Por que um esporte violento como o UFC atrai cada vez mais pessoas?
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Quando o lutador brasileiro Anderson Silva entrou no ringue para enfrentar o japonês Yushin Okami, em 27 de agosto, estava em jogo, mais do que uma luta de cinco rounds, um negócio que movimenta mundialmente entre US$ 5 bilhões, transmitido ao vivo para 145 países, atingindo cerca 350 milhões de pessoas.
O Ultimate Fighting Championship, ou, simplesmente, UFC, é o esporte que mais cresce no mundo atualmente, tanto em renda como em público. Em 1993, quando foi criado pelo brasileiro Rorion Gracie, o UFC era considerado como uma briga de rua, uma competição para marginais. O evento, que permite o uso de movimentos de todos os estilos de artes marciais existentes (uma evolução do antigo Vale-Tudo, formando o que hoje se designa por Artes Marciais Mistas), quase foi proibido nos EUA em 2000, em virtude dos confrontos sempre violentos e que, na maioria das vezes, terminavam em sangue e lutadores desacordados.
Ao perceber o potencial midiático do esporte, o empresário americano Dana White convenceu dois amigos de infância, os irmãos Lorenzo e Frank Fertitta, donos de uma rede de cassinos, a comprar os direitos do evento. Esse foi o grande salto. O trio comprou o esporte por apenas US$ 2 milhões. Dez anos depois, e de muitas reformulações na regra e no conceito do esporte, o valor da marca é de quase US$ 1 bilhão, segundo estimativas conservadoras. O esporte, antes restrito a um pequeno grupo de fãs de lutas marciais, se espalhou pelo mundo todo, atingindo jovens e adultos. Os lutadores são ídolos no Japão e nos EUA, reunindo milhares de pessoas a cada aparição. No ano passado, uma edição do UFC em Dubai, nos Emirados Árabes, reuniu 11.000 pessoas. No Brasil, os ingressos para o evento do último domingo no Rio, que custavam até R$ 1.200, terminaram em 74 minutos.
Por que uma luta tão violenta é tão atrativa para as pessoas? Dana White, em entrevista para o jornal carioca O Globo, afirmou que assistir a uma luta é um sentimento primitivo do ser humano: “Antes de o homem empurrar um círculo com uma vareta ou jogar uma bola num círculo, dois homens ficaram juntos numa superfície, alguém deu um soco na cara do outro e outros vieram correndo ver.”
A psicóloga Marisa Toledo confirma o que diz o presidente do UFC. Segundo ela, o gosto do ser humano por lutas é ancestral. “A guerra é um traço característico da condição humana. Em tempos de paz relativa como os dias atuais, os esportes violentos são naturalmente atrativos”, afirma a psicóloga, citando como exemplo a imensa popularidade que o boxe atingiu nos anos de 1980, com Mike Tyson e Maguila.
Outro motivo para a popularidade do esporte é a falta de novos ícones esportivos no Brasil. Com os grandes jogadores de futebol jogando na Europa e a ausência de ídolos na Formula 1, outro constante repositório de heróis brasileiros, Marisa registra que o UFC trouxe novos ídolos para uma população carente. “O povo cansou de ver jogadores de futebol, passou a considerá-los arrogantes, descolados da realidade em que vivem. No UFC, eles enxergam pessoas como elas, que dão a cara para bater, brigam de verdade. Lutadores carismáticos como Anderson Silva, negro e de origem humilde, fazem ainda mais sucesso por serem parecidos com o povo.”
Independentemente dos motivos, o fato é que o esporte nunca foi tão popular no Brasil como é hoje. A luta atingiu o primeiro lugar na audiência da televisão brasileira, fazendo com que a Rede TV, transmissora do evento, registrasse a maior audiência de sua história. De acordo com Dana White, o evento deve voltar ao Brasil no ano que vem, atingindo outras cidades como São Paulo e Manaus, além do Rio. A mania do UFC, portanto, deve tornar-se ainda maior.
Gabriel Garcia (2º semestre)
Violência gera violência e isso é o reflexo do que vivemos hoje… Um mundo cada vez mais violento. Pobre humanidade!
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