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Festival 3i teve 40 horas de programação on-line sobre Jornalismo Digital. Veja a cobertura completa

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Textos e imagens: Bruna Bonato, Giovanna Massaro, Laura Galvão, Luíza Vezzá, Murilo Basso, Victória Cansian (1º semestre), Carolina Ciocci, Núbia Anjos (2º semestre) e Beatriz Voltani (3º semestre)

 

A quarta edição do Festival 3i, cujo tema é Jornalismo Inovador, Inspirador e Independente, aconteceu de 15 a 25 de março, no formato on-line e gratuito.

A mesa de abertura aconteceu no dia 15, às 15 horas, e contou com Natália Viana, organizadora do Festival 3i e diretora e co-criadora da Agência Pública de Jornalismo Investigativo, que conduziu o bate-papo com o tema “Jornalismo que surge no caos”, junto com o convidado John Lee, redator da revista The New Yorker e correspondente de guerra.

Ao decorrer do evento, John respondeu a diversas perguntas, cobrindo os principais assuntos da atualidade. Natália iniciou a conversa relembrando uma fala do convidado à revista Piauí no ano de 2016.Nunca houve uma época boa para ser jornalista, talvez agora seja a pior, as montanhas estão desabando, mas ao mesmo tempo coisas novas estão nascendo, disse John à revista. Em seguida relacionou o jornalismo contemporâneo com a revolução digital, ainda afirmando que pouco importa o veículo usado, porque a linguagem é a chave.

Lee é realista, mas diz ter passado também por sua fase pessimista. Ele diz que foi relutante em admitir informações do twitter e facebook como virtuosas e ressalta que não gosta da linguagem dos “likes e compartilhamentos”. Para ele, escolher o mundo real, independentemente da existência de tecnologias de ponta, sujar as mãos e ver os acontecimentos de perto é a melhor “escola de jornalismo” que existe.

Ao ser questionado sobre o “Jornalismo TikTok” e as publicações feitas na plataforma durante a guerra entre Rússia e Ucrânia, o jornalista alerta: “É importante perceber o que é um influencer e o que é um jornalista, é problemático que chamem um vídeo de 30 segundos de jornalismo.” Ele acredita ser uma modalidade superficial e muito focada nos sentimentos e impressões individuais de quem produz o conteúdo ao invés de apresentar fatos e conteúdos informativos.

Como correspondente de guerra, John fornece seu insight sobre os conflitos no continente europeu e suas previsões – não otimistas – para os próximos meses. “O mundo não será igual ao que era há um mês, o mundo estará pior e a beira de mais conflitos”, afirmou. Comentou, por fim, sobre a deterioração da democracia norte-americana.

A mesa

A mesa de bate-papo abriu o festival com o objetivo de discutir sobre o que o jornalismo contemporâneo está se tornando e o que existe além dele. Não é segredo que os meios de comunicação estão se modernizando cada vez mais, porém, isso pode ou não significar o aumento de produções jornalísticas de qualidade. Tudo depende do rumo que tomamos no presente. Essa é a reflexão que permeia os dez dias do evento.

Natália Viana é presidente da Associação de Jornalismo Digital (Ajor) e diretora da Agência Pública de jornalismo investigativo independente. Ela é jornalista há mais de 20 anos, autora e coautora de cinco livros, vencedora dos prêmios Vladimir Herzog (2005/2016/2020) Gabriel García Márquez (2016) e Ortega y Gasset (2020).

John Lee Anderson é norte-americano, mas iniciou sua carreira no Peru. Além de ser redator da revista The New Yorker, durante seus 43 anos de jornalismo trabalhou em diversas zonas de conflito, como Afeganistão, Iraque, Líbano, Síria, Somália, Sudão, Líbia, Libéria, Angola, Birmânia, Sri Lanka, El Salvador, Guatemala e Nicarágua. Também é autor e co-autor de mais de dez livros.

O Festival

A quarta edição do festival 3i – Jornalismo Inovador, Inspirador e Independente é um evento online, ao vivo e 100% gratuito. Foram dez dias – de 15 a 25 de março – com diálogos, painéis e grandes convidados. A programação também ficará gravada no canal do youtube “Festival 3i”. Saiba mais em: https://festival3i.org/festival/festival-3i-2022/.

