3º Seminário Internacional de Jornalismo discute tecnologia e interatividade
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Fotografia Panorâmica: Juca Borghi (2º semestre)
Giovanna Ruzene, Giullia Reggiolli, Juan Cuela e Milena Saiani (1º semestre)
Na terça-feira, 1° de outubro, ocorreu, na ESPM-SP, a 3° edição do Seminário Internacional de Jornalismo, em parceria com a Columbia University. O evento, no campus Álvaro Alvim, contou com a presença do professor e diretor de das Iniciativas Latino-Americanas da Columbia Journalism School, Ernest Sotomayor, que abriu o evento, além de jornalistas brasileiros reconhecidos internacionalmente e professores do curso.
Para Sotomayor, “o futuro do jornalismo é incerto devido, acima de tudo, às mudanças recentes, além da grande proliferação das mentiras” (popularmente conhecidas como fake news). Segundo ele, “todos os meios jornalísticos do mundo estão sendo atacados por governos, alegando que as notícias são falsas. Nós os intimidamos, porém não podemos ser intimidados, devemos analisar, perguntar e selecionar, mostrando ao povo verdade e transparência”.
Fotos: Ana Carolina Bilato, Gabriela Soares, Lua Cataldi, Luca Carloni, Malu Ogata e Pedro Trigo (2º semestre) e Enzo Almeida e Thais Fullmann (1º semestre)
Já a jornalista e professora da ESPM-SP, Cláudia Bredarioli, em sua intervenção, voltou o discurso à gestão de crise – principalmente, tecnológica – nas empresas de comunicação em tempos atuais. Para ela, o jornalismo precisa se adaptar mais ainda, com produtos mais criativos, como podcasts e novas narrativas, objetivando o combate à desinformação. Segundo Cláudia, “a ideia é que o jornalismo volte a perseguir suas próprias vocações, já que é um sustentáculo da democracia e do fortalecimento da cidadania”.
Na sequência, a mesa “Desafios do Jornalismo: novas formas de produzir, consumir e novos modelos de negócios” elucidou a plateia e debateu pontos importantes da profissão. Francisco Mesquita Neto, diretor-presidente do Grupo Estado, ressaltou o avanço da tecnologia e o surgimento das redes sociais como espaço a ser visto com atenção, já que afetou e vem ainda afetando diretamente o conteúdo jornalístico. Para ele, é preciso incorporar a tecnologia no dia a dia do jornalista e pensar as mudanças no processo de trabalho (rotina do profissional), sem perder o foco na qualidade jornalística. Como incentivo aos presentes, Francisco afirmou que “o risco é um copo cheio”, lembrando que não podemos ter medo das novidades que surgem a todo instante, devendo enfrentá-las.
Na mesma mesa, o presidente do grupo Bandeirantes de Comunicacão, João Carlos Saad, falou sobre a importância de se manter atualizado 24 horas por dia e o grande conhecimento da audiência atualmente, já que, antes, esta mesma audiência não dispunha de grandes recursos tecnológicos para buscar tantas informações. Completou sua fala ressaltando que a base e a essência do Jornalismo não mudam, apenas o modelo é que está mudando, e nós ainda não percebemos.
Felipe Recondo, sócio-fundador do Jota, cuja proposta é cobrir instituições públicas brasileiras sob a ótica do universo jurídico, quando teve a palavra, disse que as pessoas não se informam tanto mais apenas pelos jornais, pois, atualmente, as fontes são muitas. Segundo Felipe, sua equipe pensa constantemente em produzir algo novo para uma relação com o público totalmente direta. Um desafio constante, em sua opinião, é pensar em produzir algo que possa antever um assunto, além de permanecer em alta velocidade, já que todos estão inovando ao mesmo tempo.
Painel discute a importância do jornalismo de dados no cenário atual
Fotografia Panorâmica: Luca Carloni (2º semestre)
No auditório Castelo Branco, os jornalistas Alana Rizzo, Daniel Bramatti e Fabio Takahashi ressaltaram a importância dos dados no atual momento da profissão. A mediação foi do professor de jornalismo de dados da ESPM-SP, Ricardo Fotios.
Alana é consultora na Albright Stonebridge Group, e apresentou matérias assinadas por ela e coberturas em que foram utilizadas bases de dados na produção, entre elas quando atuou na Operação Sanguessuga, que investigou o desvio de dinheiro público na compra de ambulâncias. Como método, amparou-se na lei de acesso à informação. “Ela (a lei) foi transformadora e é outra ferramenta fundamental e empoderadora para os jornalistas”.
