Morre poeta Manoel de Barros, pouco conhecido pelos jovens universitários
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Uma enquete realizada pelo Portal de Jornalismo da ESPM-SP, com 30 estudantes universitários, demonstrou o desconhecimento dos jovens sobre a existência e trajetória do poeta brasileiro, Manoel de Barros, falecido nesta quinta-feira, 13. Dentre um grupo de 30 universitários entrevistados, 18 já ouviram falar do poeta e 12 não conheciam sequer o nome. “Já ouvi falar dele, mas não sei te dizer nada a respeito, e reconheço que é uma vergonha”, lamentou uma das estudantes.
Considerável parte dos entrevistados queixou-se sobre desconhecer o autor, assumindo a culpa por isso. Outra fração dos entrevistados disse já ter estudado o poeta em algum momento na escola. Uma das universitárias esforçou-se para lembrar alguma obra de Manoel, mas, sem sucesso, lastimou. “Deve ter caído em alguma prova minha do ensino médio, mas não me recordo”, contou um dos jovens.
O anonimato do poeta também foi alvo de pergunta em uma reportagem do jornal “O Estado de São Paulo”, em agosto de 1996. Segundo o poeta, essa causa de dá por culpa dele próprio. “Sou muito orgulhoso, nunca procurei ninguém, nem frequentei rodas, nem mandei um bilhete”, afirma.
O professor e escritor, Renato Essenfelder, atribui o desconhecimento dos jovens sobre Manoel de Barros a três principais fatores: o atual desprestígio do gênero poético no país, responsável por gerar pouca procura, pouco lançamento e pouco conhecimento sobre ela; a ausência de um encaixe do autor em alguma escola ou estilo literário estudado nas escolas e pelo autor ter se tornado conhecido há poucas décadas, quando o jornalista Millôr Fernandes faz um elogio público a ele.
“Por Manoel ser um poeta muito heterodoxo, não canônico, ele não cabe na maior parte dos currículos de literatura das escolas. Vejo-o como um poeta pouco estudado no Brasil”, afirma Essenfelder. O professor destaca que Manoel “era um poeta morando numa fazenda, isolado do mundo. Ele estava fora do circuito, fora do eixo Rio-São Paulo, fora de eventos e da mídia”.
Sobre a importância do autor para a poesia, Essenfelder ressalta a peculiaridade do matogrossense como um poeta que criou uma gramática própria e colocou a natureza no centro de sua obra, fazendo elogio ao modo de vida simples, desapegado. “Ele tem a importância de todo pioneiro. Olha pra uma parte do país e pra um estilo de vida que pouca gente olha e dá importância. Ele traz elementos novos pra poesia”.
Manoel Barros é dos mais consagrados poetas brasileiros do século XX. Reconhecido por renomados escritores do país, como Guimarães Rosa e Carlos Drummond de Andrade, que conceituou o cuiabano como o maior poeta brasileiro vivo, o poeta é autor de inúmeras obras de reconhecimento internacional e dono de notáveis prêmios, como o Prêmio Nacional de Literatura do Ministério da Cultura, em 1998, e o Prêmio Jabuti, em 1990 e 2002.
Bianca Gomes (1 semestre)