Márcia Magalhães Andrada – (2º semestre)
A Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, situada no Centro Histórico de Salvador-BA, mais especificamente na ladeira do Pelourinho, é uma igreja católica construída no século XVIII que teve seu conjunto arquitetônico barroco tombado pelo IPHAN em 1938.
No Brasil Colônia, a religião católica representava uma grande força. Muitos negros escravos e alforriados eram devotos de Nossa Senhora do Rosário e se organizavam nas chamadas irmandades ou confrarias: agrupações religiosas de ajuda mútua que à princípio reuniam-se ao lado de igrejas.
As irmandades em Salvador traduziam-se em alianças sociais e culturais com diferenças raciais e econômicas, de modo que pretos, pardos e brancos faziam parte de irmandades distintas, reproduzindo a estrutura da sociedade daquela época. Apesar disso, a criação de irmandades negras foi uma forma encontrada pelos negros de fortalecer seus vínculos e preservar sua cultura.
A Irmandade de Nossa Senhora do Rosário de Salvador foi uma das primeiras irmandades negras do Brasil, formalmente constituída em 1685 por negros do Congo e de Angola que congregavam inicialmente em capela interna à Igreja da Sé.
Essa irmandade se expandiu e em 1704 deteve os recursos necessários e recebeu a permissão do arcebispo D. Sebastião Monteiro de Vide para a construção de uma igreja própria nas Portas do Carmo.
A construção da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, contudo, se deu lentamente por cerca de quase um século devido ao fato de que a irmandade não tinha muito dinheiro e os irmãos que doavam sua força de trabalho para a construção quando podiam.
Na segunda metade do século XIX, o interior da igreja foi redecorado, ganhando novos altares em estilo neoclássico e pinturas, onde destacam-se os azulejos em devoção à Nossa Senhora do Rosário de Lisboa e à vida de São Domingos, fabricados em Portugal e datados de 1790.
Os altares são em estilo neoclássico, realizados na década de 1870 e neles há imagens como as de Nossa Senhora do Rosário do século XVII e de Santo Antônio de Categeró, São Benedito, Santa Bárbara e um Cristo crucificado em marfim. Além disso, nos fundos da igreja existe um antigo cemitério de escravos.
Para além de sua beleza exuberante, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos carrega consigo muita história e é bastante conhecida pela união entre os ritos católicos e a tradição africana.
Embora a liturgia dos cultos seja a mesma de todas as Igrejas Católicas Apostólicas Romanas, a celebração dessa igreja inova ao trazer elementos da cultura africana como percussão, cantos (inclusive em iorubá), danças e a devoção a outro santos de tradição afro-católica, o que atrai visitas até mesmo dos não católicos e dialoga com o sincretismo baiano.
Em setembro, por exemplo, a igreja celebra a festa de Nossa Senhora da Conceição da Muxima, também conhecida por Mama Muxima (que quer dizer “Mãe do Coração”), padroeira de Angola cuja imagem está no Brasil desde 2017 como uma forma de estreitar os laços de irmandade cristãos com o continente africano.
Ao som de tambores e agogôs, a Igreja de Nossa Senhora do Rosários dos Pretos mantem o legado africano na cidade de Salvador para além da expressão da fé, configurando-se enquanto uma verdadeira instituição social e política que não permite que a resistência negra caia no esquecimento.
Palavras-chave: irmandades negras; sincretismo religioso; templos religiosos, Pelourinho.