Locais mal assombrados de São Paulo guardam histórias e lendas urbanas da cidade
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DAPHNE RUIVO | ISABELA GIUGNO NEVES | TALITHA ADDE
»»»Calafrios e barulhos inexplicáveis. Medo. Sustos. As histórias surpreendentes. Loiras sedutoras e assassinas, locais mal assombrados em que vagam fantasmas, o homem do saco e ladrões de órgãos.
Locais supostamente mal assombrados, como a Capela dos Aflitos, próxima à Praça da Liberdade, e lendas urbanas apavoram paulistanos, às vezes remetendo a crimes bárbaros, às vezes inventadas por jornais populares.
Para verificar de perto essas histórias, a equipe da Plural visitou três lugares com fama de mal assombrados na capital e conta algumas das principais lendas urbanas que povoam o imaginário dos paulistanos. As histórias são reais ou não? Isso vai da cabeça de cada um. “Quando você está sozinha e tem medo, até a própria sombra é assombração”, diz Toshiko Kimura, gerente da loja Ikesaki, na Liberdade (centro). Carmem Silva Freitas, também gerente da loja, concorda: “São historias que o povo conta. Eu só acredito no que vejo”.
Edifício Joelma
Na manhã da sexta-feira, 1o de fevereiro de 1974, um incêndio tomou conta do Edifício Joelma. As investigações apontam que o acidente foi causado por um curto-circuito no ar condicionado.
Cerca de 180 pessoas morreram asfixiadas e 300 ficaram feridas, mas o acontecimento mais marcante foi o das 13 pessoas que, após tentarem escapar por um elevador, morreram carbonizadas. Não identificadas, pois na época não era possível realizar análise de DNA, elas foram enterradas lado a lado no Cemitério São Pedro, bairro da Vila Alpina (zona sudeste).
Até policiais que trabalham na região confirmam as histórias envolvendo assombrações no local. Segundo o sargento Freire, da Polícia Militar, portas de elevadores abrem sem serem acionadas e gritos são escutados durante a noite. “Já me contaram que, durante a noite, pessoas escutam barulhos de correntes sendo arrastadas pelos corredores.”
Por causa do assédio da imprensa, o dono do prédio foi obrigado a mudar o nome do local para Edifício Praça da Bandeira.
Capela dos Aflitos
A Capela dos Aflitos está situada na rua dos Estudantes, entre a rua Galvão Bueno e a rua da Glória, na Liberdade. Antes dela ser construída, existia no mesmo lugar o Cemitério dos Aflitos, o primeiro da cidade de São Paulo. Em 1858 ele foi desativado por conta do surgimento do Cemitério da Consolação.
Ao lado da capela, há a loja de cosméticos Ikesaki, também com fama de assombrada. Reginaldo dos Santos, segurança do estabelecimento, confirma as histórias. “Uma vez eu estava no fechamento, entre 21h e 22h, fui apagar as luzes e ouvi barulho de tamanco de mulher e, quando fui ver, não era ninguém”, conta.
Funcionários do local dizem nunca ter visto nada, mas o clima de medo parece pairar sobre a loja.
Casa da Dona Yaya
Sofrimentos, gritos e choros faziam parte da vida de Sebastiana de Mello Freire. Conhecida popularmente como Dona Yaya, dos 13 aos 18 anos ela ficou órfã de pai, mãe e irmãos. O peso de tantas perdas a fez enlouquecer.
Em 1925, foi isolada em uma casa no bairro do Bixiga, em São Paulo, onde todos os cômodos foram alterados para que Yaya não se ferisse. O banheiro não tinha registro, sua cama era chumbada ao chão e seus aposentos tinham janelas para que os enfermeiros pudessem vigiá-la a todo momento.
Após 36 anos isolada na casa, faleceu em 1961, no Hospital São Camilo. A residência, hoje aberta à visitação, tem um ar sinistro. Ainda dizem que durante a noite o fantasma de Dona Yaya aparece na janela do quarto. Laércio Silva, vendedor de móveis da loja que fica em frente à casa, afirma que existe um porão mal assombrado, em que acredita que prendiam Dona Yaya por causa do dinheiro de sua família.
“É legal pensar em como essa história foi se espalhando pelas pessoas, tanto as ‘histórias da louca’ como a história da casa mal assombrada, porque virou uma lenda”, diz Carla Teodoro, estagiária da USP, que hoje preserva o local.
Lendas Urbanas
A Loira do banheiro
Para aqueles que gostam de matar aula, cuidado! Reza a lenda que uma aluna loira e bonita, que morreu no banheiro de uma escola, aparece nos corredores dos colégios assustando aqueles que não assistem aula. A loira está sempre com algodão saindo de suas feridas, nariz, olhos e ouvidos.
Há quem diga que pode invocá-la, dando descarga três vezes, depois chutando o vaso uma vez e por fim virando-se rapidamente para o espelho. Essa história é popular no Brasil, nos Estados Unidos e na Europa.
Homem do saco
Dizem as mães aos filhos malcriados que, ao sair para brincar sozinhos na rua, um velho mal vestido e com um enorme saco de pano nas costas anda pela cidade levando aqueles que fazem “arte”. As más línguas ainda afirmam que o velho leva a criança para a sua casa e lá faz sabonetes e botões com elas. O homem do saco é famoso no Brasil e na Europa.
A mulher da estrada
Esta dica é para aqueles que pensam estar em uma noite de sorte ao encontrar na beira da estrada uma loira pedindo carona. Bem, não pare! Caso contrário, você será conduzido a um cemitério, e a bela mulher desaparecerá. O motivo? Ela está morta. Basta procurar suas imagens nas lápides. A mulher da estrada aparece em lendas do mundo inteiro.
Ladrão de órgãos
Os pais alertam: nunca vá para a casa de estranhos, ou você acordará sem rins no dia seguinte. O personagem agora é diferente: um jovem sedutor e simpático. Ao escolher sua vítima, ele a convence a ir para sua casa e oferece um drink. A surpresa é que no dia seguinte a vítima, sem se lembrar disso, acorda em uma banheira de gelo com o seguinte bilhete: “Chame uma ambulância, você tem pouco tempo de vida”. Ao chegar ao hospital, a pessoa descobriria que está sem rins. O misterioso ladrão é personagem de histórias do mundo inteiro.