 

VEJA AS DEMAIS COBERTURAS DO FESTIVAL

 

Das mídias de massa à massa de mídias

Na quarta-feira (16), aconteceu virtualmente uma palestra sobre o jornalismo quando retratado de forma midiática, atual, dentro do empreendedorismo gerando renda. A palestrante Janine Warner é pioneira em jornalismo digital e aprendizagem online. Seu trabalho com jornalistas e empresários a levou a lançar a SembraMedia no outono de 2015, sendo uma comunidade de 950 empreendedores da América Latina, Espanha e Estados Unidos.

 

Inicialmente, o tópico abordado por Janine foi sobre o potencial de aliados e como é importante ter parcerias jurídicas ou de financiadores que possam lidar com questões de segurança online, dentro do empreendedorismo jornalístico. A palestrante usou de exemplo uma parceria feita com sua comunidade, em 2016, atribuída por uma amiga chamada Elaine Dias, nascida em Cuba, que ao ganhar bolsa na Universidade de Harvard, criou meses depois um site o qual se denominava “Jornalismo de Bairro”. O site era especialmente focado em Cuba, e em questões ambientais na ilha natal de Elaine. Sua iniciativa foi de unir jornalistas que possam trazer ideias para os mesmos operarem, por exemplo, em organizações de mídias, quando se falta wifi por estarem instalados em uma ilha.

Durante a pandemia, sua pequena equipe teve um agravamento nesse sentido, o que fez com que ela fizesse uma parceria com outro site cubano, de nome “El Toque”. Os fundadores de ambos os sites, juntos, conseguiram criar algo muito interessante cobrindo, juntos, matérias de diferentes públicos. “Quando ainda era muito difícil ter um fotógrafo e um jornalista trabalhando juntos, de uma única equipe, logo no início da pandemia, as duas organizações decidiram unir forças e unir suas equipes, sem pensar muito em concorrência, criando matérias juntas”, explica Warner.

Isso ajudou, não só a manter a segurança das equipes e trazer mais notícias juntas recentes sobre a pandemia, mas conseguiram também que as organizações que fundaram, dessem mais financiamento para esses dois veículos por terem ficado impressionados com a iniciativa dessa união. “É preciso compartilhar a filosofia de que não devemos enxergar a todos como inimigos, pois temos muitos desafios para resolver nessa jornada e sempre precisaremos de aliados e aliadas. ´[…] eu de fato não enxergo os outros como concorrência, acho que se você faz algo bem feito, juntos podemos fazer melhor”, completa a palestrante.

A jornalista explica também sobre ter uma fonte lucrativa, e em como não se pode depender de uma única renda como unicamente rede de assinatura, ou um único doador. Isso pode nos tornar mais vulnerável do que se desenvolvermos dois, três ou até cinco fontes de receita. “Na nossa pesquisa, foi visto até 30 tipos de fonte, mas entre duas e cinco receitas para sua organização de imprensa, ajuda a superar momentos de desafios econômicos inesperados e a manter melhor a própria independência e a integridade jornalística, por não depender excessivamente de uma única receita”, disse Janine.

Os exemplos de fonte de renda online vieram em seguida, como um trabalho argentino inovador sendo o primeiro site de verificação de dados na região em espanhol, e desde então, ajudaram inúmeras pessoas a criar sites de verificação criando parcerias. Como uma organização independente, e digital, eles possuem um grupo diverso de fonte de receita, e no próprio site, é explicado que para garantir a sustentabilidade e independência, é preciso uma estratégia de receita, que no caso deles é diversificada. “Consiste no equilíbrio, ou na variedade de diferentes fontes de financiamento. Eles adicionam também quem são suas fontes e se mostram totalmente transparentes”, revela.

Outro exemplo seria a demonstração de todas as formas de como os veículos podem ganhar dinheiro para que o alcance de outros veículos seja necessário à compreensão de quais as melhores maneiras de ter receita. A palestrante diz que antes do seu negócio ser algo grande, com publicidades e os “ads” no Google, por exemplo, é preciso ter insistência e consistência com aquela mínima renda inicial, porque o jornalismo visual é um bom exemplo de algo caro, porém lucrativo ao decorrer do tempo.

