“Nenhuma imagem vale mais do que uma vida”, diz Bruno Quintella, filho de Tim Lopes
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“Bom dia. Em primeiro lugar, vocês vão estranhar meu sotaque carioca”. Foi assim que começou a palestra na manhã do dia 24 de setembro, do jornalista e produtor da Rede Globo, Bruno Quintella, para a III Jornada de Jornalismo na ESPM-SP.
Filho do jornalista vítima de assassinato, Tim Lopes, Bruno Quintella exibiu em sua palestra os trabalhos do pai, que arriscava a vida por fortes matérias que buscavam trazer a reflexão sobre injustiças sociais, o porquê da violência no país e a urgente necessidade de mudança.
Bruno comentou que o modelo e os temas de cobertura jornalísticos abordados por Tim Lopes não eram considerados dos mais usuais, e isso especificamente pela necessidade de mudança e inovação necessárias nas notícias, trazendo a partir de então maior preocupação com o social e chamando a atenção para aqueles que se encontram às margens da sociedade.
Em seu discurso, hábitos hostis em relação aos jornalistas foi um dos principais enfoques: “Hoje, jornalistas sofrem dois tipos de violência; a violência por confronto e a violência por vingança”. Quando questionado sobre até que ponto um jornalista deve ir para conseguir uma matéria, quando em situações de perigo, usa como forma de retratar o assunto as manifestações no país ocorridas no ano de 2013, onde não poucos foram os casos em que profissionais da área foram vistos como inimigos, contudo, “você está com uma câmera e com um microfone na mão. O que você pode fazer ?”. Ainda sobre o mesmo tema , cita umas das frases relacionadas à memória de seu pai: “Nenhuma imagem vale mais que uma vida”.
O convidado comenta também sobre o jornalismo contemporâneo, onde tudo soa muito factual, “plástico e asseado”, e da necessidade de renovação no modo de se fazer jornalismo, na falta de ousadia, lembrando aos jovens que eles devem sempre buscar fazer o diferente para fazer a diferença na sociedade, pois, “não falta espaço. Falta ousadia”.
Sobre as reportagens na atualidade, critica que “muitas pessoas se tornam jornalistas hoje em dia para aparecer mais do que a matéria” e que, contudo, é realmente possível que a matéria seja feita sem que o repórter se destaque, dando assim a devida importância ao real motivo do trabalho jornalístico, a transmissão de informações, relatos de histórias, dentre todas as outras necessárias funções exercidas pela profissão.
No final de sua palestra, Bruno Quintella ressaltou que “o reconhecimento não virá de uma hora pra outra. A hora do jornalista dura o tempo da matéria”. Menciona também que o trabalho pode ser extremamente gratificante para aqueles que realmente apreciam a prática da profissão, e que “é um compromisso moral com você e também com os outros”.
Maria Daher (1 semestre)