Brechós ainda fazem sucesso na Vila Mariana

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Estabelecimentos atraem moradores do bairro paulistano. É o caso da loja Tony Jr., na rua Humberto I. Foto: Juliana Aguilera

Em pleno século XXI, marcado pela globalização e pelos avanços tecnológicos, a Vila Mariana ainda conserva um costume já considerado antigo e tradicional por algumas pessoas: o brechó. Essas lojas, originalmente destinadas a comercializar artigos usados, como peças de vestuário e antiguidades, resistem na região.

“Não podemos esquecer que o mundo moderno está em rápida transformação”, aponta o professor de antropologia e sociologia e doutor em Antropologia Urbana pela PUC-SP, Eduardo Benzatti. Entretanto, segundo ele, pequenos serviços tradicionais, como brechós, que mantêm a essência dos bairros, continuam a existir. “Enquanto um lugar tiver ‘cara de bairro’, como a gente entendia algum tempo atrás, esses serviços vão ser mantidos”, justifica.

Geni Paez, 54 anos, proprietária do brechó Mimos e Fricotes, na Vila Mariana, é a prova de que esse tipo de comércio não está ultrapassado. Ela acabou entrando no ramo da maneira mais inusitada possível: a loja de roupas que ela administrava foi assaltada duas vezes, levando a um prejuízo de mais de R$ 200 mil. Logo, sem ter mercadoria para abastecer o estabelecimento, recorreu à ideia de transformá-lo em brechó, substituindo as roupas novas e caras por outras usadas e mais baratas. Para ela, essa foi a sua grande sacada.

“Eu fiz três faculdades: jornalismo, direito e publicidade e propaganda. Exerci todas essas áreas, mas acabei me encontrando realmente em brechós. Eu adoro isso!”, declara Geni. Ela conta que além de vender, também troca e compra mercadorias. São artigos usados, mas com aparência de novos, que vão desde roupas e sapatos a móveis e pratarias.

Todos os dias ela recebe novidades. E, em relação à freguesia, Geni também não tem muito com o que se preocupar. “Tenho uma clientela bastante fiel, mas aparecem clientes novos todo santo dia”, comemora.

Variedade

A estudante de artes visuais Camila Vasques, 20 anos, começou a comprar em brechós há aproximadamente dois anos. Para ela, a vantagem, além da exclusividade e economia, é a variedade. “Normalmente eu compro roupas, mas o legal é que tem de tudo. Encontramos desde roupas a sapatos, bolsas e acessórios”, explica.

Mariana Marcondes, 19 anos, estudante de jornalismo, também ressalta o fato de as peças encontradas em brechós serem únicas. “Neles, você encontra peças que ninguém tem. Inclusive, algumas até têm história, pois são de décadas passadas”, afirma Mariana, que se declara apaixonada por brechós desde os 15 anos, quando morou na França.

Com o tempo, os brechós foram evoluindo com a indústria da moda. Por mais que brechós tradicionais e fiéis às suas origens ainda façam sucesso, modelos mais modernos e com novas propostas de mercadorias estão conquistando seu espaço. Se antes os brechós eram destinados apenas a pessoas com menor renda, que só podiam comprar roupas mais baratas e usadas, hoje atraem também a classe média que busca produtos sofisticados a preços mais baixos.

Renda

A Vila Mariana possui uma renda média em torno de R$ 3,6 mil mensais, acima do índice de cerca de R$ 1,3 mil da cidade de São Paulo, de acordo com a subprefeitura do bairro. Foi partindo desse pressuposto que o estilista Tony Junior, 30 anos, deu origem ao brechó que leva seu nome, também localizado na região.

Formado em moda pela Universidade Anhembi Morumbi, já foi assistente da estilista Gloria Coelho por dois anos e começou garimpando peças para um acervo pessoal. Com o tempo, começou a usar as roupas em editoriais de moda e outros trabalhos que realizava, o que acabou tornando-o conhecido por ter essas peças raras, exclusivas e exóticas de alto padrão. “No fim, tanta coisa que eu juntei acabou virando um negócio”, explica.

Segundo ele, quem decide comprar no seu brechó busca ‘achados’, como roupas de qualidade com preços populares; roupas boas que em lojas originais seriam muito mais caras. Tony afirma que as confecções que vende têm que ter alguma coisa ‘a mais’, pois o fato de ser estilista lhe possibilita ter outro olhar da roupa. “Meu brechó é diferente. Os produtos com os quais eu trabalho não são qualquer produto, não é só uma roupa usada. Tem informação de moda no tecido, no estilo, na cor, na marca, entre muitos outros aspectos”, comenta.

A estudante Camila, que já visitou e comprou no brechó de Tony, não deixa de concordar com essa afirmação. “Eu acho, particularmente, que este brechó tem um diferencial pelo fato de trabalhar também com produtos internacionais, bem como por possuir produzidos pelo próprio dono”, opina.

 

Serviço
Brechó Mimos e Fricotes
Rua Coronel Lisboa, 622
Vila Mariana – São Paulo, SP
Telefone: (11) 3796-0164
 
Brechó Tony Jr.
Rua Humberto I, 999
Vila Mariana – São Paulo, SP
Telefone: (11) 95986-0027

Juliana Aguilera e Laís Guidi (3º semestre)