Ao longo da palestra, Janine reforça a necessidade de ter alguém no meio do seu veículo jornalístico, que saiba profundamente sobre vendas, e relata a discrepância entre ter quatro bons profissionais em jornalismo, e três bons tanto quanto, mas incluindo um bom profissional em desenvolvimento comercial. Finalizando a palestra antes de abrir para as duas criteriosas perguntas, Janine Warner completa visando que não há segredo para o sucesso, o certo é sempre ir e fazer, “Just do it”.

Dos participantes online pelo Youtube, foi feito nos comentários o questionamento sobre quais os planos da jornalista no Brasil sobre esse tipo de renda. “Nosso trabalho no Brasil ainda é algo muito novo, mas nós estamos muitos animados em conseguir ajudar os nossos parceiros de imprensa como o “Marco Zero”, e ter essa ligação com os outros jornalistas nas comunidades que podem cobrir histórias e diversificar no sentido de região do país que cobrem”, responde.

O segundo teve ligação com a perspectiva de aumentar a oferta em português, pensando no desfoque geograficamente falando no Brasil. E se, os membros da SemberMedia já teriam embaixadores brasileiros no país. “Eu amaria contratar embaixadores de todos os estados do Brasil, e sei que muitos fariam e entrariam para a comunidade, fico feliz em saber por sinal. Mas escolhemos espanhol por eu ser fluente, assim como meus co-diretores, o que não nos deixa instigados com a complexidade brasileira de diversificação de mídia”, completa Warner. A jornalista disse também que sabe e pesquisou sobre organizações grandes e pequenas de mídias integradas no Brasil, e que no momento, há outras comunidades as quais conseguiriam cobrir com mais facilidades e recursos maiores um embaixador brasileiro.

Para finalizar, Janine Warner completa visando que não há segredo para o sucesso, o certo é sempre ir e fazer, “Just do it”.

 

Eliane Brum ressalta importância da Amazônia em conversa sobre seu último livro

Em participação no evento Festival 3i, Eliane Brum contou sobre a situação atual da Amazônia e seu livro mais recente: “Banzeiro Òkotó, uma viagem a Amazonia Centro do mundo”

 

Considerada a jornalista mais premiada da história do Brasil, Eliane Brum participou na quinta-feira (17) do evento online de jornalismo digital, o Festival 3i. Junto das entrevistadoras Ana Magalhães, representante da agência de jornalismo Repórter Brasil, e Maria Fernanda Ribeiro, representante da Agência Amazônia Real, Eliane afirmou que o tema de seu livro – Amazônia em posição de centro do mundo – não se trata apenas de uma posição geopolítica. Para a autora do livro, a floresta recebe esse título por conter o aquecimento global e conectar diferentes regiões através de sua transpiração, que gera em torno de 20 milhões de litros de água na atmosfera do planeta a cada 24h.

“O Brasil é a periferia da Amazônia. Sem a Amazônia, o Brasil não tem nenhuma relevância no cenário internacional”, afirma Eliane. Por isso, em suas falas, ela chama a atenção para diversos fatores atuais que atrapalham a preservação da floresta, como, por exemplo, a grilagem, atitudes governamentais e medidas tomadas que não levam o meio ambiente em consideração, como a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, que foi tema de conversa durante a live. A Usina é a maior hidrelétrica brasileira e fica na nascente do rio Xingu. Hoje, ela causa diversos problemas ambientais para as espécies de fauna e flora, além de criar e agravar problemas sociais para moradores da região.

A jornalista ressalta a importância de enxergar rios, plantas e animais como elementos que fazem parte da natureza, ao invés de tratá-los como recursos para obtenção de lucro. Para isso, ela afirma que é necessário ouvir pessoas que vivem em contato com a floresta, porque elas sabem como viver dentro do planeta sem destruí-lo. Segundo Eliane, a existência desses povos é outro motivo da Amazônia ser considerada o centro do mundo.

