Empresas pegam voo só de ida do Brasil
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Victor Blecher Tebcharani (2º semestre)
Nos últimos dois anos, muitas empresas encerraram suas atividades no Brasil. Algumas companhias não se sentem mais atraídas em manter suas indústrias, escritórios e sedes no país. Existem várias razões para isso e os impactos socioeconômicos são imensos.
No ano de 2020, a famosa empresa de carros anunciou sua saída da cidade de Limeira, no interior de São Paulo. O motivo anunciado pela marca foi a pandemia da Covid-19, como foi comunicado em uma carta aberta, assinada pelo executivo Jim Farley: “A situação econômica no Brasil tem sido difícil por muitos anos e se agravou devido à pandemia da Covid-19, causando uma queda significativa nas vendas de automóveis premium. […] Aumentar nossa eficiência, otimizando a nossa capacidade de utilização é um facilitador importante. Por isso, decidimos encerrar a produção de automóveis premium no Brasil”.
A empresa de eletrônicos Sony também anunciou sua retirada em 2020. Sua fábrica ficava em Manaus, no estado do Amazonas. A marca não entrou em detalhes sobre a saída, apenas reiterou o seu compromisso com os consumidores.
Além dessas, saíram do Brasil grandes multinacionais, como Ford, Roche, Audi, Fnac, Nikon, entre outras.
Relacionando a saída dessas empresas com a economia brasileira, em uma entrevista ao portal G1, em 2019, o economista Simão Davi Silber, professor de Economia na USP, disse sobre o primeiro ano do governo Bolsonaro: “Só que depois a inflação disparou. O governo perdendo credibilidade. Ele falseou na regra fiscal querendo parcelar precatórios e, dada a perda de popularidade do governo, a criação de uma Bolsa Brasil – que seria o novo nome do Bolsa Família de maior porte. Então, tudo isso coloca em risco o teto do gasto. Eu diria o seguinte: você tem, vamos dizer, o caldo de cultura perfeito para quem for avesso a isso fugir do Brasil”. Para ele, esse fenômeno tem muito a ver com o atual governo, que não estabelece uma situação segura para investimentos no país.
Neste ano, os problemas parecem se agravar, já que o dólar está batendo a casa de R$ 5,50, o desemprego atinge 14,1% da população e a inflação subiu 10,25% nos últimos 12 meses, segundo o IBGE. Quanto mais empresários retiram seus recursos do país, a moeda brasileira se desvaloriza ainda mais e a situação de perda de força do Real faz a inflação crescer.
Outro fator que favorece a retirada de empresas do país são os tributos altos e o excesso de leis trabalhistas em comparação a outros países. “O Brasil nos últimos 20 anos teve uma legislação trabalhista muito rígida e um sistema tributário muito complexo, que dificulta a margem de retorno e não deixa o país ser competitivo”, explica o administrador de empresas Marcos Rabinovitch, que trabalha há 30 anos no mercado financeiro.
Marcos ressalta que um dos motivos que levou à saída dessas empresas é que outros países oferecem melhores condições. A Nike, por exemplo, alegou isso ao sair do Brasil.
A pandemia agravou muito essa situação. A insegurança sanitária fez com que muitos estabelecimentos reduzissem o número de funcionários ou encerrassem suas atividades. Em julho do ano passado, o IBGE apontou que 522,7 mil empresas foram fechadas.
A pergunta que fica é: será que a economia brasileira vai se recuperar e essas indústrias?
Infelizmente os prognósticos não são bons, segundo o coordenador do curso de economia da FGV, Emerson Maçal, em entrevista ao jornal O Globo. “A economia vai andar devagar. Estamos voltando a viver a realidade de antes da pandemia, ou seja, a lidar com o Brasil e ainda agravado pela Covid”.