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Venezuelanos relatam sobre a angústia de viver longe do país

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Theo Fava (1º semestre)

Quase cinco décadas após ser considerada a nação mais rica e democrática da América Latina, a Venezuela se encontra atualmente em sua maior crise econômica, humanitária e política de sua história. Com uma hiperinflação acima de 2300%, somente no ano passado, uma pesquisa da Universidade Andrés Bello, no Chile, afirma que dois terços da população do país vivem em extrema pobreza.

Desde o início do regime de Nicolás Maduro, muitos protestos se espalharam pelo país, alguns destes movimentos reprimidos pelas forças governamentais. A maior onda de protestos foi a chamada “Primavera Venezuelana”, que ocorreu em 2017, após a dissolução da Assembleia Nacional pelo Tribunal Supremo de Justiça. Mais de 160 pessoas morreram devido aos confrontos.

Como resultado da situação atual do país, milhões de nativos saíram da Venezuela, durante os últimos sete anos, alcançando uma média diária de mais de 5 mil emigrantes em 2018.

Apesar de ter partido anos antes do agravamento da crise migratória, o cineasta venezuelano Diego Vicentini relatou o fenômeno em seu curta-metragem Simón, lançado em 2018. O filme, que está atualmente sendo adaptado para um longa, retrata a vida do protagonista homônimo ao título, um jovem ativista pela liberdade na Venezuela que foge para os Estados Unidos após se sentir ameaçado pelo governo.

No enredo, Simón envia suprimentos para amigos e familiares no país nativo, mas se sente angustiado e insuficiente por não estar fisicamente presente na luta. Vicentini diz que as emoções exibidas pelo personagem na obra são muito semelhantes às suas pessoais.

“Eu diria que há uma conexão entre os sentimentos que Simón passa e as emoções que eu senti. Eu não acho que eles estejam no mesmo grau e, definitivamente, não na mesma extensão, porque Simón é alguém que viveu os protestos em sua própria carne e sangue. Eu saí quando tinha 15 anos, então nunca passei por eles”, disse o cineasta.

Sobre o que ele tenta fazer para ajudar, ele complementou: “É uma espécie de culpa e impotência de não poder estar ali e no final das contas ser capaz de dizer que você fez parte dos protestos […] eu sinto que deveria estar lá e de certa forma fazendo o filme é um jeito de abordar isso para fazer algo proativo”.

O curta termina com uma dedicatória: “Para quem segue lutando, de casa ou de longe”. Vicentini relatou que conhece muitos conterrâneos ao seu redor que tentam auxiliar na luta, mesmo a distância. Ele citou como exemplo Raízes Venezuela, fundação de uma mulher venezuelana, em Miami, que existe há cinco anos. Ela consiste em alugar unidades de armazenamento a fim de colecionar itens como travesseiros e escovas de dentes para dar gratuitamente aos venezuelanos que chegam ao local.

Em relação ao futuro de seu país, Diego busca manter o otimismo. “É difícil tentar prever o que vai acontecer, mas acho que sempre mantive um otimismo persistente. Quando você pensa sobre a história, todos os regimes caíram, é apenas um ciclo. Estou só lutando para que seja o mais rápido possível e aliviar o sofrimento humano, porque quero ainda ser um pouco jovem quando meu país quebrar essas correntes, e eu poder visitá-lo enquanto for livre e seguro”, afirmou o diretor.


 

Já a estudante Melany Morales acredita que a crise será mais difícil de reverter. “Eu tenho que ser realista, e é por isso que grande parte de mim é bastante pessimista sobre o futuro da Venezuela. De modo geral, penso especialmente que se formos capazes de superar a crise econômica e política, eu realmente sinto que não será o suficiente para a recuperação. Chegou a um ponto que ela se tornou uma crise social e psicológica e levará anos para reconstruir porque teríamos que reeducar a população”, relatou a jovem.

Melany se mudou para o Panamá em 2015, quando tinha 12 anos. A decisão tomada por sua família surgiu depois de passarem por muitas dificuldades na Venezuela. Ela disse que havia um medo incessante na sua mente de que ela poderia ser sequestrada ou até mesmo assassinada sempre que saísse de casa, porque era uma realidade com a qual todos tinham que conviver.

