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Edição 03 - Madrugada Paulistana Plural SP24Horas

Trabalhadores noturnos de São Paulo relatam a sua rotina de trabalho

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ISABELLA GIORDANO | TALITHA ADDE
»»»São Paulo, duas horas da manhã. Na região central da cidade é praticamente impossível andar mais de 100 metros sem encontrar algum estabelecimento aberto. Bares, baladas, locadoras de vídeo, restaurantes, supermercados, farmácias, postos de gasolina, padarias, teatros, lojas, delegacias, hospitais. A lista é extensa.
Em cada um desses lugares, milhares de profissionais trocam o dia pela madrugada para trabalhar. A mudança de horários transforma suas vidas: afeta a saúde, a rotina e os relacionamentos. Apesar das dificuldades, contudo, a maioria afirma amar o que faz, dando a entender que trabalhar à noite é frequentemente uma escolha, e não apenas uma necessidade.
No país, cerca de 15 milhões de pessoas trabalham no período noturno, segundo estimativa realizada em 2010 pelo Instituto do Sono, em São Paulo, com dados do Ministério do Trabalho. Mesmo com dificuldades e mudanças na rotina, os trabalhadores noturnos contribuem estimulando a economia e fornecendo serviços em horários alternativos. Apesar de tudo, trabalhar à noite é um desafio, pois pode gerar consequências negativas nas vidas dos trabalhadores.

Trânsito durante a madrugada na av. Paulista, no centro de São Paulo | Foto: Daphne Ruivo

Trânsito durante a madrugada na av. Paulista, no centro de São Paulo | Foto: Daphne Ruivo

