A luta de imigrantes por atendimento de saúde em São Paulo
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Gabi Bessa (1º semestre)
Com a Venezuela em crise, mais de 260 mil venezuelanos vieram para o Brasil nos últimos anos em busca de melhores condições de vida, de acordo com reportagem do G1 de dezembro de 2021. A maioria chega em terras brasileiras como refugiado ou com visto de turista, e muitos demoram para conseguir seus vistos permanentes. Por conta da situação precária em que eles se encontram, muitos não conseguem ter acesso à saúde de qualidade, nem por meio de planos de saúde, nem mesmo com as garantias de atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
De acordo com a legislação brasileira, qualquer pessoa que esteja em território nacional tem o direito de receber atendimento médico, de serviços como SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Emergência), UPA (Unidade de Pronto-Atendimento 24 horas) e hospitais, seja brasileiro, turista, refugiado, estrangeiro e com ou não CPF. No entanto, no dia a dia o atendimento fica prejudicado muitas vezes.
O auxiliar de cozinha Carlos Linarez e sua mãe e dona de casa Maria Linarez são venezuelanos que vivem no Brasil há cinco anos. Eles relataram dois casos que aconteceram com eles ao precisarem se consultar pelo SUS. No início do mês, Carlos estava com um abcesso na amígdala e recorreu a uma UPA, na Vila Mariana. Ele relata que, ao fazer sua ficha médica, a auxiliar do SUS disse que não era para ele estar no país dela e nem deveria utilizar da saúde pública, pois aquele local era apenas para brasileiros. “Como sou tímido, não tive coragem para falar nada para a mulher, nem ligar para a polícia”, conta.
Carlos afirma que ele era o único paciente com problemas respiratórios naquele momento, mas que seu atendimento estava demorando muito. Foram mais de 4 horas de espera. Como sua namorada é brasileira, ela tentou descobrir o que havia acontecido e, depois de algum tempo, Carlos descobriu que sua ficha tinha sido jogada fora. “Me senti triste ao saber que minha ficha médica havia sido jogada fora, ainda mais porque estava passando muito mal”, disse.
De acordo com a reportagem do G1, com a pandemia o número de estrangeiros aumentou muito no país e, com isso, acontecem cada vez mais casos de xenofobia. Um exemplo é o caso relatado em notícia publicada em agosto de 2018 no El País Brasil: na divisa do Brasil com a Venezuela brasileiros destruíram o acampamento de refugiados.
Maria Linarez passou por uma situação parecida com a de seu filho, em outra UPA, no Jabaquara. Ela conta que chegou ao hospital desmaiando de dor e de fraqueza, pois estava vomitando há muito tempo. A dona de casa ficou a madrugada toda para conseguir um atendimento e relata que ouvia os profissionais da saúde dizendo que não iriam atendê-la, pois aquele era um lugar para brasileiros e não para estrangeiros. “Minha família estava em desespero, pois eu não conseguia ser transferida de carro para algum hospital, mas também não era atendida”, explica Maria. A dona de casa relata que só foi conseguir um atendimento médico após sua filha, Francheska, ameaçar chamar a polícia e aparecer na UPA com uma assistente social. Após Maria ter sido atendida, descobriram que ela estava com um tumor no intestino. A família da dona de casa disse que iria tomar as devidas providências legais em relação a UPA.