ESPM-SP comemora Dia Mundial da Liberdade de Imprensa com presença de jornalistas
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“Nenhuma outra liberdade existe sem a liberdade de informação”, disse Audálio Dantas. Em comemoração ao Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, 3 de maio, a Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) promoveu uma palestra com três jornalistas que expuseram opiniões e relataram suas vivências profissionais.
O professor José Coelho Sobrinho, coordenador do curso de Jornalismo da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, argumentou que, à época da ditadura militar no Brasil (1964-1985), a censura estava disseminada, mas todos sabiam onde “estava”. Segundo Coelho, hoje, a censura continua existindo, porém espalhada em todos os locais.
Audálio Dantas, diretor-executivo da revista Negócios da Comunicação, ressaltou alguns pontos que considera importantes quando a liberdade de hoje é comparada à da época da ditadura. “No Brasil, aqueles que hoje mais gritam por liberdade de imprensa foram coniventes com a ditadura militar”, criticou, dizendo, ainda, que a maioria conspirou e silenciou sobre os crimes que ela cometia. O jornalista ressaltou que, historicamente, houve pouca liberdade de informação no país, e que por isso a imprensa partidária se aproveitava de descuidos para se apropriar das informações importantes. E, ainda assim, os jornalistas não diziam o que queriam claramente; todo conteúdo era abordado com cuidado, nas entrelinhas, para não chamar a atenção da censura. “Quem detém o poder da mídia é justamente quem pode censurar. Ainda hoje, existe censura e as notícias são dadas conforme os interesses dos mais poderosos. Por isso a liberdade é muito relativa”, analisou Dantas.
Audálio comentou que quem censura, na atualidade, é o poder Judiciário, por meio das leis; diferentemente da época da ditadura. O jornalista Thiago Herdy, repórter do jornal O Globo, disse que os processos judiciais são o meio mais democrático e correto para a resolução de problemas. “Contudo, há ações que visam a inibir o jornalista”, ressaltou.
Coelho e Dantas citaram Vladimir Herzog em suas declarações; já Herdy falou sobre a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e sobre a importância da internet para a liberdade. “A internet possibilita que a informação seja mais disseminada e não apenas fique ‘presa’ aos grandes jornais”.
Os três jornalistas fizeram questão de difundir entre os alunos que jornalismo é brigar pelo interesse público, direito fundamental do cidadão. “As informações devem virar notícia, que nada mais é do que agregar valor à informação”, enfatizou Coelho.
Após a palestra, os jornalistas responderam às perguntas dos alunos que questionaram sobre a não obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão, o Conselho Nacional de Jornalismo e como era o trabalho da imprensa sob censura.
Giovanna Mazzeo (1º semestre)
Não ver, não ouvir, não falar
As figuras dos três macacos que não olham, não veem e não ouvem foi amplamente difundida no mundo, especialmente no século XX, marcado por ditaduras tanto na Europa quanto nas Américas.
O símbolo, que tem origem oriental, reflete a crença de que não se deve ouvir, falar ou dar olhos ao mal. Foi a partir dessa ideia que os três participantes da palestra sobre o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa foram fotografados. O objetivo dos retratos, entretanto, foi oposto ao da alegoria original.
O jornalista deve estar com os olhos abertos para ver, os ouvidos atentos para ouvir e sempre disposto a falar e denunciar os males que acometem a sociedade em que vive. Essa é uma das nobrezas do fazer jornalístico e a forma como os três palestrantes fizeram e continuam fazendo em suas carreiras.
Durante a ditatura militar brasileira, Audálio Dantas e José Coelho Sobrinho tiveram reportagens censuradas. Tiago Herdy, o mais jovem dos três, não sofreu com a ditadura, porém sempre teve que lutar por matérias que algumas vezes incomodam empresas e corporações.
Para o professor José Coelho Sobrinho, coordenador do curso de Jornalismo da ECA/USP, a censura é uma das situações mais humilhantes por que pode passar um jornalista. “Você fez alguma coisa que sabe que é verdadeira, que é correta, que é importante para sociedade e que está de acordo com sua consciência e alguém vem dizer que tudo aquilo não vai ser publicado porque é contrário a preceitos que não são seus”, argumentou.
Guilherme Santana (2º semestre)
Audálio Dantas, diretor executivo da revista Negócios da Comunicação, também teve que conviver com a censura durante a ditadura militar no Brasil. “A censura é um instrumento tipicamente ditatorial e, sendo um instrumento de força, você se sente impotente porque é um poder que você não pode enfrentar. Isso dá, primeiro, esse sentimento de raiva e, depois, a certeza de que você está sendo traído na sua obrigação de informar”, afirmou.
Tatiani Rigotti (2º semestre)
Thiago Herdy, repórter do jornal O Globo, em São Paulo, não conviveu com a ditadura nem com a censura. “Não acho que fui censurado ainda porque sempre briguei muito pelas minhas matérias, colocando o interesse público em primeiro lugar, buscando levar para o jornal as matérias que seguem essa linha. Se a censura acontecesse comigo, eu me sentiria muito mal, seria mais um motivo para brigar”, ponderou.
Pedro do Amaral (2º semestre)
Liberdade de imprensa é sempre um tema atual e necessário ao meio jornalístico. Lembrar-nos do tempo histórico e conturbado que configurou a ditadura militar, na perspectiva da nossa profissão, é não deixar cair no esquecimento a memória daqueles que enfrentaram os anos de chumbo e, em alguns casos, doaram a própria vida em nome da paixão pelo jornalismo. Os organizadores do evento e os alunos que realizaram a cobertura estão de parabéns.