Sacrifícios 
Os efeitos do trabalho noturno se aplicam à vida social dos trabalhadores, bem como à vida de seus familiares. Uma das principais reclamações é a incompatibilidade de horários. Amanda Ciquiera Campos, 24 anos, há quatro atua como sócia e gerente de marketing da The History, balada localizada na Vila Olímpia. A primeira dificuldade que teve quando começou a trabalhar à noite foi com relacionamentos, principalmente por nunca estar disponível nos fins de semana. “É uma escolha, você abre mão de algo para conquistar outra. Tem que gostar”, afirma.
Ao trocar horários convencionais de trabalho por turnos noturnos aos fins de semana, os diversos empregados no período estão também abrindo mão de sua vida pessoal. Segundo pesquisa com trabalhadores noturnos de uma fábrica de calçados realizada pelas Faculdades Integradas de Taquara (RS), além dos efeitos nocivos à saúde e à vida social, quando há privação do sono os efeitos biológicos geram distúrbios de sono e de alimentação.
“Você não tem vida. Meu recorde foi trabalhar 78 horas seguidas”, conta Gabriel Machado, 52 anos, responsável pela manutenção de espaços que promovem eventos. De aparência cansada, ele relata que são nas primeiras oito horas que o sono atrapalha. “Depois que você ultrapassa isso, só existe cansaço, nada mais”, afirma. Além de trabalhar nas noites de festa, Machado cumpre turnos diurnos e acredita que sua saúde psicológica é a mais afetada no descompasso da rotina.
Amanda também trabalha nos dois períodos, mas não se sente prejudicada pelos horários alternativos. “Tem dias que é difícil acordar cedo quando tenho que estar no escritório depois de trabalhar à noite. Fora isso, acredito que me adaptei”, diz.
Para ela, o desafio ao trabalhar em casas noturnas é ter responsabilidade, porque o trabalho acontece enquanto os outros se divertem. “O problema maior é no comprometimento das pessoas”, concorda José Ricardo Garcia, 32 anos, sócio-diretor executivo da Agência Zero4 Marketing e Eventos. Segundo ele, pode haver uma mistura entre diversão e trabalho em ambientes com música e bebida.
Haroldo Souza, 40 anos, é sub-gerente operacional e da área técnica do Teatro Alfa, com capacidade para 1.200 pessoas, no bairro de Santo Amaro (zona sul). Ele concorda com Amanda e Garcia e ressalta que uma das premissas para contratar os responsáveis pelos espetáculos é a consciência de que é preciso abrir mão de todos os fins de semana.
Escolhas
A decisão de trabalhar à noite está em geral ligada à paixão pela profissão, como o trabalho voltado ao entretenimento, por exemplo. No entanto, há outras motivações, como ganhar o adicional noturno e elevar o salário. Motivos mais pessoais, como agitação ou tranquilidade, também afetam a escolha. Mas uma coisa é certa: adaptar-se a essa escolha exige esforço físico e emocional.
Fabio Souza, 20 anos, é líder de uma equipe de oito bombeiros civis em dias de festa. Já participou de diferentes evento públicos, como a Virada Cultural e rodeios, mas afirma não gostar de trabalhar só depois do pôr-do-sol. “Preferiria trabalhar de segunda à sexta pela manhã”, disse. Para ele, existem duas dificuldades principais: o sono e conciliar a rotina aos seus outros afazeres. “Você trabalha à noite e durante o dia só quer dormir, não tem tempo para nada”, reclama. De acordo com ele, quem trabalha à noite sabe que o estresse é maior. Souza diz ainda que, fica constantemente irritado e que seu corpo deixou de responder ao cansaço.
Já Rafael Stanghini, cantor, diz que ama trabalhar à noite, apesar das dificuldades. “Ganho mau, durmo pouco, como em horários ruins, mas não trocaria isso por nada”. Ele acredita que as pessoas têm a impressão de que os profissionais do entretenimento só se divertem. Mas a rotina é na verdade mais difícil do que parece. “Sou casado, varo noites porque eu também trabalho de dia, não tenho uma regularidade de horários e em média trabalho três noites por semana”, explica.
Enquanto Stanghini reclama de receber com atraso os seus pagamentos, há trabalhadores que trocaram de profissão justamente por verem mais perspectivas na economia da noite. “Comecei a trabalhar no período noturno substituindo um amigo que havia quebrado a perna”, conta Evandro Elisei, promoter de eventos da Agência Mandim. Ele abandonou a carreira de fisioterapeuta ao perceber que trabalhando à noite melhoraria financeiramente.
Assim como Elisei, Creonice de Moura, 38 ano, e Aparecido Modesto, 43, optaram por trabalhar à noite para ganhar mais.  A acompanhante de uma idosa há dois anos e o porteiro há 16 viram na troca do dia pela noite uma grande oportunidade.
Mãe de quatro filhos, Creonice conta que começou a trabalhar à noite para ganhar melhor e sustentar os filhos. “A principal dificuldade era cuidar deles, porque depois do serviço ainda tinha que arrumar a minha casa”, conta ela, que trabalhava todos os dias, exceto aos domingos, das 18h às 6h.
Já Modesto optou por ter, além do adicional noturno, a “calma” da noite.  Mas nem tudo saiu como planejado. “Eu achava que dormir oito horas era a mesma coisa em qualquer horário. Depois que comecei a trabalhar à noite, percebi que dormir de dia me deixava indisposto”, afirma. O porteiro, que mora sozinho, trabalha das 22h às 6h e folga uma vez por semana. Nesse único dia, aproveita para dormir durante a noite.
Gabriela Fortes, 30 anos, é médica neurologista e dá plantões noturnos com frequência variável no pronto-socorro, das 19h às 7h. “Particularmente, odeio esse período.” Ela diz que o trabalho noturno prejudica sua rotina e seu humor. No entanto, a maior dificuldade é alterar as horas de sono. “É uma rotina muito solitária, porque poucos colegas trabalham à noite. Sem contar que meu corpo fica completamente desregulado”, lamenta.
Vinícius Monteiro, 25 anos, gerente em uma farmácia na Vila Mariana, tem a aparência cansada e séria e atualmente busca transferência para um turno diurno. “Foi uma oportunidade que surgiu e decidi tentar, mas é muito desgastante”, completa. Há seis meses nessa função, sente-se ausente de reuniões familiares e deixa de conviver com as pessoas. “Fico durante o dia dormindo e à noite tenho que trabalhar, um ritmo contrário ao dos meus familiares, fazendo com que eu perca muitas coisas”, finaliza.
Roberto Braga, 43, fotografa frequentadores de baladas universitárias. Apesar de uma rotina agitada entre o trabalho na ESPM-SP pela manhã e o foco no trabalho de conclusão de curso da faculdade no período da noite, diz que se acostumou com a profissão noturna. Casado e com dois filhos, sua família também se adaptou ao seu ritmo, e em momentos de descanso passa o tempo com eles. Além disso, justifica sua vida profissional carregada por vontade de realizar um sonho: “Conseguir viajar para Orlando com a família”.