Em resposta à repórter Maria Fernanda Ribeiro, sobre como a jornalista enxergava o papel do jornalismo independente diante da situação de conflitos que existem na Amazônia, Eliane diz que a melhor cobertura da floresta vem do jornalismo independente, porém são as agências pequenas que necessitam de mais recursos e pessoas. Sobre a grande mídia, Eliane analisa que existe uma recente percepção sobre a centralidade da floresta, mas que ainda é preciso de muita cobertura e mais atenção aos problemas que giram em torno dela.

A autora finalizou sua participação no evento concluindo que é preciso criar outro tipo de linguagem humana, para isso, as pessoas têm que se transformar. “Não é como reconstruir a Europa do pós-guerra ou o Brasil do pós-ditadura. A gente tem que refundar um país e ao mesmo tempo lutar contra nossa própria extinção”, explica. Ela ainda completou dizendo que a crise climática atravessa todos os temas, portanto é preciso escutar diferentes fontes de informação. Além de cientistas, a jornalista diz que é necessário ouvir pensadores indígenas, filósofos e sociólogos.

 

Democratização digital como pauta do Festival 3i

A edição do Festival 3i foi recheada de assuntos abrangentes e no sábado (19) aconteceu a palestra “Se ninguém lê/vê/ouve, não existe: o foco na distribuição”, mediada por Felipe Speck, Diretor da Matinal Jornalismo, e contou com a participação de Ale Higareda, fundadora da Malvestida, Lorena Morgana, jornalista, e Ronaldo Matos, jornalista e co-fundador do portal Desenrola e Não me Enrola. Os convidados tiveram um momento para explanar o seu ramo de atuação e apresentar os projetos e empresas das quais fazem parte. Os principais assuntos abordados foram: diversidade, democratização da informação, produção de conteúdos jornalísticos nas periferias e favelas, inclusão digital e monetização dos conteúdos.

“O jornalismo digital no Brasil precisa trabalhar muito para conseguir desenvolver produtos e serviços para superar esse contexto das desigualdades digitais”, afirma Ronaldo, que trabalha no Território da Notícia, grupo que busca a solução para a distribuição de conteúdo jornalístico nas favelas. Para ele, os jornalistas precisam, hoje em dia, se dedicar a entender sobre a economia da atenção, estudando sobre o déficit de acesso à informação na atualidade e sua relação com o acesso precário à internet nas periferias, uma vez que 91% da população usa o aparelho celular como principal meio de consumo de informação e afirma que uma das consequências da desigualdade digital é a ineficácia da distribuição. Com o baixo impacto na audiência, a periodicidade de publicações de meios independentes de jornalismo é comprometida. Um exemplo do impacto na distribuição é o baixo alcance das hashtags de grupos minoritários, como moradores da periferia, pretos e indígenas, por mais que o conteúdo apresentado pela hashtag tenha importância no cenário nacional e estadual.

A palestrante Lorena Morgana, do time do Canal Reload, ressalta a importância da linguagem descomplicada como forma de democratizar a informação. O canal surgiu a partir de uma pesquisa realizada por dez organizações para entender a demanda de jovens conectados para o consumo de notícias. A pesquisa mostrou que a linguagem inacessível, a falta de representatividade e os tipos de formato desses conteúdos dificultavam na hora de consumir notícias. A partir disso, essas organizações passaram a produzir novos formatos de conteúdo jornalístico.

No fechamento da mesa, os convidados responderam perguntas dos telespectadores sobre a construção de estratégia de distribuição. Em concordância, os convidados aconselharam os estudantes a testarem diversas áreas de atuação, considerando os seus conteúdos como um centro de custo, para conseguir ter uma boa monetização de distribuição.

 

Jornalismo Tik Tok, memes e Gifs contra a desinformação

Na última segunda feira (21) ocorreu o sétimo dia de palestras do Festival 3i, quando diversos jornalistas e convidados abordaram pautas sobre jornalismo digital. Na palestra da tarde do Festival, o professor da ESPM André Deak foi o anfitrião da mesa sobre o futuro do jornalismo nas mídias digitais e as diversas dificuldades que a mídia tradicional está enfrentando ao tentar se comunicar com o público mais jovem.

