Marcas tentam atrair celebridades para promover seus produtos em redes sociais
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Bianca Gomes
Kelly Cilento
Larissa Kazumi
Luiza Capella
»»»Na sociedade do espetáculo, elas são as protagonistas. Por onde vão, nunca passam despercebidas. Deixam um vestígio capaz de transformar qualquer lugar em uma experiência necessária de ser vivida. As celebridades hoje são sinônimo de sucesso e o ideal que todos (ou quase todos) querem alcançar.
E não é preciso necessariamente ter um talento evidente para se tornar uma celebridade. Em tempos em que desfrutamos dos valores da indústria cultural, importados principalmente dos EUA, há outras formas, que não as realizações, para uma pessoa se tornar célebre.
Essa condição faz parte de uma circunstância especial, abordada pelo psicanalista Pedro Luiz Ribeiro de Santi, autor do livro “A Construção do eu na modernidade” e professor da ESPM-SP. “Em nosso ambiente cultural, as celebridades são valorizadas pelo simples fato de serem célebres. Ser muito conhecido é um valor em si.” Segundo ele, no contexto atual, há uma crise de valores mais consistentes, e a visibilidade da celebridade passa a ser associada a um valor social. “É como se se dissesse: se a pessoa é famosa, então ela é boa”, conclui.
Não à toa, na capital paulista – a mais rica do Brasil – os bares, hotéis, restaurantes, lojas de roupas, cabeleireiros, enfim, desejam que a sua marca seja representada pelos maiores símbolos de sucesso da nossa sociedade.
Numa ação de marketing, as empresas conseguem que o indivíduo, fazendo uma associação direta, transfira – a partir da representação – seu valor simbólico e sua credibilidade como celebridade para o produto ou serviço à venda.
Para Vanessa Clarizia, professora do curso de graduação em Ciências Sociais e do Consumo da ESPM, ao frequentar os mesmos restaurantes, usar as mesmas roupas ou cortes de cabelo e se vincular desta forma nas diferentes mídias, o indivíduo se “aproxima de um ideal cultural compartilhado. Neste movimento, nós nos autointitulamos como sujeitos felizes, realizados, exitosos, entre tantos outros adjetivos que resumem o que são as celebridades”.
O desejo das pessoas de estarem próximas das celebridades não é de hoje. Entretanto, com o advento das redes sociais, como o Facebook, o Instagram e o Snapchat, e a consequente exposição da vida privada dos famosos, criou-se uma falsa proximidade. Isso faz com que as pessoas se sintam íntimas de determinada personalidade e, muitas vezes, busquem um estilo de vida semelhante a elas, frequentando os mesmos lugares, usando as mesmas roupas e tendo comportamentos semelhantes.
As celebridades representam certos ideais sociais em nossa sociedade e por isso são tidas como um exemplo a ser seguido. A psicóloga Mariana Malvezzi diz que os famosos são, neste sentido, indivíduos que supostamente vivem integralmente no mundo do espetáculo. “São referências, portanto, de uma idealização da cultura da atualidade”.
Não por acaso, a propaganda se utiliza dessa condição para expandir seu público consumidor. Muitos estabelecimentos são conhecidos por atrair celebridades e, consequentemente, atrair o público que as seguem. É uma troca: o estabelecimento ganha reconhecimento, e as celebridades, serviços gratuitos.
Os Lugares
Em São Paulo, se desejarmos encontrar com uma celebridade, opção não falta. O Instagram dos próprios artistas “denuncia” o lugar em que estão. Além disso, muitos sites fazem questão de listar os estabelecimentos certos para o encontro. “Os restaurantes queridinhos dos famosos em São Paulo”, “Bares e baladas de famosos em SP”, “Lugares para encontrar famosos” são algumas das manchetes sobre o tema. Restaurantes como o Paris6 e a Frutaria São Paulo, lojas de roupas como a John John – na rua Oscar Freire -, hotéis e shoppings ganham destaque e atraem visitantes.
A Ótica Ventura é reconhecida por estar na cara das celebridades, literalmente. A jornalista Marília Gabriela e a apresentadora Adriane Galisteu estão entre as clientes de maior visibilidade da loja. Seus óculos ficaram conhecidos e cumpriram bem a função de divulgar a marca.
