Jornalismo contra a proliferação de conteúdo falso
Compartilhar
Theo Fava – 4º semestre de Jornalismo
“A mentira é mais sexy do que a verdade”, diz Sérgio Ludtke, editor do Projeto Comprova. A iniciativa de Ludtke reúne jornalistas de 43 veículos de comunicação e faz a verificação de conteúdos duvidosos que surgem na internet sobre os assuntos mais importantes, como as eleições e a pandemia da Covid-19. Para ele, as mentiras disseminadas têm muito mais potencial do que as notícias verdadeiras, pois dependem apenas da imaginação do criador, e não de um processo árduo de apuração. Nesse sentido, é preciso que as ferramentas de checagem sejam, até certo ponto, atrativas, para poder competir com as narrativas não verdadeiras que chamam tanto a atenção dos internautas.
Além disso, Ludtke afirma que a desinformação pode ter diversas aparências, o que dificulta o processo de identificá-las e de desmenti-las. “Nós temos tratado ‘desinformação’ como um termo guarda-chuva, em que cabem várias coisas”, comenta. As fake news podem, por exemplo, ser passadas por meio de postagens satíricas que, na maioria dos casos, não têm a intenção de desinformar, mas acabam acidentalmente confundindo os leitores. Ainda mais, é possível que certos conteúdos usufruam de acontecimentos verídicos, porém de forma distorcida e enganosa. Para exemplificar esta situação, Ludtke reflete: “Se alguém publica uma notícia de que um jovem morreu em uma determinada cidade e que ele tomou 15 dias antes a vacina contra a Covid, a justaposição desses acontecimentos leva a entender de que a causa do falecimento é a vacina, embora não haja essa relação”.
Com a inovação do 5G representando um enorme acontecimento na telecomunicação, a implementação da tecnologia é acompanhada de uma série de mentiras e desinformações, que ferem a imagem do novo avanço, sem nem sequer se tratarem de fatos reais. Muitas dessas mentiras são baseadas num hábito de formar teorias da conspiração, que tem dominado as redes sociais desde que a internet se universalizou na sociedade contemporânea. Existem diversas páginas no Twitter e no Facebook que são dedicadas a espalhar estas teorias pelo espaço digital, e por conta da natureza sensacionalista destas desinformações, elas têm a capacidade de se dispersar pela internet muito facilmente.
As inúmeras fake news que surgem em torno do 5G já são problemáticas na medida em que confundem a população e a mantém isolada do que realmente está acontecendo ao seu redor. As consequências dessas mentiras, no entanto, podem acarretar riscos à segurança pública e ao desenvolvimento social. Em 2020, por exemplo, houve mais de 100 ataques e vandalismos a mastros de telecomunicações ao redor da Europa, devido a uma falsa conexão que havia sido estabelecida entre a radiação do 5G e o vírus da Covid-19.
Para ajudar a diferenciar as verdades das mentiras sobre o 5G, a revista Plural decidiu abrir um espaço descontraído para checar e apurar as afirmações mais comuns a respeito da nova tecnologia. O famosíssimo personagem Pinóquio, criado por Carlo Collodi, será o mascote desta parte, por ter sua imagem universalmente associada à mentira. Funciona da seguinte forma: se a afirmação for verdadeira, o nariz do Pinóquio NÃO CRESCE, no entanto se a afirmação for mentira, ele CRESCE. Caso a informação seja parcialmente verdadeira, mas estiver distorcida ou faltando contexto, o nariz do Pinóquio CRESCE UM POUQUINHO.
Vamos à checagem!
A RADIAÇÃO DO 5G CAUSA CÂNCER OU COVID-19 [CRESCE]
A ideia de que radiação pode causar câncer está fortemente presente no senso comum das pessoas. A relação que se faz entre esses dois conceitos, no entanto, só é verdadeira quando se trata de radiação ionizante, que é quando a radiação tem a capacidade de arrancar elétrons das moléculas. A radiação que o 5G gera, no entanto, não é ionizante e, portanto não tem a capacidade de causar câncer, de acordo com a Cancer Research UK. Já no caso da Covid-19, não existe nenhuma relação biológica comprovada entre o 5G e o vírus.
A CHINA QUER USAR O 5G PARA ESPIONAR NO BRASIL [CRESCE]
Segundo Fausto Godoy, coordenador do Centro de Estudos das Civilizações da Ásia da ESPM, existem vários fatores que derrubam essa narrativa das teorias de conspiração. Primeiramente, o Brasil não tem forte relevância no cenário geopolítico e portanto, não interessaria aos grupos de espionagem da China. Além disso, as empresas chinesas que estão envolvidas na implementação do 5G em cidades do Brasil são privadas, e apesar de terem laços com o governo, não são estatais.
(FONTE: Fausto Godoy, coordenador do Centro de Estudos das Civilizações da Ásia)
O 5G VAI COLOCAR A SEGURANÇA DE TODOS OS DISPOSITIVOS EM RISCO [CRESCE UM POUQUINHO]
Por se tratar de uma tecnologia que contém uma banda mais larga, conecta mais pessoas ao mesmo tempo, e aumenta a velocidade das informações, o 5G pode, sim, deixar os dispositivos mais vulneráveis a ataques. O gerente de projetos da empresa de telecomunicação Speedcast, Erico Approbato, diz que apesar de aumentar a vulnerabilidade, a responsabilidade sobre a cibersegurança é, também, do usuário. Portanto, é importante que qualquer pessoa tenha senhas complexas e mais de um fator de autenticação, independentemente da geração telecomunicativa.
(FONTE: Erico Approbato, gerente de projetos da Speedcast)
O 5G PODE DIMINUIR O CUSTO DA ENERGIA [NÃO CRESCE]
É de se esperar que a nova tecnologia 5G aumente não só a velocidade de conexão dos usuários e forneça uma cobertura mais ampla e eficiente, mas que também reduza o alto consumo de energia da nossa sociedade. As redes 5G prometem usar 90% menos energia do que as redes usadas anteriormente, o que por sua vez tem o efeito de reduzir custos futuros, sendo mais verdes e sustentáveis. (veja mais detalhes na pág. 28).
(FONTE: Márcio Kanamaru, sócio da empresa de energia KPMG)