Ativista fala sobre veganismo popular ao Portal de Jornalismo da ESPM-SP

Lívia Matos (1º semestre)

Veganismo é uma filosofia pela qual os indivíduos não consomem nada de origem animal. Embora alguns destes alimentos possuam valores mais altos que a média dos alimentos de origem animal, pode ser acessível a muitas pessoas. Além disso, uma das correntes defende o consumo de alimentos na forma de matéria-prima, não-industrializados, ou seja, frutas, leguminosas, grãos, dentre outros, comprados, preferencialmente, de pequenos produtores, barateando o custo.

Giovanna Botelho, 23, é estudante e vegana há 1 ano e 9 meses. Ativista e estudiosa do assunto, chegou a influenciar pessoas próximas, como seu pai, e usa o próprio perfil em uma rede social, o instagram, para popularizar a filosofia (@_gibotelho). Ao Portal de Jornalismo, apresentou seu ponto de vista sobre o assunto e relatou as suas experiências.

Portal de Jornalismo (PJ): Como você explica o que é o veganismo popular? Qual é a importância dele?

Giovanna Botelho (GB): O veganismo popular é abrangente e diverge do veganismo elitista (muito influenciado pelo modismo) que vem se espalhando rapidamente. Trata-se de conhecer os alimentos e as nossas necessidades. Tem como base que os direitos dos animais e humanos nunca serão plenamente respeitados enquanto houver o capitalismo, e pode ser considerado, portanto, um posicionamento político e abolicionista.

PJ: Na sua opinião, se as pessoas aderissem ao veganismo, quais mudanças ambientais ocorreriam?

GB: Diminuição gigantesca na emissão de carbono e gases de efeito estufa (contribuindo com o combate ao aquecimento global), o consumo de água diminuiria drasticamente assim como seus poluentes, maior preservação das florestas e da vida marinha. Teríamos muito mais espaço livre, que poderia ser usado para produzir alimentos e efetivamente alimentar muito mais pessoas do que com a produção de gado, por exemplo, e diminuindo o desperdício.

PJ: Você sentiu diferenças na sua saúde desde que aderiu ao veganismo popular?

GB: Sinto que conheço meu corpo e o funcionamento do meu organismo muito melhor agora. Entendo quais alimentos são melhores para mim, quais evitar, sinto que tenho mais controle sobre meu corpo, e uma sensação de leveza muito boa. Antes de me tornar vegana, eu costumava ter bastante anemia, e desde que me tornei vegana não tive mais, tanto que sou doadora de sangue. Faço uso de suplementos e vitaminas quando necessário.

PJ: Comprar de pequenos produtores é acessível? Por que deveríamos fazer essa escolha?

GB: Sim! Feirinhas e pequenos produtores podem ser encontrados em praticamente em todo o Brasil! O desperdício de alimentos é muito menor que o de uma grande produtora, muitas vezes pequenos produtores têm formas de reaproveitar alimentos que, em outras situações, iriam para o lixo. Você sabe de onde vem seu alimento e para onde vai seu dinheiro ao comprar assim. Não é o mesmo que comprar produtos orgânicos, que, infelizmente ainda é algo inacessível para a grande maioria dos Brasileiros.

PJ: Mais alguém da sua família é vegano? Como foi para eles quando você se tornou?

GB: Sim! Minha prima se tornou vegana alguns meses depois de mim. Eu estava morando com ela e a família dela na época. Cerca de um ano depois, meu pai, que foi vegetariano a maior parte da vida, por minha influência, se tornou vegano também. Consegui tornar a alimentação do meu cachorro vegana também, com acompanhamento veterinário, claro. No início minha família fazia piadas, mas depois as pessoas vão se acostumando. No meu caso, sempre respeitaram minha escolha e buscam alternativas compatíveis quando estamos juntos. Devido a essa convivência, alguns passaram a se sensibilizar um pouco mais pela causa e alguns aderiram à “segunda-feira sem carne” e a utilizar apenas cosméticos veganos e que não testam. Acho que é válido sempre lembrar que o veganismo deve ser incentivado mas, como se trata de uma escolha individual, forçá-lo não é a maneira de fazer isso, e pode surtir o efeito oposto ao desejado. Se quisermos respeito, esse respeito deve ser mútuo.

PJ: Para você, a adaptação foi difícil?

GB: Não! Tudo é questão de hábito, seja na alimentação, na leitura de rótulos ou qualquer outro quesito. Somos seres muito adaptáveis! No começo, sofri um pouquinho com as tentações, mas no geral foi supertranquilo, como já havia sido vegetariana por vários anos, foram poucos os produtos dos quais senti falta (e hoje temos cada vez mais opções). Minha maior dificuldade é encontrar substitutos para produtos bem específicos (estética e limpeza) mas nada realmente essencial.

PJ: É caro ser vegano?

GB: Depende. Alimentar-se somente de industrializados e fast-food provavelmente sai mais caro do que uma alimentação tradicional. E o veganismo fica mais barato.