Horas livres
Uma das maiores dificuldades dos trabalhadores noturnos é conciliar a vida social com a rotina de trabalho. No entanto, para manter uma vida saudável é essencial preservar os momentos de descanso com os amigos ou familiares, segundo especialistas, além de manter ativo o exercício de atividades voltadas ao lazer: seja frequentar um curso, ir à academia ou ao cinema. Encontrar tempo e horários adequados para tanto é um desafio, mas não é impossível.
O DJ Rodrigo Correia, 23 anos, diz ser apaixonado pela profissão, mesmo que seja desprovida de rotina, o que para ele tem mais fatores positivos do que negativos.  “Não pego trânsito para ir nem para voltar, que é uma das coisas que mais me irritam em São Paulo. Além disso, estou indo para um lugar onde as pessoas estão felizes e vão pra se divertir, e isso é gostoso de ver e viver”, explica.
Por trabalhar em baladas, Correia passa suas horas de descanso na companhia de amigos e da namorada, em barzinhos ou em casa. “Mas sempre que tem algum DJ quero muito ver, vou para a balada a lazer”, completa. Já Amanda, a sócia da The History, tenta manter uma rotina saudável durante os momentos de lazer indo duas vezes por semana à academia.
Iris Chrystian, 44 anos, e Lais Pastore, 24, técnicos de iluminação cênica e de som do Teatro Alfa, em Santo Amaro (zona sul), respectivamente, utilizam seus tempos livres para ir ao cinema e visitar familiares. Ambos têm horários flexíveis de trabalho por realizarem serviços terceirizados no teatro.
Haroldo Souza afirma que monta sua vida e sua rotina considerando que trabalha enquanto as pessoas estão se divertido e descansando. “Eu trabalho fins de semana, e tenho folga um dia durante a semana.” Assim como os demais funcionários do teatro, os dias de descanso são flexíveis e programados de acordo com a necessidade do espetáculo em cartaz.
Edson da Rocha, 29 anos, optou pelo trabalho noturno desde o início de sua carreira. Gerente de fast food há quatro anos, define sua preferência de turno pela serenidade do horário. “Apesar de aqui estar constantemente em movimento, a cidade fica desacelerada, diferentemente do que acontece durante o dia”, sinaliza. Rocha, que sai de casa todos os dias às 20h e retorna somente às 10h, diz querer continuar nesse ritmo até constituir uma família.