Segundo a diretora de marketing da Ótica Ventura, Deborah Ventura, a marca utiliza as ações de marketing a favor da loja. A celebridade é como um porta-voz da mensagem que a marca quer passar aos clientes. “Vendemos a atitude [do artista]. Marília Gabriela – por exemplo – divulgou os óculos e a ideia de que é possível ter vários modelos diferentes. Partiu dela a mudança de óculos por cor e formato. Isso fez as pessoas irem atrás dos óculos na loja por motivos que vão além do design”, afirma. A escolha das celebridades que representarão a marca não é aleatória. “Elas são porta-vozes de uma ideologia. Não adianta trazer pessoas que não tenham o seu DNA”.
A presença de uma celebridade em um estabelecimento pode ser tão impactante que, depois de ela postar o produto comprado ou consumido em determinado local, ele se torna o mais vendido ou consumido da semana e até do mês. Esse é o caso da Frutaria São Paulo, que costuma receber famosos como Gabriela Pugliesi.
O gerente da Frutaria, Davidson Gomes, conta que a presença de celebridades como a “musa fitness” – como Pugliesi é conhecida por seus fãs – “acaba tendo um grande impacto para a Frutaria. O que mais perguntam é qual prato eles mais comem. Normalmente procuram saber o que aquela celebridade comeu, e às vezes já vêm até com foto”, afirma.
Os fãs não escondem a influência que uma postagem das celebridades nas redes sociais tem na sua vida. A estudante Laura Cipolla, de 18 anos, segue Gabriela Pugliesi nas redes sociais e compartilha o mesmo gosto da famosa: comidas saudáveis. A fã contou que depois de a musa compartilhar um prato diferente no Instagram, ela ficou “morrendo de vontade de provar”. “Era uma salada de penne integral ao pesto com lascas de frango orgânico grelhado com tomate e lascas de parmesão por cima”, descreve.
Laura comenta que acha interessante as postagens da Gabriela Pugliesi, por isso segue as indicações. “Eu fui mais por ela ter postado mesmo, porque eu nunca tinha nem ouvido falar do restaurante”, completa.
A blogueira de moda Jade Seba – que já conta com 1,4 milhão de seguidores no Instagram – viu nas redes sociais a oportunidade de interagir mais de perto com os seus seguidores e, por isso, costuma comunicar aos seus fãs sobre os lugares que frequenta e as mudanças de visual que faz.
Recentemente, a blogueira pintou seu cabelo com mechas coloridas. Ela sempre posta qual salão frequenta, o TP Beauty Lounge, no Rio de Janeiro e, com isso, seus fãs procuram por tratamentos iguais ao dela, como foi o caso da jovem Giovanna. A menina resolveu ir ao salão em busca das mesmas mechas coloridas de Jade que, por coincidência, estava no salão no mesmo dia e acompanhou a transformação.
Jade conta que quando vai mudar o visual, costuma sempre “dar um ‘spoiler’ de que vai acontecer alguma coisa”. Ela avalia que as mudanças são importantes, pois as pessoas gostam de acompanhar as novidades. “Todo mundo adora ver mudanças. Acredito que isso seja a maior inspiração nas redes sociais”, completa.
Não são apenas os lugares que as celebridades divulgam que atraem o público. Hoje, é muito comum ver famosos como donos de estabelecimentos. É o caso do restaurante Sal Gastronomia, do chef de cozinha Henrique Fogaça. O restaurante já tinha um público consolidado, mas desde 2014, quando Fogaça estreou como jurado do programa MasterChef Brasil, o fluxo do local aumentou. “O movimento mudou um pouco, principalmente de pessoas que não conheciam e ficaram curiosas para conhecer. O movimento cresceu em cerca de 30%”, afirma.
Desde a estreia do reality show, as pessoas vão ao restaurante para encontrar com o chef Fogaça. Dono do Sal Gastronomia, Cão Véio, Admiral’s Place e Jamile, ele acredita que o público também vai por conta do interesse em conhecer os restaurantes, saber como é a comida e o ambiente desses lugares. “Acho bem legal isso, porque eu acho que a gastronomia precisa ser democrática e o MasterChef ajuda nisso porque provoca uma curiosidade nas pessoas”, diz.