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Big Data abre portas para o jornalismo

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No planeta são produzidos, diariamente, cerca de 2,5 quintilhões de bytes de todo tipo de informação possível de imaginar. A quantia equivale a mais de 97 milhões de Iphones de 256 gigabytes sem espaço sobrando na memória, todos os dias. Entram nesta conta as mais variadas ações cotidianas da sociedade: desde absolutamente qualquer clique ou manifestação de opinião numa rede social à pesquisas na internet, passando por movimentações financeiras, pedidos de comida em casa e telefonemas. O termo Big Data é utilizado para descrever este imenso volume de dados que têm o potencial de impactar profundamente negócios e a maneira como entendemos o comportamento das pessoas.

Empresas de diversos setores – sobretudo de varejo e TI – já utilizam há algum tempo a mineração, organização e análise de dados para conseguir chegar a insights valiosos acerca das tendências de seus mercados e do comportamento dos seus consumidores, tornando possível a tomada de decisões mais precisas e assertivas, bem como a melhora expressiva dos processos de trabalho.

 

Por que jornalistas?

Tendo em vista a relevância que a análise de dados vem ganhando nos últimos anos – uma pesquisa feita em 2013 pela IDC, conceituada empresa americana de pesquisa de mercado e consultoria, indicava que até 2020 o mercado mundial de Big Data deveria crescer 600% a mais do que a TI, movimentando mais de 40 bilhões de dólares no período – o jornalismo encontrou, na análise de dados, sua mais nova fonte.

Para Claudio Bruno, jornalista e diretor de conteúdo da Cortex Intelligence, empresa de software que acaba de inaugurar área de Big Data Analytics, este é o melhor momento para investir na carreira jornalística: “O jornalismo só está em crise pra quem ainda enxerga a profissão com duas únicas alternativas de carreira: redações e assessoria de imprensa”, declara. “As empresas estão se dando conta de que precisam contratar profissionais que consigam ler dados e traduzi-los com eficácia. Se formos analisar a atividade jornalística de modo simples, é basicamente isso: facilitar o entendimento do público sobre os acontecimentos da sociedade”.

Não são apenas jornalistas os profissionais capacitados para exercer a profissão de analista de dados, mas para Bruno há uma espécie de “exigência velada” dos clientes para que os trabalhadores da área tenham este viés de formação superior. “O raciocínio do cliente é simples: preciso entender como a imprensa está me retratando e como isso influencia na minha imagem. Não posso dizer pra ele que tenho um físico analisando sua marca na mídia”, reforça. No entanto, a equipe da CortexIntelligence é multidisciplinar e conta com publicitários, engenheiros de variadas áreas e economistas. “Na hora de analisar a cobertura da imprensa, prefiro jornalistas. Mas as discussões sobre as análises e, mais do que isso, o cruzamento daquelas análises com dados econômicos e de outros setores faz necessária a presença de pessoas com outras formações na equipe”, completa.

Claudio Bruno, diretor de conteúdo da Cortex: trabalha com jornalismo de dados há mais de 10 anos. Foto: Gabriel Wainer

É importante ressaltar que, ao contrário do que se imagina ao ouvir termos relacionados ao assunto como deeplearning, machinelearninge open data, os profissionais que trabalham com Big Data não precisam, necessariamente, ter conhecimento de programação. “Nós possuímos um sistema que extrai as informações que queremos conhecer e, a partir dessa extração, construímos nossas análises”, informa Bruno. Desta forma, conhecimentos muito precisos e avançados de programação e tecnologia não são pré-requisitos para trabalhar na área.

Mudanças na profissão

Na era da internet, da convergência de mídias e do jornalismo de dados, no entanto, as prioridades da profissão passam por mudanças significativas. “O furo jornalístico deixa de ter a importância que tinha e passa a assumir esse protagonismo a análise do fato e o significado de determinados acontecimentos, suas implicações”, afirma Deborah Salgado, analista de mídias da agência de análise .MAP. Entre as principais funções de Deborah está a análise diária de uma amostra de mais ou menos 250 manifestações nas redes sociais acerca dos principais temas de discussão nessas plataformas: política, economia, entretenimento e questões sociais. Desta análise diária é extraído um relatório semanal que serve como “termômetro” destas questões e é enviado às empresas que contratam a consultoria.

“O retorno é fantástico”, avalia Deborah. “Nossos clientes querem estar conectados às expectativas da sociedade e nosso índice é um antecedente destas expectativas. Uma empresa precisa saber o que a sociedade pensa sobre o cenário político atual, bem como questões delicadas como os direitos das minorias sociais, antes de fazer uma ação de marketing”, exemplifica.

Deborah Salgado, da .Map
Foto: Laís Namura.

 

Jornalismo “de verdade” 

Apesar de ter aberto uma vasta diversidade de caminhos a serem seguidos pelos jornalistas, os meios tradicionais não estão ficando para trás na utilização das ferramentas de análises desses dados. O repórter do jornal Valor Econômico, Estevão Taiar, utiliza diversos relatórios sobre comportamento nas redes sociais para elaborar suas matérias. “Não existe mais fazer análise de cenário político ignorando as redes sociais”, afirma, taxativo. “Atualmente, existe um mar de informações nas redes que são de extrema relevância para quem quer entender o comportamento do eleitor. No ritmo enlouquecido da redação, precisamos que esses dados cheguem até nós organizamos para que façamos nossas conclusões”, sublinha.

Caio Recha, analista da área de pesquisa da Editora Abril, reforça que são poucas as matérias dos veículos da editora que saem das redações sem ao menos a consulta a alguma base de dados estruturada. “A Veja talvez seja a campeã, uma vez que trata mais especificamente de assuntos de grande relevância política e econômica, mas as outras revistas não ficam muito atrás”, revela. “Até a Arquitetura&Construção utiliza Big Data pra entender, dentro do seu nicho, quais são as tendências de mercado e produzir matérias a partir disso”, complementa.

O campo da análise de dados já é amplo, mas ainda há espaço para crescer muito mais. Para quem pensa que o jornalismo está em crise porque seu modelo de negócios foi ultrapassado pela tecnologia, melhor repensar: nunca houve tantas alternativas para quem quer trabalhar com a informação de modo dinâmico, preciso e assertivo. Os caminhos são variados: das agências de comunicação às redações – digitais e mais enxutas do que há 20 anos -, aprender a minerar, organizar e analisar dados pode ser um diferencial importante no currículo de um jornalista do século XXI.

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