A mais nova rede social do momento, o Tik Tok, abre espaço para questões importantes sobre os próximos passos dos meios jornalísticos e comunicação de informações. Um dos convidados do painel, Ian Alves, formado na Universidade de São Paulo (USP) e jornalista pela Folha de SP, falou sobre o seu trabalho final da faculdade a respeito do jornalismo no Tik Tok e, após muita pesquisa, mostrou dados interessantes sobre o tema. Segundo Ian, a rede social em ascensão está em quarto lugar das mais utilizadas do mundo, chegando a cerca de 1,6 bilhão de usuários mensais ativos, sendo que grande parte desse número são jovens nascidos entre 2000 e 2012.

Ian também disse que uma das maiores dificuldades dos jornalistas que tentam adentrar o mundo do Tik Tok é se adequar à linguagem e manter a função jornalística, pelo fato de a plataforma ter seu próprio algoritmo indecifrável e seu editor de vídeos pouco familiar. A imprensa tradicional, por não conseguir se adequar aos novos meios de comunicações acaba sendo deixada para trás quando o assunto são memes e o dialeto dos jovens. “Entretenimento e jornalismo são coisas que se completam e o Tik Tok está aí não só para provar isso, mas para fortalecer o nosso potencial de alcance como jornalistas e jornais”, comentou Ian Alves sobre as dificuldades da mídia tradicional.

Outro problema apresentado por Natalia Lujan, convidada internacional e sócia do projeto Distintas Latitudes, seria o algoritmo negativo do aplicativo que privilegia vídeos negativos, gerando uma manipulação da massa jovem e a disseminação de informações falsas, como autodiagnósticos de doenças mentais e informações errôneas. Segundo ela, é necessário se adequar e ser cauteloso com as hashtags utilizadas e algumas palavras-chave que podem acionar algum gatilho do algoritmo e acabar alavancando vídeos negativos que possuem as mesmas palavras e hashtags.

André Deak complementou dizendo que não só no Tik Tok, mas em diversas redes sociais, o algoritmo tende a promover vídeos que geram ansiedade e ódio, ainda questionando o fato de estarem alimentando esse algoritmo ao invés de combatê-lo.

Seguindo esse problema da desinformação, Natali Carvalho, única convidada negra do programa e desenvolvedora do jornal independente “Garimpo”, fez alguns questionamentos sobre a imparcialidade do jornalismo tradicional no Brasil. “Você, como jornalista, se uma pessoa está dizendo que está chovendo e a outra pessoa disse que não está, seu papel é abrir a janela e descobrir quem está falando a verdade”, disse Natali, sobre o papel do jornalista de combater a desinformação. Os memes segundo Natali são, além de entretenimento, educativos e noticiosos, portanto podem ser parciais.

Por conta dessas barreiras midiáticas do algoritmo, da desinformação e da dificuldade de adaptação, concluiu-se que a nova era de jornalistas terão que desenvolver diversas competências para superar todas as dificuldades e se adaptar ao novo meio, como as hashtags, memes e a habilidade para se comunicar com o público TikToker.

 

Fabiana Moraes fala da pauta como lugar de posicionamento

Na segunda-feira, 21 de março, no Festival 3i, Fabiana Moraes e Laércio Portela fizeram uma roda de conversa sobre a pauta como lugar de posicionamento, reflexão e re-humanização. Trouxeram explicações e dicas de como fazer uma produção jornalística que busque superar estereótipos e o senso comum.

Fabiana é jornalista, escritora e pesquisadora do Núcleo de Design e Comunicação da UFPE (NDC/UFPE) e foi entrevistada por Portela, editor e cofundador da Marco Zero Conteúdo. No diálogo, fizeram apresentação de recurso audiovisual com slides sobre os pontos principais das reflexões e apresentaram o livro escrito por Fabiana, “O nascimento de Joicy”.

A entrevistada, Fabiana Moraes, iniciou a apresentação falando da sua origem indígena e de suas vestimentas. Na sequência, explicou o porquê escrever sobre pauta e também sobre a subjetividade do jornalismo.

