#SPInvisível dá voz a moradores de rua e ganha seguidores na internet
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O avanço das mídias sociais é uma das marcas mais profundas da sociedade pós–moderna e causa uma grande mudança nas relações humanas. Ao mesmo tempo que favorecem reencontros e a aproximação entre as pessoas, elas tendem a implantar um isolamento, aumentando o distanciamento físico entre as pessoas que vivem, cada vez mais, uma vida virtual.
Segundo o sociólogo polonês, Zygmunt Bauman, as pessoas se preocupam excessivamente com suas imagens nas redes sociais. Escolhem as melhores fotos que as representem e que as tornem mais atraentes. Quem não sabe se vender corre o risco de ficar invisível e excluído.
Pensando nisso, e cansados das timelines cheias de fotos de praias bonitas, comidas e selfies, que dois estudantes decidiram dar voz a quem não tem a oportunidade de se vender na internet e acaba ficando, não só por isso, invisíveis na sociedade.
Assim, surgiu o SP Invisível, um projeto que visa mostrar um mundo, que é muitas vezes desconhecido e conscientizar a sociedade de que as pessoas precisam se ajudar.
A história dos invisíveis é contada em legendas, em primeira pessoa, que acompanham as imagens. Cada post traz a história das pessoas que acabam ganhando centenas de curtidas e compartilhamentos na rede. “Vejo cada vez mais que não sei de nada, aprendo sempre, reclamo menos e vejo que, cada dia mais, encontrei minha vocação, que é contar histórias que não eram ouvidas” diz Vinícius Lima, um dos criadores do SP Invisível.
O projeto vem ganhando espaço na internet e atraindo olhares a quem sempre passou despercebido. “A visibilidade é o primeiro passo para a garantia dos direitos humanos.”, destaca Vinícius.
Confira a entrevista do Vinícius Lima para o Portal de Jornalismo da ESPM-SP.
Portal: Como surgiu a ideia de criar o SP Invisível ?
Vinícius: O SP invisível, em princípio, foi só um evento em Outubro de 2013. Teve um dia que eu, André Soler e outros 30 amigos saímos para fotografar moradores de rua e postar no instagram com a #SPinvisivel, mas sem conversar com eles, só de longe, mais para incomodar visualmente uma timeline só de comida, viagens e selfies, porque todos tinham mais ou menos os mesmos seguidores. Os dias passaram e em Março de 2014, virei para o André e falei pra gente voltar com o SP invisível, mas ao invés de um evento, ser um movimento, um movimento que conta histórias de moradores de rua pelas redes sociais porque invisível não são as pessoas, mas as histórias delas. Muitas vezes vemos um morador de rua, até ajudamos, mas quando ajudamos sem saber a história, o fazemos de maneira vertical, como caridade, depois que sabemos a história e vemos que ele é igual a gente em muitas coisas, fazemos isso de maneira horizontal, como justiça.
Portal: Qual é o principal objetivo do projeto ?
Vinícius: O objetivo é abrir olhos e mentes das pessoas para reconhecer o “outro” como o “próximo”, o outro não é problema meu, o próximo é, através das histórias dos moradores de rua. Queremos, através da história do José, que foi postada na página, por exemplo, que a Gabi ajude o João da esquina dela, ou pelo menos o trate dignamente. E assim vai, um movimento de conscientização, respeito e quebra de preconceitos.
Portal: Existem planos de expandir o projeto para outras cidades?
Vinícius: O projeto já existe em umas 27 cidades, se não me engano, mas foi lindo e curioso, porque não estava em nossos planos, a galera veio pedindo e ainda pede pra abrir na cidade deles. Isso é uma prova que o projeto tá dando certo, abrindo olhos e mentes, e incomodando a galera pra ser a diferença.
Portal: O que mudou na sua vida desde que passou a ter mais contato e retratar as histórias dos “invisíveis”?
Vinícius: Vejo cada vez mais que não sei de nada, aprendo sempre, reclamo menos e vejo que cada dia mais encontrei minha vocação, que é contar histórias que não eram ouvidas, seja no SP invisível, na faculdade de jornalismo, na revista vaidapé, qualquer. Esse sou eu, mas acredito que o André é a mesma coisa, ele é um apaixonado por histórias, mas conta de outro jeito, não pelas palavras, mas pelo cinema e pela fotografia.
Portal: Qual foi a história que mais te marcou desde o início do projeto?
Vinícius: A do Bruno, ele saiu de casa cedo, veio pra São Paulo porque brigou com a galera no Paraná depois de usar muita droga. Quando a história dele saiu na Folha de SP por causa de uma matéria do SP invisível, a família dele o viu, perdoou, veio pra são Paulo, buscou ele e hoje ele mora no Paraná de novo com a família e eu falo com ele no facebook.
Portal: Qual a maior contribuição do SP Invisível, hoje, para a sociedade?
Vinícius: Creio que mostrar a outra face da moeda nas redes sociais e conscientizar a galera da vida como ela é, uma vida que é difícil e onde pessoas precisam de pessoas, a gente precisa se ajudar. O SP invisível contribui muito também de certa forma tirando esse véu da invisibilidade que o dia a dia, a mídia, as pessoas colocam em todo mundo que não tem nenhuma condição financeira muito grande. A visibilidade é o primeiro passo pra garantia dos direitos humanos.
Gabriella Lemos (1 semestre)