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Canto contra cotistas gera debate sobre racismo e elitismo

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Grupo hostiliza cotistas durante evento universitário. Foto: reprodução de vídeo/redes sociais

 

Henrique Campos Guerra (4º semestre)

 

Um episódio de racismo e elitismo envolvendo estudantes da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) e da Universidade de São Paulo (USP) ganhou os holofotes recentemente. Após relatos de que alunos bolsistas da PUC-SP teriam ridicularizado colegas da USP durante uma partida de handebol nos Jogos Jurídicos, realizada no sábado, 16, em Americana, interior de São Paulo. 

Entre os cantos classistas teriam feito menções pejorativas a “Cotistas” e “Pobres”. No âmbito criminal, os acusados dos atos racistas podem ser condenados por injúria racial, com penas que variam de dois a cinco anos de prisão, além de responderem civilmente por danos morais às vítimas. Administrativamente, a PUC-SP instaurou uma comissão para investigar o caso, podendo aplicar sanções que vão desde suspensão até expulsão. Os envolvidos também foram demitidos dos escritórios de advocacia onde estagiavam. 

Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), aproximadamente um a cada quatro universitários tem bolsa ou financiamento de outro tipo. Em 2023, o Brasil contou com quase dez milhões de estudantes do ensino superior, maior número dos últimos nove anos.

Os alunos bolsistas, que representam uma fatia importante da diversidade nas universidades (25%), enfrentam uma realidade paradoxal. Apesar de comprovarem alto desempenho acadêmico e taxas de conclusão superiores às dos não bolsistas — como apontado pelo próprio Inep, a partir do Censo da Educação Superior de 2023, que revelou que 51% dos bolsistas concluíram o curso, contra 41% dos não bolsistas —, muitos relatam uma vivência marcada por isolamento e solidão. Uma pesquisa de doutorado* em 2022, realizada por alunas da PUC Campinas, mostrou que 29% dos alunos com bolsa descreveram sua experiência universitária como solitária, destacando as dificuldades de adaptação e convivência em ambientes majoritariamente elitizados. 

E NA ESPM-SP?

Na Escola Superior de Propaganda e Marketing – São Paulo, são ofertadas 32 vagas para bolsistas por semestre, sendo no máximo quatro por cada um dos cursos da instituição. Em depoimento ao Portal de Jornalismo ESPM-SP, alunos bolsistas da instituição se posicionaram sobre como é ser bolsista na instituição: “Já escutei comentários preconceituosos dentro da faculdade. Um aluno se referiu a uma colega como ‘aquela menina bolsista e favelada’. Não foi diretamente comigo, mas mostra como o termo ‘bolsista’ muitas vezes é usado de forma pejorativa”, afirmou um dos estudantes, que preferiu se manter anônimo.

 Outro ponto de insatisfação foi levantado em relação à falta de benefícios e suporte. “Diferente de outras universidades, na ESPM o preço de festas para sócios da Atlética é mais barato que para bolsistas. É como se eles criassem obstáculos para quem já enfrenta desafios financeiros”, avaliou o aluno. A dificuldade vai além do ambiente social: “Se você tem um problema, precisa resolver sozinho. A diretoria não ajuda, o centro acadêmico também não sabe o que fazer, e quem lida com os bolsistas não tem essa vivência. Muitas decisões não consideram nossa realidade”, opinou o estudante.

Nesse contexto, as universidades detêm um papel essencial na construção de um ambiente inclusivo. Existe a necessidade urgente de reavaliar as práticas institucionais. Universidades públicas e privadas precisam ir além da oferta de bolsas e criar políticas que promovam o diálogo, combatam o preconceito e incentivem a convivência respeitosa entre alunos de diferentes origens. Programas de acolhimento, mentoria e suporte psicológico são fundamentais para reduzir o isolamento e criar um ambiente mais saudável e inclusivo.

No caso da ESPM, a instituição utiliza recursos próprios para disponibilizar diferentes modalidades de bolsas, como integrais, parciais e restituíveis, contemplando alunos com excelente desempenho acadêmico e com renda familiar limitada. Além disso, a instituição oferece aos bolsistas as mesmas condições de formação e exigências acadêmicas dos demais alunos, reforçando o objetivo de formar profissionais de excelência e embaixadores de sua reputação.

*Pesquisa “Preconceito e Prounistas: ‘seu lugar não é aqui’ (Flávia de Mendonça Ribeiro e Raquel Souza Lobo Guzzo)

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