“A democracia precisa do jornalismo, e o jornalismo precisa de um ambiente democrático”

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Enzo Almeida (4º. semestre)

 

O jornalismo atravessa um tempo de transformações. Adquiriu maior complexidade, principalmente em função da convergência midiática e das transformações da sociedade. Na busca por alternativas que permitam acompanhar as mudanças que estão ocorrendo nos processos de produção e distribuição da notícia, o curso de Jornalismo da ESPM-SP também vem se transformando ao longo desses dez anos de existência.

 

Nesta entrevista à Plural, a professora Maria Elisabete Antonioli, coordenadora do curso de Jornalismo da ESPM- SP desde sua criação, fala sobre os desafios do ensino gerados pela pandemia e as funções primárias do jornalismo na sociedade. “O jornalismo tem demonstrado a cada dia sua importância e a sociedade tem reconhecido. Durante a pandemia a força do jornalismo é tão grande e a prestação de serviços se tornou tão necessária para a população que resultou em um aumento de audiência dos jornais de uma forma geral. Isso demonstra que a sociedade vê a seriedade do trabalho do jornalista.”

 

O curso de Jornalismo combina disciplinas teóricas a matérias essencialmente práticas. A teoria ajuda os estudantes a ampliarem a base de conhecimentos. “Esse diálogo com a teoria e prática é fundamental para a formação do aluno. São conteúdos das ciências humanas, do fazer jornalístico, de negócios, de tecnologia e de comunicação e marketing”, afirma Maria Elisabete.

 

Quanto maior a bagagem cultural dos alunos, melhor será o seu desempenho na profissão. A parte prática mostra a rotina de trabalho de forma bastante concreta. Já nos primeiros semestres os alunos desenvolvem atividades nos diferentes laboratórios do curso: produção de TV, radiojornalismo, redação, fotografia, entre outros. “Acredito que a criação do Centro Experimental de Jornalismo (CEJor) – que é único nesse modelo nas escolas de Jornalismo –, onde são oferecidas diversas oficinas, agências e projetos, é uma excelente oportunidade para os alunos, além das aulas, exercitarem jornalismo em diversas áreas”, diz.

 

O surgimento e aperfeiçoamento de novas tecnologias eletrônicas (vídeo, televisão por cabo, internet) está modificando profundamente os modos de produção jornalísticos. Nos dias de hoje, os próprios celulares são instrumentos importantíssimos na transmissão de notícias, visto que com eles é possível gravar imagens e sons de forma muito mais fácil, em comparação com 15 ou 20 anos atrás. “Acredito que os valores do jornalismo não mudaram, são perenes, e nosso norte é a sociedade. Mas as práticas mudaram muito.”

 

A docente também comenta sobre os pontos altos do curso, ressaltando o papel positivo das oficinas na formação dos estudantes, e sobre os diferentes conhecimentos que as disciplinas de jornalismo buscam transmitir aos alunos.

Ela ainda destaca que, embora os valores fundamentais da profissão não tenham se alterado com o passar dos anos, as práticas jornalísticas sim, e é para isso que a ESPM busca preparar todos os seus estudantes desde a criação do curso em 2011.

 

Como foi a preparação para a criação do curso?

Eu coordeno o curso desde que ele teve início em 2011. Entrei na ESPM em 2010 para planejar a implementação do curso, que ocorreu no ano seguinte.

 

Qual o motivo para criar um curso de jornalismo em uma faculdade que tem como especialidade propaganda e marketing?

A ESPM é uma faculdade de comunicação e negócios. Há diversos cursos oferecidos em diversas áreas, e Jornalismo faz parte desse grupo. O curso foi criado na gestão do professor José Roberto Whitaker Penteado [ex-presidente da ESPM], que também é jornalista. Outra curiosidade interessante é que a ESPM foi fundada por Rodolfo Lima Martensen, com apoio de Pietro Maria Bardi e do grande jornalista Assis Chateaubriand. Então era mais que natural oferecer um curso de Jornalismo.

 

 

Como ocorreu o processo de criação do curso de Jornalismo na ESPM, e de quem partiu essa iniciativa?

A iniciativa do curso ocorreu, como eu mencionei anteriormente, na gestão José Roberto Whitaker, que decidiu que o curso de Jornalismo deveria ser oferecido nas três unidades da ESPM: São Paulo, Rio e Porto Alegre. Assim ocorreu, e foi um sucesso nas três unidades.

 

Quais as prioridades do ensino em Jornalismo na ESPM?

Bem, além da formação essencial do jornalista para trabalhar nas diversas plataformas de mídia e, consequentemente, com as diversas linguagens, o curso oferece aos alunos conteúdos voltados aos negócios e marketing, considerados de grande importância para o jornalista atualmente, pois ele pode criar seu próprio negócio e gerenciá-lo, pode trabalhar em empresas, na comunicação corporativa, em assessorias de imprensa, como também com trabalhos autorais independentes. Então no curso, o egresso tem uma formação que aumenta muito sua participação no mercado.

 

Quais são os desafios do ensino em jornalismo nos dias atuais?