“Não conseguir viver a mesma infância que muitas outras pessoas viveram, como andar livremente pelas ruas em plena luz do dia, andar de bicicleta pelo bairro ou mesmo sair à noite ou ir ao supermercado e me sentir completamente segura. Em vez disso, ficava dentro de casa sempre que podia e seguia horários estritos ao visitar meus amigos, para garantir que estaria em casa antes do pôr do sol”, disse Melany.

Por mais que a estudante e sua família tenham encontrado mais segurança e liberdade no Panamá, o processo de adaptação não foi fácil. Inicialmente, a jovem conseguiu se adequar na nova escola pelo fato de já ter conhecido alguns alunos com os quais havia estudado na Venezuela, porém precisou passar por muitas emoções internamente.

“Definitivamente vivenciei sentimentos de angústia, mas sinto que os mais fortes foram os de impotência e culpa. Todos os dias, é claro, sou grata por ter tido a chance de me mudar para outro lugar, mas ao mesmo tempo, sinto culpa por ter esse privilégio depois de ouvir falar de muitos venezuelanos que quiseram deixar o país e que não puderam fazê-lo por problemas econômicos ou de saúde”, notou a estudante.

Por conta da distância de seu país, a jovem se sentiu incentivada a se conectar com sua cultura venezuelana, se vendo engajada em tradições que não necessariamente seguia na Venezuela, pois relata um medo constante de perder essa parte de sua identidade cultural.


 

Quem também passou por dificuldades nesse processo foi Yilmary de Perdomo, empreendedora que vive no Brasil há cinco anos. De acordo com ela, a situação na Venezuela já não estava boa desde duas décadas atrás, com muita burocracia e o crime no país aumentando gradativamente.

Yilmary, porém, conseguia manter uma vida relativamente tranquila com seu marido e três filhos, exercendo a profissão de terapeuta e prestes a conquistar o diploma de pós-graduação. Foi nesse momento que a crise se agravou, e as condições de viver na Venezuela não eram mais viáveis.

“Chegou um momento em que a segurança das pessoas era bastante difícil. A gente vivenciou sequestros expressos e essas coisas que nunca imaginamos presenciar. Você tinha que fazer muita fila para comprar comida e não tinha insumos suficientes nos hospitais. Se você ficasse doente, ficaria bem difícil. Trabalhar na Venezuela se tornou um desafio diário”, disse.

A empresária então tomou a decisão junto com seu marido de se mudarem para o Brasil, mas assim que chegaram, tiveram que passar por múltiplos problemas, tanto profissionalmente quanto em suas vidas pessoais.

Yilmary ainda está no processo de revalidar o seu diploma de terapeuta ocupacional, processo que começou desde o início da vida como imigrante. Foi então que ela se encontrou na necessidade de se reinventar e começar um empreendimento. Atualmente ela é dona do Tentaciones de Venezuela, serviço focado em fazer comida venezuelana para festas e comemorações.

As dificuldades, porém, também foram vividas em sua casa. Sobre a adaptação dos filhos à nova localização, ela disse: “Eles sofreram muito com o recomeço aqui no Brasil. Sentiam muito medo de ficarem longe de mim, era difícil sair para trabalhar, faziam perguntas que nem eu sabia a resposta. Muitas vezes senti vontade de chorar. Mas por eles, eu sorria”.

Yilmary também teve o desafio de não poder se comunicar com sua família na Venezuela. Os problemas com a internet em seu país nativo são persistentes, e a empreendedora frequentemente fica sem saber se a sua mãe está se alimentando bem durante a crise. Além disso, a emigrante não consegue enviar dinheiro para ela, pois esta tem a conta bloqueada.

Segundo Yilmary, a angústia de quem vive fora do país é a mesma de alguém que mora nele. “Não é diferente. A gente realmente vive com essa sensação de não saber o dia de amanhã, o que vai acontecer na Venezuela, e como é que vai ser a sobrevivência diária lá, então é muito difícil, sim”, afirmou a empresária.

A presidência de Nicolás Maduro é atualmente disputada por Juan Guaidó, da oposição, que alega motivos constitucionais para ter direito ao cargo. Quase 60 países reconhecem Guaidó como o legítimo presidente. Entre eles, estão os Estados Unidos, Panamá, e o Brasil, as nações que abrigam os entrevistados.

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