O papel do Jornalismo e seu futuro pós-pandêmico

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Isabella Pscucci, Valentina Alayon, 3º. semestre

Em 2021, diante de todas as dificuldades de uma pandemia, o curso de Jornalismo da ESPM-SP completa dez anos. Mais do que nunca, a importância da profissão está se fazendo presente no Brasil e no mundo. A instituição procura formar um novo tipo de profissional, que tenha capacidade de se reinventar diante dos desafios. Segundo o diretor de jornalismo da TV Cultura e professor da ESPM-SP, Leão Serva, o futuro se conecta diretamente com o jornalista inteligente, que exerce a profissão em múltiplas plataformas, especificamente as que forem necessárias para o exercício da profissão.

Em um contexto de desinformação que há cerca de uma década vem crescendo, principalmente nas redes sociais, é importante que o jornalismo se reinvente para cumprir seu papel social. Segundo relatório Reuters Institute Digital News Report, de 2018, o Brasil, que na época vivia um período de eleições presidenciais, ficou em terceiro lugar no ranking de países que mais estão expostos a notícias falsas, perdendo apenas para a Turquia e para os Estados Unidos. Trinta e cinco por cento dos entrevistados confirmaram que consumiram ou consomem fake news. Ao mesmo tempo, no entanto, o relatório do ano seguinte mostrou que o país é o que mais teme e se preocupa com a disseminação desse tipo de informação.

Cristina Zahar, secretária-executiva da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), diz: “A questão da mentira sempre existiu, só que o alcance da internet hoje faz com que essa mentira circule muito mais rápido.” Uma pesquisa publicada em 2020, feita pelo Decode Pulse, indica que apenas em 2019, o Brasil teve cerca de 9 bilhões de cliques em notícias falsas. “Quando uma pessoa vê uma ‘notícia’ que confirma o viés dela, aquilo em que ela acredita, ela tende a espalhar, e a velocidade que a pessoa espalha a mentira é seis vezes maior do que espalha a verdade”, afirma Cristina.

A internet, especialmente as redes sociais, permitiram a universalização do acesso às informações. Minorias e setores que não possuíam canais de expressão nem força de representação apenas com as mídias tradicionais, passaram a ter. As mídias alternativas de jornalismo surgiram como uma forma de contemplar esses grupos e refletem a importância social do jornalismo atualmente. Por outro lado, a barreira de entrada para o mundo digital é única e exclusivamente o acesso à internet. A partir do momento que as pessoas conseguem ingressar no mundo digital, qualquer um consegue disseminar a informação que quiser.

É aí que entra a importância de um jornalismo sério e, mais do que isso, de um curso de Jornalismo que capacite os futuros profissionais a se adaptarem às mudanças de mídias e formatos da era digital, levando sempre em consideração os fundamentos da profissão. Segundo Cristina, é diferente você ter um blog ou um perfil em redes sociais, mesmo que você seja ativo e poste todo dia, pois aquilo não é uma apuração profissional, tendo em vista que a pessoa não ouviu mais de uma fonte, não cruzou informações, nem baixou base de dados. Para ela, o método jornalístico ainda é o mais importante.

Por outro lado, a tecnologia dentro do jornalismo também perpetua um papel importante na democratização da informação. Tendo em vista a desigualdade social no Brasil, poucas pessoas desfrutam da disponibilidade de adquirir a informação paga habitualmente, como jornais, revistas e canais da televisão fechada. Desse modo, os sites, os podcasts e afins que passam a informação gratuitamente têm um papel imprescindível.

Tudo isso só é possível por conta da aliança entre tecnologia e jornalismo, que se difundiram e buscam a cada dia mais inovação. O jornalismo tem como uma de suas principais características a atualidade. Notícias têm que ser atuais e ter relevância no contexto da sociedade em questão. Por isso, é de extrema importância que, na era digital, o jornalismo se utilize de toda tecnologia e plataformas digitais para uma melhor produção do conteúdo que será noticiado, um maior alcance e até mesmo engajamento de seu público.

Ellen Nogueira, diretora de Jornalismo da CNN Brasil, diz: “Hoje, não precisamos mais de caminhões para transmitir sinal para uma entrada ao vivo na TV. Podemos mandar fazer isso com um sinal de celular ou transmitir via redes sociais”.

Na pandemia, houve um aumento da audiência e da atenção do público em relação às notícias devido à Covid-19, chegando até a reatar o vínculo e o costume que muitas pessoas haviam perdido com o jornalismo. Muitas vezes esquecidos como trabalhadores essenciais durante o período de pandemia, diversos jornalistas se encontram na linha de frente do combate ao vírus, registrando a situação dos hospitais, dos cemitérios e o luto de milhares de famílias, divulgando ao público as evoluções da ciência sobre a vacina e fiscalizando a gestão dos governos estaduais e federal. Com isso, esses profissionais colocam suas vidas em risco diariamente para levar as informações necessárias à população, além de mobilizar e incentivar as pessoas a aderir às medidas de proteção indicadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Foi também no período de quarentena que o inédito consórcio de veículos de imprensa foi criado. Em junho de 2020, quatro meses após o início do isolamento no país, TV Globo, G1, GloboNews, O Globo, Extra, O Estado de S.Paulo, Folha de S.Paulo e UOL uniram suas apurações sobre os dados das Secretarias Estaduais de Saúde e também suas redações para divulgar dados fundamentais sobre a evolução da pandemia no Brasil, uma vez que o governo federal chegou a atrasar boletins sobre o vírus, como o número de mortes diárias, e a tirar informações do ar, dificultando o trabalho de cientistas e também a maneira como a população consegue entender o avanço da doença.