São muitos os desafios e, agora com a pandemia, os desafios aumentaram, pois professores e alunos e uma parcela de profissionais estão produzindo diretamente de suas casas. Então são novas formas de produzir jornalismo e acredito que muitas continuarão mesmo depois da pandemia, pois a tecnologia oferece grandes oportunidades para produzir um bom jornalismo mesmo à distância. É muito mais fácil, por exemplo, entrevistar alguém que mora no exterior por Skype, do que fazer uma viagem só para isso. Então tecnologias que já existiam passaram a ser utilizadas com sucesso. Mas, claro, há muitos desafios nesses novos formatos que ainda são recentes.

 

Quais conteúdos o curso procura transmitir aos seus alunos?

O curso oferece conteúdos teóricos e práticos simultaneamente a partir do primeiro semestre. Esse diálogo com a teoria e prática é fundamental para a formação do aluno. São conteúdos das ciências humanas, do fazer jornalístico, de negócios, de tecnologia e de comunicação e marketing. Para dar forma ao desenho do curso, foram pensadas as dimensões do egresso que seriam importantes contemplar, a partir do perfil de profissional e cidadão almejado. São elas: questionamento crítico frente aos desafios locais, nacionais e globais; compreensão das dimensões criativas, projetuais, socioeconômicas e culturais da profissão; integração às esferas contemporâneas do conhecimento; perfil propositivo, consequente e ético em relação a seu meio e outras realidades; mobilização pelo empreender, inovar e a ser responsável socialmente e construtor de perspectivas e cenários. Destas dimensões, emergem os cinco eixos de conhecimento que fundamentam o curso: linguagens e tecnologia, processos e procedimentos jornalísticos, fundamentação humanística, educação empreendedora e gestão e comunicação com o mercado.

 

Cite um ponto alto do curso durante o período em que você tem atuado como coordenadora.

Acredito que a criação do Centro Experimental de Jornalismo (CEJor), que é único nesse modelo nas escolas de Jornalismo, onde são oferecidas diversas oficinas, agências e projetos. É uma excelente oportunidade para os alunos, além das aulas, exercitarem jornalismo em diversas áreas. Acaba se tornando um portfólio para o aluno, desde o primeiro semestre do curso. Cerca de cem alunos participam no CEJor a cada semestre. O CEJor compreende: Agência de Jornalismo; oficina com programas de entrevistas em vídeo Linkados na Área; oficina de Fotojornalismo; reportagens de rádio e para a CBN; conteúdo sobre moda, no blog Pesponto em Pauta (pespontoempauta.com); notícias para o Portal de Jornalismo ESPM (jornalismosp. espm.edu.br); matérias para o blog De Olho na Carreira (deolhonacarreira.com); e reportagens para a revista Plural. Há também, um Laboratório de Formatos Híbridos em Jornalismo, uma Agência de Comunicação Corporativa (ComCorp), e um espaço para o Projeto de Jornalismo Empreendedor

(EmpreendaJor) – os alunos recebem orientações para criarem modelos de negócio em jornalismo. Os trabalhos podem entrar para a Incubadora de Negócios da ESPM.

 

Quais as competências desenvolvidas pelo curso?

Desenvolvemos as competências previstas pela ESPM, que são: autonomia, criatividade, fluência tecnológica e ética e responsabilidade.

 

Como o ensino de jornalismo no Brasil evoluiu nas últimas décadas e o que mudou no ensino de jornalismo desde a criação do curso na ESPM?

Acredito que os valores do jornalismo não mudaram, são perenes, e nosso norte é a sociedade. Mas as práticas mudaram muito. O jornalismo na sua fase inicial era voltado a produção de matéria impressas, pois só tínhamos jornais. Foi mudando quando foram chegando as novas mídias, como rádio e televisão. Com o advento da internet, no final do século passado, mais uma forte transformação ocorreu e atualmente temos um jornalismo produzido para diversas plataformas e ainda há uma convergência entre elas. Toda evolução dos meios trouxe modificações no ensino do jornalismo no que tange à parte prática. Acredito que muitas vezes sim, mas em contrapartida, o jornalismo tem demonstrado a cada dia sua importância, e a sociedade tem reconhecido. Durante a pandemia a força do jornalismo é tão grande e a prestação de serviços se tornou tão necessária para a população, o que resultou em um aumento de audiência dos jornais de uma forma geral. Isso demonstra que a sociedade vê a seriedade do trabalho do jornalista.

 

Para você, qual é o papel que o jornalista desempenha na luta contra o autoritarismo?

Acredito que papel do jornalista é muito importante para a democracia e seu trabalho também. A democracia precisa do jornalismo e o jornalismo depende do ambiente democrático para seu exercício. Portanto, qualquer forma de autoritarismo vai contra os princípios do jornalismo. Defendemos a liberdade de ideias e de pensamento.

 

Se você pudesse resumir a sua experiência como coordenadora de Jornalismo em algumas palavras, o que você diria?

Acho que é uma experiência enriquecedora e me traz muitas alegrias, principalmente quando vejo os resultados do nosso curso, a formação de excelência que oferecemos, a participação dos nossos professores, que se dedicam com tanta atenção para oferecer um curso de alto nível, a equipe técnica que colabora de forma tão eficaz com a produção jornalística de nossos alunos, os próprios discentes de todas as séries que têm desenvolvido produções de qualidade e engrandecido o curso, e com os nossos ex-alunos atuando com seriedade e propriedade nas diversas mídias, em empresas, em trabalhos autônomos, enfim se destacando sempre no mercado de trabalho..