Mulheres repercutem polêmica: Belas, sim. Recatadas, nem tanto
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No dia 14 de abril, a revista Veja publicou uma matéria sobre Marcela Temer, esposa do vice-presidente da República Michel Temer, com o título “Bela, recatada e do lar” (http://abr.ai/26cXQ2b). A publicação gerou polêmica, e não era para menos.
Movimentos feministas e iniciativas individuais não gostaram nada da reportagem. Nas redes sociais, centenas de mulheres se posicionaram diante da matéria da jornalista Juliana Linhares.
A reportagem do Vila Mariana ouviu mulheres da região sobre o caso. A estudante de Jornalismo do Mackenzie, Isabella Bisordi, acredita que a matéria repercutiu tanto pois é chocante ver um dos veículos de maior circulação do país impondo padrões a serem seguidos pelas mulheres – “algo que o feminismo vem lutando contra há décadas”, afirma ela. Já a estudante de Rádio e TV da Cásper Libero, Dalva Kohl, diz que “a matéria em si não teve tanta repercussão, mas sim a reação e a ´campanha` em consequência do texto”.
Ao serem questionadas sobre a posição da revista e da jornalista autora da matéria, a opinião das entrevistadas é quase unânime: uma revista conservadora não apoiaria o movimento de minorias. “Achei a matéria machista, irônica e me senti bastante ofendida em quanto mulher. Podemos e devemos ser aquilo que quisermos ser”, desabafa Victoria Amato, estudante de Direito da PUC-SP.
Nana Soares, jornalista especializada em temáticas de gênero e violência contra a mulher, criticou no seu blog do Estadão a publicação da Veja: “A matéria é bem problemática, justamente porque trouxe uma visão de mundo de décadas atrás. Não por uma mulher ser bela, recatada e do lar, mas por qualificar (sic) como sendo somente essas dignas de valor, ao dizer que, por sua mulher ser assim é que Michel Temer é um homem de sorte”.
“Quanto à jornalista, espero que ela tenha entendido o porquê de toda a repercussão. Ela também é mulher e merece ser o que bem quiser, e tomara que a polêmica tenha servido para que ela entenda o quanto é errado enaltecer determinado padrão”, diz Isabella. A editoria da Vila Mariana entrou em contato com a repórter que escreveu a matéria, Juliana Linhares, mas ela não quis se pronunciar.
Para Amanda Cardoso, estudante de Publicidade da Cásper Líbero, ser bela, recatada e do lar não torna nenhuma “mulher menos mulher”. O grande problema da matéria foi rotular esse estereótipo como o da mulher perfeita. Paola Zanon, também da Cásper, concorda: “Ser bela, recatada e do lar não é escolha consciente. É uma imposição da sociedade patriarcal e a mulher acredita que, sendo assim, ela será aceita pela sociedade”.
Quanto mais for imposto às mulheres que para serem respeitadas, devem ser belas, recatadas e do lar, mais irão desmerecer a luta feminista. Isabella termina: “Vamos ser cada vez mais o que quisermos, e não o que esperam de nós. ”
Por Giovanna Lunardelli, Júlia Ciriaco e Julia Pino (3º e 4º semestres)