“De repente, mãe”: Depoimento sobre gravidez na adolescência
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Segundo uma pesquisa realizada pela Unifesp, a cada 10 bebês nascidos no Brasil, três são filhos de jovens com idade entre 12 e 19 anos. E foi isso que aconteceu com Jaqueline Schneider. Estudante, 19 anos, que aos 15 descobriu que estava grávida e teve que lidar com a barra de ser mãe jovem, forma-se na escola, passar no vestibular e trilhar um caminho para dar um futuro digno para sua filha.
- A Notícia
Quando descobri que estava grávida do meu namorado eu tinha apenas 15 anos e escondi a notícia dos meus pais enquanto pude, pois fiquei totalmente sem reação, até que chegou uma hora que os enjoos e a barriguinha saliente não conseguiam esconder a notícia e minha mãe começou a desconfiar. Após muito repudiar, tivemos uma conversa sincera – eu, ela e meu pai – e aí foi a notícia: eu estava grávida de quase quatro meses. A primeira coisa que minha mãe me disse – depois de quase cair para trás com o susto e de me julgar mentalmente de todas as formas possíveis (reação que eu já esperava) – foi que eu não pararia de estudar e que enquanto eu precisasse, a minha família estaria do meu lado. E assim foi.
A notícia foi um susto para todo mundo: meu namorado, minha família, amigos, colegas da escola e as pessoas com quem eu convivia. Ninguém espera esse tipo de novidade, inclusive eu. Por várias vezes tive de enfrentar os olhares atravessados enquanto passava pelo meu bairro e isso algumas vezes me incomodava, mas era um incômodo passageiro, pois eu sabia que as pessoas mais importantes (leia-se família) estavam do meu lado.
- Escola e Faculdade
Durante todos esses 3 anos da Laura na minha vida, ter a minha família e meu namorado (noivo) ao meu lado fizeram toda a diferença. Sinceramente, não sei como seriam as coisas caso contrário, pois sempre houve apoio e participação, tanto nos momentos felizes e quanto nos mais complicados.
Graças a isso, me formei no Ensino Médio, sem nenhum problema e atualmente estou cursando Direito – que sempre foi meu sonho – em uma das melhores faculdades do país. Além disso, não deixei de aproveitar a minha vida durante esse período – fato que 99 entre cada 100 pessoas afirmavam que eu não iria aproveitar -, mas é claro que não aproveitava tanto quanto as meninas que não tinham filhos. Até porque entre ir para um barzinho ou ficar em casa vendo o crescimento da minha filha, a Laura sempre ganhava.
- Futuro
Por mais que muitas vezes minha imaturidade e a dependência financeira dos pais e do meu namorado me fizessem sofrer, nunca me senti uma mãe pior só porque era mais nova e menos experiente. Ninguém nasce sabendo tudo, assim como uma mãe de 25, 30 ou até 40 anos, eu aprendi e aprendo diariamente com a maternidade. Por mais que você tropece e muitas vezes leve um tombo feio, existe sempre a chance de se levantar e seguir em frente de cabeça erguida, dando sempre o melhor que há em você.
Eu batalho todos os dias em busca de um futuro melhor para minha filha. Hoje é possível ver o quanto maturidade e independência são importantes para nos sentirmos mais confiantes e aí sim, pensarmos em ter uma vida para cuidar além da nossa. Se eu pudesse dar um conselho para a Jaqueline de 15 anos, hoje em dia, eu falaria para ela ter calma. Com o tempo tudo se resolve.
A gravidez na adolescência é algo que nem de longe recomendamos a alguém. Mas se por um descuido isso acontece, não podemos ter outra posição que não seja encarar as coisas de frente e arcar com as consequências. No meio disso tudo, se tem uma coisa que aprendi desde os meus 15 anos é que o amor de mãe é puro, verdadeiro e incondicional. E por mais erros que cometamos, há sempre a chance de fazer as coisas se resolverem da melhor forma possível.
Hoje, tenho uma companheira e amiga, que eu sei que estará sempre ao meu lado me apoiando, me dando broncas, sendo linda e feliz, como eu e o pai dela somos ao seu lado.