No diálogo trouxe assuntos sobre abordagem comum nas pautas e especialmente como eles podem reproduzir o machismo, racismo, classicismo, misoginia, da mesma forma que do outro lado da moeda pode-se reelaborar a visibilidade e humanidades, tornando a pauta como algo instrumental e não apenas como tema e assunto.

Fabiana retrata o jornalismo como atividade de humanidade, algo que pode ser aberto ao debate já que abre a reflexão do pensar e fazer, sobre as escolhas, como enquadramos, o que é dito e visto. Assim, critica os valores notícias que naturalmente visam a repercussão e a busca do extraordinário, o que fez com que as notícias se exotificassem quando se trata de algo diferente, ressaltando a outrofobia ou também se fechar em repercutir notícias sobre lugares com importância econômica.

Exemplificou essas ideias ao mostrar a capa da revista Times, ao retratar a África. Todas mostravam o aspecto da vida natural, sobre Aids e desgraças. E assim Fabiana fez perguntas que podem ser úteis ao montar uma pauta mais humanizada, como: “Esse continente produz turismo? Produz mentes criativas? Qual sua importância econômica? Como podemos mudar o enfoque e retratar?”.

A visão da entrevistada é de um jornalismo de criação com dimensão ativista, pensar os excludentes visando um jornalismo engajado e mais aberto ao diálogo, entendendo como nos aspectos mais subjetivos repousa o racismo, machismo e como tudo é naturalizado e essa subjetividade racializada, classista, outrofóbica, misógina é construída socialmente. Por isso sugere tornar a pauta como algo instrumental e não apenas como tema e assunto, reelaborando a visibilidade e humanidades.

Outro exemplo que Fabiana trouxe foi do movimento Black Lives Matter, que apesar de ter ocorrido nos Estados Unidos e retratar o racismo, com enfoque na morte de negros por policiais, teve muita repercussão na mídia brasileira, sendo que, quando acontece no Brasil, a matança continuada é naturalizada e pouco repercutida na própria mídia brasileira.

Para o final, ela fecha sua apresentação com o conceito de sensibilidade hacker, não no sentido de tecnologia e sim como o reposicionamento do jornalista na visão do mundo. Assim, a pauta é uma ferramenta hacker, não sendo necessário brigar ao ir “contra a maré”, apenas tomar a posição e trazer uma nova visão.

 

Esportes: diversificando o olhar e a cobertura

O painel sobre “Esportes: diversificando o olhar e a cobertura” do Festival 3i – Jornalismo Inspirador, Inovador e Independente, que ocorreu na terça, 22, trouxe três convidados à mesa. O jornalista esportivo Caê Vasconcelos, o idealizador do Verminosos por Futebol, Rafael Luís de Azevedo, e a narradora do Grupo Bandeirantes, Isabelly Morais, considerados símbolos na busca por diversificação no meio esportivo, participaram do debate, que contou com a mediação da representante da Associação de Jornalismo Digital (Ajor), Maia Fortes, e contemplou temáticas que vêm entrando em ascensão nos últimos anos.

Maia iniciou falando sobre a segmentação e menor visibilidade das mulheres nas coberturas e sobre como elas sempre ocuparam posições de menor prestígio dentro da transmissão esportiva, citando inclusive o excesso de “homens brancos velhos que comandavam os programas de maiores audiências”. Dentro desse paralelo, é nítido que o cenário atual é muito mais propício para mulheres, já que cada vez mais os veículos mostram interesse em tê-las na editoria de esporte, mas isso não significa que o machismo na área deixou de existir.

Isabelly Morais tem apenas 24 anos e é uma das pioneiras na narração feminina brasileira e conta como sempre foi difícil encontrar outras nos ambientes de trabalho externos (estádios e eventos) e internos (estúdios e redações). “Não estamos e nunca estivemos fazendo tempestade em copo d’água. Se o ambiente – da cobertura esportiva – estivesse aqui para todo mundo, os espaços de cobertura teriam uma diversidade bem grande, mas não tem”, lamenta. Quando o assunto são as críticas e os haters, Morais busca não se preocupar e ressalta que os narradores da TV costumam ser muito experientes, com anos de transmissões, enquanto ela e outras narradoras bem mais novas estão ocupando um espaço que foi historicamente dominado por homens mais velhos e com mais experiências em grandes eventos. “Se as meninas hoje assistem a um jogo e conseguem se imaginar narrando, já estamos fazendo muito”, completa.

