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Cartas na Mesa: Hamilton Ribeiro e Humberto Pereira debatem o jornalismo

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Texto: Umberto Mannarino e Luiz Felipe Mihich (1º semestre de Jornalismo)

Fotos: Alana Ferrer (3º semestre de Jornalismo) e Nathalia Miranda (1º semestre de Jornalismo)

 

“Jornalismo e Democracia” é o tema do quarto episódio do programa Cartas na Mesa, que vai ao ar nesta quarta, dia 30 de maio. O programa, gravado no último dia 28 de fevereiro, promoveu um debate entre os jornalistas José Hamilton Ribeiro, 82 anos, e Humberto Pereira, 78 anos. Os dois são amigos de longa data e, inclusive, já haviam trabalhado juntos pela revista Realidade, na década de 1960. O debate teve um clima bastante amistoso, no qual os dois concordaram com a maior parte das questões abordadas.

 

Liberdade de imprensa

Para José Hamilton, o capitalismo é uma condição básica para se ter jornalismo com liberdade de expressão. Para ele, sem o capitalismo não há jornalismo. Pode até haver jornalista, mas não tem jornalismo. “Se tiver um outro governo, o socialismo, o nazismo, ou o comunismo, não tem imprensa, não tem jornalismo”, afirmou. Humberto, ao concordar, disse que durante uma ditadura, por exemplo, o jornalismo é uma ilusão, algo manipulado para induzir o público a acreditar naquilo que o governo quer que ele acredite. “Você está lá em determinado lugar, tem lá o produto impresso, o jornal na banca, o programa de televisão, mas não tem jornalismo acontecendo, por estar debaixo de uma ditadura”, resumiu.

 

Origem da democracia e do jornalismo

Humberto disse que a palavra democracia é de origem grega, uma junção de povo e poder. Portanto a democracia é o poder exercido pelo povo. Enquanto o jornalismo tem uma origem mais recente, a necessidade de informação por parte do povo existe desde sempre e veio à tona pela primeira vez, na chamada “Batalha de Maratona”, lembrou Humberto. No caso um mensageiro correu dezenas de quilômetros a Atenas para simplesmente notificar o povo que haviam vencido a guerra contra os persas. Dizem que na sequência morreu de exaustão. “Para mim o jornalismo começou aí”, disse.

 

Internet e jornalismo

Para José Hamilton, a internet se tornou uma “poeira de notícias”, onde é impossível discernir o que é verdade, o que é inventado e, até mesmo, o que é fofoca. Ele sintetizou que o jornalista hoje não é mais o responsável por transmitir a notícia. “Esse jornalismo de levar a notícia foi se sofisticando. Hoje o jornalismo não tem mais que levar a notícia, tem mais a função de vigiar o poder”. Humberto completou afirmando que a internet é hoje a grande praga do milênio, principalmente as redes sociais, pois nelas correm as fake news (notícias falsas). “É uma ferramenta poderosa que está nas mãos de todo mundo. Por exemplo, se a Folha de S.Paulo, ou O Globo, ou qualquer jornal importante, publica uma notícia falsa, ele tem endereço”, disse, referindo-se ao possível rastreamento da origem de uma informação errada e à responsabilidade que os grandes veículos têm de checar os dados antes de publicar.

 

Influência política e econômica no jornalismo

Humberto disse que apesar de ser muito difícil evitar essa influência, o jornalismo tem uma definição ideal, uma ética, que faz com que ele tente evitar ser afetado pelos poderes político e econômico. “Isso gera uma batalha diária por parte de cada redação que se respeite, com o intuito de se vacinar contra essas contaminações”, afirmou. José Hamilton concordou, acrescentando que as grandes empresas hoje tentam se blindar ao máximo das pressões feitas por essas potências. “Elas tentam fazer seu produto isento dessa influência indesejada”, disse.

 

Herança da ditadura

Ambos afirmaram que a ditadura deixou uma herança positiva para o jornalismo, um espírito de heroísmo, de resistência. José Hamilton contou que durante a ditadura, quando trabalhava como editor-chefe da revista Realidade, chegou a ser ameaçado de morte por um delegado, após dizer que não sabia a localização de um repórter. Humberto também lembrou que a mídia, em determinado momento, deixava bilhetes com recados que diziam o que poderia e o que não poderia ser noticiado. “Eu me lembro que a gente chegava à redação da Globo, no final da década de 1970, e a primeira coisa que tinha que fazer era ir para um quadro de cortiça, onde pregavam recados e anúncios da Polícia Federal. Era um telex que vinha, dizendo o que você podia e o que não podia informar naquele dia”, contou. José Hamilton fez uma ressalva. Disse que esse período também teve um outro lado: por ter sido um tempo de estabilidade econômica, as empresas acabaram se fortalecendo. Humberto concordou dizendo que consequentemente o jornalismo econômico se desenvolveu muito nessa época, pois não sofria opressão por parte do governo. “O grande desenvolvimento do jornalismo econômico no Brasil foi debaixo da ditadura. No jornalismo econômico você podia falar de tudo”, disse.

 

As grandes mídias e o jornalismo atual

José Hamilton afirmou que o combate às grandes mídias é uma mera ilusão. Para ele, o jornalista precisa de uma grande empresa de comunicação para se estruturar. “Sem a empresa, você não tem mais jornalismo, porque não vai mais ter emprego para jornalista. A profissão de jornalista é uma profissão de empregado: se você não for empregado por uma empresa ou faz uma espécie de jornalismo Dom Quixote para poucas pessoas ou lhe restaria apenas se lamentar”, resumiu. Humberto discordou, dizendo que a internet não é feita apenas de notícias falsas, e ressaltou que existem jornalistas sérios, os freelancers, que por meio de blogs e das próprias redes sociais trazem informações. “A sociedade precisa desses jornalistas”, defendeu.

 

Liberdade de imprensa e democracia

Segundo Humberto, a luta pelo jornalismo livre de censura, pelo jornalismo democrático, acontece até hoje. Ele disse que o Poder Judiciário de uns tempos para cá tem controlado a imprensa, vazando apenas as notícias que venham a lhe favorecer. Para ele, o jornalismo deve se rebelar contra isso e lutar pela democracia diariamente. Ambos concluíram que devemos defender a democracia e a liberdade de imprensa a qualquer custo. “São dois valores que, se a gente bobear, a gente perde”, disse José Hamilton.

 

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