Gari trabalha durante a madrugada na av. Paulista | Foto: Diego Pinheiro

Gari trabalha durante a madrugada na av. Paulista | Foto: Diego Pinheiro

Economia da noite
São Paulo é a segunda cidade do mundo, apenas atrás de Nova York, em número de restaurantes, casas noturnas e bares. Segundo pesquisa da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), o faturamento desses estabelecimentos cresceu 15% em apenas dois anos. Não surpreende, portanto, que a pesquisa “Inflação da Night”, realizada pela Fundação Getulio Vargas (FGV), aponte que o custo com diversão e serviços ligados à vida noturna no Brasil, como restaurantes, shows e táxis, tenha subido em média 7,91% de setembro de 2010 a agosto de 2011. Esse aumento foi superior à inflação medida no período pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPC), avaliada em 7,10%. Os maiores aumentos foram registrados nos preços de teatros e de shows musicais.
colaborou Lara Junqueira
Por trás da balada
»»»A preparação para a noite na balada The History se inicia três horas antes de o evento começar. Nesse momento, estão presentes as equipes de garçons, barmen, hostess, caixas, limpeza e cozinha. Além desses, os seguranças e dois bombeiros que ficam de plantão na casa são os únicos funcionários que entram uma hora antes de o local abrir. Além dos bombeiros, a balada realiza um treinamento anual com a brigada de incêndio para dar orientações para emergências. A festa, que envolve cerca de 60 funcionários, termina conforme o público conduz a noite.
Quatro gerentes lidam com os imprevistos como problemas com clientes, solicitações e administração das equipes. Outros três responsáveis cuidam da relação entre barmen e cliente, da proibição do consumo de bebidas alcóolicas para menores de idade, da organização da fila e da monitoração dos sistemas de computador.

Trabalho sem encenação 
Em uma semana, um teatro como o Alfa pode ter cerca de três eventos que se organizam durante dias escalados. Os espetáculos são diversos, é normal uma produção de um único musical durante o primeiro semestre, por exemplo, e, a partir do segundo semestre, haver uma rotatividade maior, com peças que duram cerca de duas semanas e mais uma peça fixa em cartaz de quinta a domingo.
Devido aos inúmeros eventos que ocorrem em horários diversos, os empregados de teatro não têm uma rotina fixa de trabalho. Em época de montagem, os 50 funcionários fixos da casa trabalham todos os dias das 9h às 23h junto com 150 empregados terceirizados da produtora do espetáculo em cartaz.
Quando há duas produções na mesma semana, os funcionários, escalonados de acordo com a demanda de cada área, ficam até 3h trabalhando para garantir que tudo esteja preparado para a peça seguinte.

Montagem do espaço Vila dos Ipês para a realização de uma festa | Foto: Talitha Adde

Montagem do espaço Vila dos Ipês para a realização de uma festa | Foto: Talitha Adde

Os baladeiros
Pesquisa do Instituto Datafolha realizada em 2012 com frequentadores da noite nos bairros Bela Vista, Consolação, Itaim Bibi, Jardim Paulista, Moema, Pinheiros, Santana e Tatuapé, na cidade de São Paulo, revelou que 45% deles costumam sair uma ou duas vezes por semana, seguidos de 33% que saem de três a quatro vezes por semana.
Dentre os entrevistados 67% são homens e 33% são mulheres, com média de idade de 28 anos. A maioria trabalha e mais da metade pertence à classe B. O valor médio gasto pelos entrevistados em uma noite, nos finais de semana, é de R$ 109,70.

Por lei, Trabalhador noturno ganha 20% mais por hora 
De acordo com a Consolidação das Leis de Trabalho (CLT) e com o Ministério do Trabalho, a jornada noturna urbana acontece das 22h às 5h. A hora noturna tem 52,30 minutos, reduzida em 12,5% em relação à hora diurna, que tem 60 minutos. O funcionário da noite deve receber um acréscimo de 20% sobre a hora diurna em seu salário, tornando a remuneração do trabalho noturno superior. No entanto, quem trabalha em sistema de revezamento semanal ou quinzenal não tem direito a esse extra.
Atualmente, tramita na Câmara dos Deputados um projeto de lei que prevê aumento sobre a remuneração do trabalho noturno. Assegura acréscimo de 50% sobre a hora diurna e início da jornada noturno às 21h. O autor do projeto, o ex-deputado Vicente Selistre, do PSB, justifica a proposta com base em pesquisa da Organização Mundial de Saúde (OMS), segundo a qual trabalhar à noite aumenta o risco de desenvolver câncer.

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