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Arnaldo Baptista, ex-Mutantes, fala sobre pintura no SESC Vila Mariana

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“Acho a música mais difícil que a pintura”, confessa o ex-integrante do trio mais famoso do Tropicalismo. Foto: Mariana Vianna/ divulgação

 

Arnaldo Dias Baptista é mais conhecido por seu trabalho em Os Mutantes, quando dividia o palco com seu irmão, Sérgio Dias, e com Rita Lee. Um acidente em 1982 gerou uma maior dedicação de um lado do músico que, até então, poucos conheciam: o pintor.

O SESC Vila Mariana recebe, até novembro, a exposição Ateliê dos Músicos, que traz obras de quem é famoso apenas pela música, quando não é só ela que sabem fazer. A mostra reúne os trabalhos dele e de Cibelle, Tulipa Ruiz, Karina Buhr e Kiko Dinucci.

Nascido em São Paulo, Arnaldo, além de cantor, compositor e artista plástico, já escreveu um livro e tem um documentário sobre sua vida. Hoje, com 65 anos, divide seu tempo entre a música, a pintura e o amor incondicional por Lucinha, sua mulher.

Confira os principais trechos da entrevista que Arnaldo concedeu ao Portal de Jornalismo da ESPM-SP.

Portal de Jornalismo ESPM – Quando você começou a pintar?

Arnaldo Baptista – Na verdade, sempre desenhei. Sempre tive uma vocação para pintura, mas não tinha lugar em casa para praticar. No começo da minha carreira musical, eu até fazia alguns desenhos, mas pintar quadros, não.

PJ ESPM – Como foi, então, o início da pintura profissional?

AB – A Lucinha me proporcionou isso. Quando estava em convalescença no hospital, ficava muito tempo parado na cama. Ela me levava papéis e pincéis. Depois, quando fui melhorando, continuei pintando. Foi assim que comecei a me dedicar mais às artes plásticas. A Lucinha me motivou dessa forma. E é assim até hoje; e isso é lindo.

PJ ESPM – Sua mulher é o seu maior incentivo?

AB – Com certeza. Mas acho também que minha casa me favorece bastante. Às vezes me sinto meio marginalizado no mundo. Na minha casa, no meu ateliê, me sinto diferente. O ambiente tem a minha arte. Acaba influenciando minha criatividade.

PJ ESPM – O que você pinta?

AB – Uma espécie de surrealismo. Algumas vezes meus quadros têm a ver com algo de fora da terra. Penso no sentido de estar vivendo em um satélite, que nem esse filme que estreou agora, Elysium. Às vezes, penso que sou assim em relação à humanidade. Eu pinto o que me vem na cabeça. O que eu coloco no quadro é o que me dá mais inspiração para continuar. E cada dia tenho uma inspiração diferente.

PJ ESPM – Quais os elementos que você usa em seus quadros?

AB – Uso bastante a tinta glitter, que parece purpurina. Gosto de brilho, cores e texturas. Costumo fazer outra coisa também, um tipo de reciclagem. Se eu vejo algo jogado no chão que me dá alguma inspiração, eu pego e grudo na tela. Com isso, dou uma evolução diferente para os quadros.

PJ ESPM – Você ficou muito conhecido com seu trabalho musical, principalmente na época d’Os Mutantes. Existe alguma relação entre a música e a pintura?

AB – Difícil pensar dessa maneira, mas talvez tenha sido assim. Meu nome é mais conhecido na música. Minha arte musical pode ter auxiliado a pintura. Acho a música mais difícil que a pintura. A pintura não é dividida em facetas que nem a música. Fico feliz em ter essas duas artes em minha vida.

PJ ESPM – Como divide seu tempo entre essas duas artes?

AB – Quando estou em minha casa em Juiz de Fora, me dedico mais à música, porque é lá que tenho meu estúdio e todos meus instrumentos. Longe de lá, tenho mais tempo para a pintura. Pinto todo dia, mas não esqueço a música. Dou muito valor ao estudo musical. Um pintor pode parar de pintar durante muito tempo e voltar a pintar, às vezes, até melhor. O músico, não. Ele perde a técnica. Por isso, estudo diariamente.

PJ ESPM – Seu pai, César Dias Baptista, era poeta e jornalista. Sua mãe, Clarisse Leite Dias Baptista, pianista. Houve alguma influência em sua infância?

AB – Bem pensado. Como disse, gosto muito de estudar a música. Sou autodidata. Minha mãe estudava tocando. E eu ia decorando os concertos. Alguns deles consigo tocar só por ter ouvido. Foi assim que comecei a tocar.

PJ ESPM – Em 2008, foi lançado o documentário Loki!, que retrata sua vida e sua obra. Qual a importância desse longa-metragem?

AB – O Lóki! foi muito importante. Foi lançado em uma fase da minha carreira que eu estava em exploração, em aventura, experiência.

PJ ESPM – Você já foi à exposição Ateliê dos Músicos, no SESC Vila Mariana?

AB – Sim. Inclusive, fiz um show lá. Achei muito interessante porque, de certa forma, compartilhei minha existência como artista plástico e pude mesclar minha música, apresentada em meu show, com a minha pintura, presente na exposição.

PJ ESPM – Essa é a melhor forma de divulgar seu trabalho artístico?

AB – Tenho a impressão que sim. A exposição tem relação com museu. No futuro, daqui uns mil anos, talvez meu quadro faça parte do museu.

PJ ESPM – Do futuro para o passado. Se pudesse voltar no tempo, para que ano gostaria de voltar?

AB – Boa pergunta. Acho que para os anos 1960, quando Os Mutantes começaram.

PJ ESPM – O que vem em primeiro lugar: a música ou a pintura?

AB – Minha menina (diz referindo-se à mulher, Lucinha, cujos risos podem ser ouvidos ao fundo).

 

SERVIÇO
Ateliê dos Músicos
Até 17 de novembro
SESC Vila Mariana: Rua Pelotas, 141 – São Paulo
Terças, Quartas, Quintas e Sextas das 07h às 21h30
Sábados e Domingos das 09h às 18h30

 

Thiago Montero (4° semestre)