
A monja do templo lembra que essa situação não ocorre apenas no Brasil. “Tudo se modifica todo o tempo. O nosso Budismo é moderno, ele é para a cidade, e não para ir para a caverna. Cavernas existiam no Tibete. Hoje temos carros, celulares e casas, por exemplo, então a gente vai praticar aqui, dentro do nosso mundo”, exemplifica. O Budismo veio para o Ocidente difundido pelo Tibete. “A nossa tradição tem uma linhagem tibetana, ou seja, nossos mestres são budistas e tibetanos”, conclui a monja.

A prática
O Budismo acredita que o ser humano esteja em um ciclo eterno de morte e renascimento em diferentes corpos. A religião propõe, então, uma busca pela libertação desse curso baseada em quatro estágios. As Quatro Nobres Verdades são: a verdade do sofrimento, da origem do sofrimento, da cessação do sofrimento e do caminho que leva à cessação do sofrimento. Trata-se do caminho para o fim do sofrimento através da meditação, da sabedoria e da conduta que se desenvolve vida após vida até o alcance da iluminação.
Mas alcançar esse estágio não é fácil. A meditação é possível a todos, mas a libertação do sofrimento acontece para praticantes muito avançados, que chegam a um estágio anterior ao da meditação final, o da iluminação. Esses são os chamados Bodisatvas, os mais próximos de Buda e da iluminação. O que poucas pessoas sabem é que não existe apenas um Buda e um Bodisatva, existe um Buda para cada era cósmica budista. Sidarta Gautama é o Buda que marca a era em que estamos, a qual também tem dois Bodisatvas.
Upasaka Hui Shius conta que segue uma relação cheia de energia com o Budismo em seu dia-a-dia. “Como eu só frequento o templo aos finais de semana, minha semana é assim: recito os sutras pela manhã, leio e estudo eles, medito andando e parado e faço trabalhos voluntários”, conta. “O Budismo é a união de pensamento, palavras e ações”, finaliza o praticante.