Mas a necessidade de levar a diversidade para os ambientes de transmissão e redação esportiva não se limita somente à presença feminina. Caê Vasconcelos é homem trans, bissexual e da periferia da Zona Norte de São Paulo e tornou-se o primeiro trans a ocupar a bancada do Roda Viva, na TV Cultura. O jornalista conta que uma alternativa para diversificar a editoria do esporte é, antes de tudo, diversificar o ponto de vista e trazer pessoas diferentes, que não sejam “mais do mesmo”. Aliás, quando o assunto é futebol de mulheres, ele ressalta: “Futebol feminino é muito mais que futebol, é equidade. E, óbvio, é a luta contra o machismo, mas também estamos falando da luta contra o racismo e a homofobia, porque nossas principais atletas são negras, bi ou lésbicas”.

Outra temática indispensável quando o assunto são as coberturas esportivas é o efeito da “massificação da reportagem”, quando ocorre a produção de conteúdo exacerbado de um evento ou acontecimento. Rafael é fundador e diretor do Verminosos por Futebol, um produto jornalístico independente que foge desse padrão. Além de apresentar o seu site e outros projetos multiplataformas, ele conta o que seria o efeito da massificação na mídia moderna. O jornalista destaca a centralização nos grandes clubes do eixo Rio-São Paulo e como os meios de comunicação podem encontrar grandes histórias ao buscar olhar para outras equipes, federações e campeonatos.

O Verminosos produziu em 2019 o documentário “Aqui é Flamengo”, que mostra como os moradores do distrito de Flamengo, região isolada em Saboeiro, no Ceará, acompanharam a final da Libertadores da América, campeonato em que o time Flamengo foi campeão. Não é à toa que o local carrega o nome do time carioca. Além da terra de cor avermelhada, não é possível sintonizar emissoras de televisão cearenses, então a população acompanha os jogos e notícias pelos canais do Sudeste, o vínculo cultural de Flamengo é muito mais ligado a Rio de Janeiro e São Paulo do que com Fortaleza, por exemplo.

O longa-metragem também aborda o espectro social em que os residentes de lá se encontram. “Foi assim que um veículo independente, através de financiamentos, fez a cobertura da Libertadores, – um grande campeonato – sem ser banal e produzir matérias como o pouso do avião dos jogadores. Isso ocorreu muito”, completa.

O que se pode dizer é que o painel sobre a diversificação na cobertura de esporte do Festival 3i rendeu grandes discussões, com profissionais que são a personificação da diversidade. Ao final, os espectadores também tiveram a oportunidade de fazer perguntas. A live ficará salva no canal do Festival 3i, no Youtube.

 

“ECOLOGIA DO DESASTRE”: uma entrevista com Ailton Krenak

No dia 22 de março, o Festival 3i colocou em pauta diversos assuntos notáveis, entre eles, a “Ecologia do Desastre”. A palestra trouxe duas jornalistas entrevistadoras, a cofundadora e editora de conteúdo da agência Amazônia Real, Elaíze Farias, e a fundadora da produtora indígena Originárias Produções, Renata Machado Tupinambá. O entrevistado foi o ilustre Ailton Krenak, jornalista ativista em movimentos socioambientais e dos direitos indígenas. Isso possibilitou um espaço de fala para tais comunidades, abrangendo para um certo pessimismo sobre a relação do ser humano com a natureza.

Na abertura da palestra online, todos se apresentaram e deram início as perguntas sobre a problemática. Logo, Elaíze Farias questionou se o papel da imprensa continua elitista e preconceituosa igual era na época do jornalismo escrito, e se de alguma forma tentava criminalizar o direito dos povos indígenas. Ailton Krenak explicou que a tendência de criar fake news nos dias de hoje com intuito de tirar a credibilidade apenas comprova que a cobertura jornalística está comprometida com o capital, ou seja, atrás do interesse político e do interesse econômico. Além disso, acrescentou, como exemplo, o centrão – conjunto de oportunistas – que tinha como objetivo sabotar os direitos sociais inventando notícias falsas.