Para Ellen, o bom jornalismo é o que gera credibilidade e ouve sempre todos os lados, consegue espaço e cresce nessa época de fake news. Quando as pessoas precisam de uma informação segura, elas procuram os meios que sempre geram credibilidade e com jornalismo profissional. Diante do turbilhão de notícias que foram lançadas nas mídias tradicionais e digitais, portas também se abriram para a disseminação de desinformação, as fake news. Diante disso, a opinião da população muitas vezes se dividiu e, como consequência, o extremismo tomou conta de assuntos como a saúde pública, por exemplo.

Com isso, os ataques à liberdade de imprensa aumentaram consideravelmente no ano de 2020, chegando a ser o ano mais violento desde que a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) começou a fazer esse levantamento, há mais de 20 anos. Segundo o relatório Violência Contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil, ocorreram 428 casos de agressões à imprensa, mais do que o dobro em comparação a 2019. Para Leão Serva, o jornalismo deve agir com absoluta indignação diante de qualquer pequeno ataque à imprensa, deve chamar imediatamente os mais altos graus da defesa do Estado e da Constituição.

“Qualquer ataque à imprensa está sempreligado a ataques ao aparato democrático e constitucional, sem qualquer exceção. Um xingamento a um jornalista ou um ataque a um veículo ou agressões a conglomerados de mídia: todas essas atitudes são ataques à democracia (por mais que aleguem qualquer outra coisa) e como tal devem ser tratadas”, diz Leão. Para Ellen, o jornalismo deve mostrar sempre a realidade. Fazer jornalismo é mostrar os fatos. Nunca mudar essa missão, mesmo com ataques à imprensa.

Na última década, diversos episódios ao redor do globo tomaram proporções mundiais. Terremoto do Haiti, primeira mulher presidente do Brasil, 7 a 1 na Copa do Mundo, impeachment de Dilma Rousseff, guerra na Síria, casamento real, catedral de Notre Dame em chamas, entre outros marcos que entraram para a história, têm em comum as mídias que noticiaram suas decorrências. Foram os jornalistas, em jornais, sites, redes sociais, revistas, TVs e podcasts, que tornaram os eventos visíveis e noticiados à população.

Para Ellen, a maior mudança no jornalismo nos últimos dez anos foi a pandemia. “Mudou o mundo todo, a forma como encaramos a vida, o trabalho. E o jornalismo esteve muito mais presente na vida das pessoas.” Não é novidade que a pandemia trouxe mudanças para diversas áreas da sociedade, e com o jornalismo não foi diferente. A expectativa é que os profissionais integrem muitas dessas mudanças no seu dia a dia mesmo depois da crise passar. Um exemplo claro disso são entrevistas que foram facilitadas pelos aplicativos digitais. Ellen Nogueira afirma: “Já se tornou mais normal para o público ver entrevistas na TV gravadas por Skype ou ver analistas ou âncoras entrando de casa. Tudo isso é inovação e faz com que o jornalismo siga forte e útil durante a pandemia.”

A inovação e avanços constantes da tecnologia fazem com que os canais e interesses do público se modifiquem rápido. Para o futuro, o jornalista precisa entender como ser e continuar sendo relevante para a audiência que está sendo atingida, seja no formato que divulga a informação, no linguajar ou verificando a melhor plataforma para se noticiar.

Segundo o Instituto Verificador de Comunicação (IVC), dez dos grandes jornais brasileiros, incluindo Folha de

S.Paulo, O Globo e Correio Braziliense, tiveram uma queda brusca de 33% dos assinantes de seus respectivos jornais impressos, caindo de 654.144 de tiragem média diária, em 2018, para 437.969, em 2020. Por outro lado, no mundo dos jornais digitais, o número de assinantes subiu de 789.960 para 990.104, totalizando uma alta de 25,3%. Ou seja, os jornais têm cada vez mais assinantes para suas versões digitais e menos exemplares impressos. O que se modifica são os meios, mas o jornalismo continua existindo com a mesma importância, senão mais.

Em um mundo tão dinâmico e acelerado, o que é necessário em um jornalista do futuro é trazer à tona seu diferencial, e, para isso, é importante que sua formação não seja feita apenas de um currículo básico. Na ESPM, a inovação começa com a matriz curricular, que é atualizada constantemente, formada por professores que são referência em sua área de atuação, caracterizam um profissional diferente de todos os outros que se formam na mesma época. Ricardo Gandour, professor de Jornalismo da ESPM-SP, que já passou por grupos como O Estado de S. Paulo e CBN, declara: “A ESPM ter criado o curso de Jornalismo foi incrível porque cada vez mais o jornalista tem que entender como funciona o modelo de negócios, empreendimento, a área de marketing, a ativação de comunicação, mas também o eixo jornalístico que tem que ser independente, a ESPM tem no ambientemdela todas essas áreas.”