Arte moderna hoje e em perspectiva crítica

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Durante o ESPMovement, palestrante analisou obras de artistas que participaram da Semana de Arte Moderna, em 1922, conectando-as aos dias de hoje – Foto: Maria Vitória Noleto

Júlia Faria, Vicente Ricardo e Maria Vitória Noleto (1º semestre)

Um distanciamento da ideia de que a Semana de Arte Moderna de 1922 é algo do passado foi o que norteou a palestra ministrada pelo professor João Carlos Gonçalves, do curso de Design da ESPM-SP, como uma das atividades do ESPMovement, realizado de 19 a 21 de outubro.

Sob o título “DESvintedois: uma (im)possível releitura visual da Semana de Arte Moderna”, Gonçalves estimulou uma reflexão coletiva entre os participantes, sugerindo que as contribuições do evento que marcou o modernismo no Brasil estimulam o olhar sobre o passado para contemplar o presente e preparar o futuro.

O prefixo “des” foi colocado no título da programação, pelo palestrante, como uma provocação. Para ele, é importante transformar o “DESvintedois” em “REvintedois”, porque rever o evento de 1922 estimula a refletir sobre vários aspectos, como a diferença entre quem foi protagonista da história da arte e quem foi desprestigiado. “Temos que olhar para as artes do passado com olhos do futuro para conseguirmos provocar a mudança que ainda está em movimento”, reforçou Gonçalves.

Em 1922, o país completava cem anos de Independência e passava por diversas mudanças sociais, políticas e econômicas, principalmente com efeitos do começo da industrialização e do fim da Primeira Guerra Mundial. A Semana de Arte Moderna deu visibilidade a experimentações de uma nova estética em vários campos da arte.

Modernismo à brasileira – O modernismo se caracteriza pela ruptura da arte acadêmica europeia que dominava no Brasil até o começo do século 20. Uma de suas características mais importantes foi a influência do movimento antropofagista, que tinha como objetivo o fortalecimento da identidade nacional.

Um dos nomes mais influentes da época é o de Tarsila do Amaral. Seu quadro Abaporu foi interpretado por Oswald de Andrade como um “índio que devora toda a cultura para se apossar dela e reinventá-la”. Essa interpretação levou a pintora – que na época era casada com Andrade – a escolher o nome da tela, juntando as palavras “aba” e “poru”, do tupi-guarani, cujo significado é “homem que come”.

Embora a arte de Tarsila do Amaral fosse vanguardista, as avaliações feitas por críticos de arte não deixam de reconhecer algumas contradições. Durante a palestra, por exemplo, Gonçalves fez uma análise do quadro A Negra, demonstrando como ele estereotipa os traços negros.

#ParaTodosVerem: Uma tela projeta dois quadros de Tarsila do Amaral. O quadro da esquerda é um autorretrato, no qual ela aparece, à frente de um fundo azul, com uma roupa vermelha e as mãos sobre o colo. O da direita representa uma mulher negra, à frente do que aparenta ser uma folha de bananeira; a personagem tem pernas e braços torneados.