O editor do Estadão Dados, Daniel Bramatti, apresentou a relação do método científico com o fazer jornalístico. Suas matérias de destaque incluem a cobertura da eleição de 2018 e dados de corrupção no sistema de financiamento estudantil do governo (FIES).
Já Fabio Takahashi, editor do DeltaFolha, núcleo de jornalismo de dados do jornal Folha de S. Paulo, explicou sobre o produto: “trabalhamos para transformar grandes bases de dados em produtos jornalísticos, com uma equipe multidisciplinar e profissionais de diversas áreas que ajudam na produção”.
Fotos: Ana Carolina Bilato, Gabriela Soares e Luca Carloni (2º semestre) e Thaís Fullmann (1º semestre)
Mesa discute novas formas de interatividade com o público no jornalismo
Fotografia Panorâmica e montagem: Erivam de Oliveira
O tema do segundo painel da tarde foi a interatividade dos jornalistas com o público. Participaram do debate Fabíola Cidral, locutora da Rádio CBN, Murilo Garavello, diretor de conteúdo do UOL, e Renato Franzini, editor-chefe do G1. A mediação ficou por conta de Antônio Rocha Filho, professor de Jornalismo da ESPM-SP.
Murilo começou seu discurso falando sobre a seção de comentários do UOL. O site recebe mais de 420 mil comentários por mês, destes, 85% são moderados por inteligência artificial, que aprova ou reprova a exibição dos comentários nas páginas, caso violem as regras.
Murilo enfatizou que se obtém muito mais interatividade nas redes sociais. O UOL possui, no Instagram, 18 contas que representam os canais do portal. Cada uma possui maneiras diferentes de interagir com os usuários; o perfil principal (@uoloficial), por exemplo, estimula os seguidores a publicarem fotos do dia a dia utilizando a hashtag #VcNoUol, e a equipe responsável seleciona algumas para republicá-las na ferramenta Stories da rede social. Os seguidores também podem colaborar com o jornal enviando textos e fotos por meio de mensagem direta. No Facebook, o UOL conta com grupos para discussão de temas específicos, como a doença de Alzheimer.
Em seu discurso, Fabíola afirmou que o rádio é o meio de comunicação mais íntimo das pessoas, e que elas ainda buscam por contato físico, embora a imprensa não se preocupe tanto com isso. Os ouvintes da rádio CBN contribuem com as pautas pelo WhatsApp, que recebe um grande fluxo de mensagens e, por isso, elas são apuradas por outra pessoa enquanto a locutora apresenta o programa.
Para ela, o jornalista deve ter maturidade para lidar com a interatividade. Ela destacou ainda que a participação por e-mail possui usualmente um conteúdo mais complexo; pelo Twitter, mais político; e pelo Instagram, mais leve. A emissora ainda recebe cartas dos ouvintes, porém não possui mais uma linha de telefone, por ter se tornado obsoleta.
Renato aproveitou a menção de Fabíola às cartas para falar sobre sua experiência no extinto Notícias Populares, em 1994. Para analisar a reação dos leitores às notícias veiculadas, ele utilizava as cartas recebidas o número de exemplares vendidos. Dessa forma, Renato percebeu que capas bem construídas vendiam mais do que capas mal construídas.
Com a modernidade, tornou-se muito mais fácil fazer essa análise. O G1 possui uma ferramenta que mostra, em %, até que ponto as pessoas leram as matérias; geralmente, as pessoas leem apenas o título. O jornalista também possui acesso ao número exato de pessoas que acessaram as notícias pelo celular – esse número saltou de 4% nas eleições de 2012 para 77% nas eleições de 2018.
Renato falou sobre os meios de interatividade existentes no G1, como o Vc no G1, na qual os leitores auxiliam diretamente na construção de pautas relacionadas ao cotidiano, e o Fale com o G1, que serve para comunicação de erros e sugestão de pautas no geral. O WhatsApp também é muito utilizado para construir pautas relacionadas aos telejornais de cada região do país e para que os leitores contribuam no Fato ou Fake, serviço de checagem de fatos do portal.
Fotos: Malu Ogata (2º semestre) e Enzo Almeida (1º semestre)
Bastidores
Fotos: Enzo Almeida (1º semestre) e Pedro Trigo (2º semestre)