Ao meio da discussão, o assunto estendeu-se para a crise ambiental e climática. Assim, Renata Tupinambá contextualizou sobre o dia da água e sua importância, e indagou qual o lugar do jornalismo na ecologia do desastre.  O entrevistado explicou que atualmente o ser humano não opera do jeito que deveria, pois com a poluição do meio ambiente, principalmente da água, a impossibilita de suprir as demandas necessárias, como a produção agrícola e todos os outros suprimentos. Desse modo, quis dizer que o importante é olhar amplamente ao que está acontecendo ao redor do mundo e conscientizar-se que o ser humano depende da força da natureza e sem ela causaria sua própria extinção. E, finalizou dizendo “O oportunismo é uma ameaça ao ecossistema”.

Na conclusão, o foco mudou para a invasão do Brasil. Ailton Krenak relatou que tal invasão instaurou a violência colonial, que ainda persiste em diversas áreas da sociedade, como na literatura e comunicação. Dessa forma, encerrou a discussão dizendo que a informação independente está cada vez mais restrita e a comunicação um item pouco a pouco mais controlado e limitado.

 

Mesa do Festival 3i discute jornalismo comunitário na favela

A mesa “A periferia no centro, no centro da periferia”, que aconteceu na quinta-feira, dia 24 de março, reuniu diversos jornalistas periféricos para discutir pautas do jornalismo comunitário. A mesa contou com um grande número de pessoas, uma vez que o cenário da periferia é diversificado e múltiplo, existindo em todos os cantos do país e com configurações diferentes. Participaram da palestra Daniele Moura (da Rede da Maré), Alessandra Taveira (Escola de jornalismo Abaré), Caê Vasconcelos (Agência Mural),   Emerson Santos (O periférico), Joyce Cursino (Negritar Filmes e Produções), Jefferon Barbosa (Perifaconnection), Lia vianna (Favela em pauta), Michael Silva (Fala roça), Eduarda Nunes (Agencia retruco e Favela em pauta), Rene Silva (Voz das Comunidades) e Carla Siccos.

Dentre todas essas organizações, uma pauta recorrente é o jornalismo comunitário e hiperlocal, trazendo as realidades das periferias de maneiras plurais à mídia, e fugindo da representação comum das periferias como locais de violências e negativos, imagem muitas vezes pregada pelos meios midiáticos.

Para Jefferson Barbosa, do Periferiaconnection, é importante que o jornalismo independente e periférico não ocupe apenas espações no jornalismo hegemônico, mas crie espações que legitimem fontes de informações e comunicação não convencionais. Ainda sobre o tema do reconhecimento e criação de ambientes de jornalismo de favelas, Michel Silva ressalta a importância de colocar esse jornalismo com qualidade e profissionalidade, uma vez que raramente o conteúdo produzido nas periferias é reconhecido como profissional pelos meios jornalísticos.

“A gente representa mais de 8% da população brasileira, e mesmo assim a gente não tem a importância que devia ter, tanto na mídia tradicional quanto no estado brasileiro”, diz Daniele Moura. Um exemplo da falta de atenção dos órgãos públicos com as minorias, trazido por Caê Vasconcelos, é o déficit na contagem de dados que deviam ser feitos pelos órgãos responsáveis por essa tarefa, quando menciona que o dados sobre assassinatos de pessoas trans só existe (de modo pelo qual se sabe que o Brasil é o país que mais mata essas pessoas no mundo) por levantamentos da Associação Nacional de Travestis e Transexuais.

Outro assunto levantado pelos jornalistas foi a representação das favelas na mídia. “A mídia tradicional se importa mais em comunicar de forma pejorativa sobre o cotidiano da favela, coisa que nós não estamos interessados em fazer”, afirma Lia Vianna.

A mesa foi encerrada com falas de conscientização sobre a força do jornalismo da favela e mídia independente.

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