Uma pesquisa do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA), realizada em 2023, indica que jovens brasileiros das gerações Z e Y têm substituído o álcool por atividades físicas. Este fenômeno ocorre desde o fim da pandemia, com o crescimento da cultura wellness e valorização da saúde.
De acordo com dados obtidos pelo CISA, o consumo de bebidas alcoólicas entre jovens de 18 a 24 anos chegou a 19,3%, o menor índice desde 2015. Além disso, em estudo publicado pelo Instituto McKinsey em 2024, essas gerações são as que mais consomem produtos e serviços de bem-estar. A pesquisa foi realizada com jovens do Reino Unido, China e EUA, comprovando que se trata de um fenômeno global.
O termo wellness se popularizou nas redes sociais em 2020, durante a pandemia de COVID-19, momento em que as atividades em grupo foram restritas e as pessoas se voltaram ao consumo do bem-estar individual. Atualmente, a hashtag #Wellness no TikTok tem mais de 4,4 milhões de vídeos, onde são compartilhados os cuidados com saúde e rotinas regradas dos usuários, a nova tendência do momento.
Em 2020, o valor do mercado de wellness ao redor do mundo era estimado em 4,3 trilhões de dólares. Já em 2024, o Instituto McKinsey comprovou que o setor movimenta mais de 18 trilhões de dólares. Tais dados comprovam que o bem-estar se tornou uma tendência que veio para ficar, moldando novos hábitos de vida e de consumo.
Os pilares da cultura wellness são provenientes de uma troca de vícios em festas e álcool, segundo o psiquiatra Vitor Felix de Toni. “Atos compulsivos, uma vez que suprimidos, tendem a gerar deslocamentos. Ou seja, outros atos compulsivos”, afirma o médico. Assim como qualquer vício, essa cultura de imagem representa um lugar em que os jovens possam se ancorar, entrando em um espaço social específico, para se sentirem menos angustiados.
Dentre os principais motivos para as gerações Z e Y usarem menos substâncias nocivas, segundo o CISA, estão uma maior conscientização a respeito dos efeitos do álcool, transformações nas normas sociais e culturais e maior preocupação com a saúde física e mental. Além disso, as mudanças nas estruturas e relações familiares vêm estimulando os adolescentes a terem uma comunicação mais aberta com seus pais sobre o assunto, evitando o consumo precoce de entorpecentes.
Laura Kim, influencer digital de conteúdos de lifestyle, acredita que a cultura de bem-estar não substituirá totalmente os hábitos tradicionais dos jovens, mas trará questionamentos sobre um possível equilíbrio além das convicções já estabelecidas sobre o que é ser jovem. “A galera tá começando a perceber que cuidar do corpo e da mente também pode ser prazeroso, e que não precisa abrir mão do social para isso — só que talvez o social também comece a ganhar novas formas, com rolês mais tranquilos, experiências mais significativas e menos excessos”, afirma a blogueira.
O antropólogo Paulo Augusto de Alcântara, professor da ESPM-SP e pós-doutor em antropologia pela USP, analisou o mercado dessa nova onda de bem-estar e diz que, ao propor disseminar práticas, valores e significados associados à conquista de uma vida mais saudável, essa tendência acaba por inventar estilos de vida, em muito pautados pelo consumo, envolvendo a utilização de produtos, espaços, conhecimentos e tecnologia. “Eu tendo a pensar que essa associação entre estilo de vida disseminado e o poder do acesso pode interferir na maneira como os jovens, especificamente, podem se enxergar e se ver na sociedade, isto é, sua autoimagem”, declara.