Pela dor ou pelo amor
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Marina Guazzelli
»»» A dor da perda de um filho é insuportável para qualquer pai. Claudia Regina Oliveira, professora de 42 anos, e Eduardo Henrique, 43, passaram por esse sofrimento. No centro de Avaré, cidade onde moram no interior de São Paulo, saindo de uma loja, seu filho, Eduardo, foi atropelado por um carro ao soltar a mão de sua mãe. Eduardinho, como era conhecido, tinha menos de 3 anos.
Desde 16 de dezembro de 2014 os pais lutam para amenizar a tristeza. “Se a gente não tem fé, a gente não supera. Se você não tiver fé em algo superior, você vai ter pensamento errado e num momento difícil você desaba”, comenta Eduardo, que, depois de alguns meses após o acidente, passou a frequentar centros espíritas com sua mulher em busca de respostas.
Fundamentado em preceitos e valores cristãos, o Espiritismo surgiu na França em 1857 com “O Livro dos Espíritos” e é uma doutrina baseada em cinco obras de Allan Kardec, seu precursor.
Diferentemente da religião Católica, mais expressiva no Brasil, o Espiritismo não possui nenhuma hierarquia religiosa. Os líderes de centros espíritas (onde ocorrem as reuniões) são selecionados por seu código moral antes mesmo de seu conhecimento sobre a Doutrina.
A reencarnação, tema que marca a religião, é outro destaque. Segundo a Federação Espírita Brasileira (FEB), “os espíritos reencarnam quantas vezes for necessário até alcançar o aprimoramento”.
Claudia frequentava desde pequena a Igreja Católica, mas, com a morte do filho, surgiu a vontade de conhecer melhor a doutrina Espirita. “O jeito como é tratada a morte é mais abrangente e confortante. Consola um pouco mais a gente”, comenta.
A esperança de reencontrar entes queridos e o tratamento diferenciado sobre a morte são um dos principais motivos que atraem as pessoas ao Espiritismo. Para Hilton Lutti, frequentador e palestrante de um centro espírita, as religiões tradicionais não cumprem seu papel quando não respondem aos questionamentos daqueles que perderam entes queridos. “A doutrina Espírita se vale da mediunidade como ferramenta de progresso e trabalho espiritual, trazendo os ditos ‘mortos’ ao encontro dos familiares que deixou na Terra. E isso é um diferencial. Esse é um dos motivos, porém não o único”, completa.
MEDIUNIDADE
Médium, no sentido lato da palavra, é aquele indivíduo que possui uma sensibilidade de tal ordem que com facilidade vê, ouve, conversa ou fala com a espiritualidade.
Apesar de ser associada principalmente à religião Espírita, a mediunidade está presente em todos os seres humanos, como se fosse um “sexto sentido”. “A questão de ‘se tornar um médium’ passa a ser apenas uma condição de mais ou menos sensibilidade de uma pessoa, visto que todos temos mediunidade”, completa Hilton Lutti.
Chico Xavier, provavelmente o médium mais conhecido entre os brasileiros, foi um dos principais responsáveis pela disseminação do espiritismo no Brasil. Junto com Bezerra de Menezes, Chico popularizou a religião que hoje é uma das mais conhecidas no país. Segundo o IBGE, o Espiritismo cresceu 65% de 2000 a 2010 e alcançou 2% da população brasileira.
A psicografia, um dos tipos de mediunidade, foi um de seus maiores talentos. Por meio de cartas, Chico Xavier reproduzia as mensagens que recebia dos espíritos. Além dela, há outros tipos, como a vidência (em que o médium vê os espíritos) e a psicopictografia (espírito pinta quadros através dos médiuns).
A cura que o espírito faz por meio do médium, como a praticada por João de Deus, um dos mais procurados do país, também é uma das mediunidades desenvolvidas. Em todo o Brasil, milhares de pessoas buscam tratamentos espirituais para curar doenças que a medicina tradicional não alcança.
Muitas pessoas do Brasil e de outros países do mundo procuram João de Deus para realizar tratamentos em Abadiânia (GO), na Casa Dom Inácio de Loyola.
“De 100 pessoas, 92 vêm pela dor e 8 pelo amor”, diz Lize Lacaz, Guia Oficial da Casa Dom Inácio desde 2012. O palestrante Hilton Lutti concorda. “Dizemos no meio espírita que as pessoas chegam à doutrina pela dor ou pelo amor. Porém a maioria esmagadora começa sua busca de respostas pela dor”, concorda o palestrante Hilton Lutti.