Em parceria com a Columbia Journalism School, o curso de Jornalismo da ESPM promoveu mais um seminário para debater a profissão e sua relação com os públicos
Participaram desta cobertura alunos das oficinas experimentais Portal de Jornalismo, Fotojornalismo e Linkados na Área *
Na última quarta-feira (29) aconteceu o 5º Seminário Internacional de Jornalismo, evento promovido anualmente pelo curso de Jornalismo da ESPM em parceria com a Columbia Journalism School, uma das mais importantes universidades da área de comunicação no mundo.
O evento deste ano teve como tema central “Jornalismo e as redes sociais: a importância da relação do jornalista com o público na produção de conteúdo jornalístico”, e contou com as presenças de Elena Cabral, da Universidade Columbia, de Mauro Beting, Fabiana Oliveira e Phelipe Siani, entre outros.
Veja galeria de imagens do 5º Seminário Internacional de Jornalismo ESPM Columbia Journalism School
Com apresentação da professora da ESPM Patrícia Gil, o seminário foi aberto pelo presidente da ESPM Dalton Pastore, que saudou os presentes e ressaltou a importância do jornalismo, aconselhando os estudantes e profissionais presentes a buscarem novas formas de fazer jornalismo, o modo de fazer que seja único e criativo.
A palestra de abertura foi conduzida pelo editor da Revista de Jornalismo ESPM, edição brasileira da Columbia Journalism Review, José Roberto Whitaker Penteado, que contou sobre a história da edição brasileira da revista e salientou a importância dessa parceria para trocas de experiências entre profissionais de países diferentes.
Uso de redes digitais
Elena Cabral, professora e assistente do reitor nos programas acadêmicos e comunicações na Columbia Journalism School, falou sobre as redes sociais como uma ferramenta de reportagem.
De acordo com os dados do estudo Muck Rack, de 2021, pelo State of Journalism Report, apresentados pela palestrante, pelo menos metade dos americanos consomem notícias online, e as três redes mais utilizadas para esse propósito são o Twitter, o Facebook e o Linkedin. Considerando que a tendência é que esse costume continue crescendo, a professora explicou como os jornalistas devem usar suas redes.
Trabalhar em uma boa “bio”, com a descrição de seu cargo e interesses, além de ter presença, informações de contato e um canal direto entre o público e o repórter são algumas das recomendações para manusear as ferramentas digitais com sucesso. A interatividade que os canais proporcionam é um dos recursos mais valiosos para a comunicação atual, já que o público demonstra mais interesse em conteúdos participativos.
Pensando nisso, Elena introduziu o conceito de “Crowdsourcing”, que significa utilizar o público como fonte, convidando-os a participar. Um exemplo bem-sucedido desse conceito foi o trabalho desenvolvido pelo jornal “The Guardian” em 2014. O projeto conhecido como “The counted” desenvolveu uma plataforma que mantinha contabilidade de cidadãos assassinados pela polícia, sem dados governamentais, todos os casos eram informados por familiares, amigos, conhecidos, vizinhos, entre outros. A investigação resultou em uma página no Facebook e sua influência fez com que o FBI se pronunciasse, garantindo a busca por mudanças.
Apesar de percepções errôneas sobre o Crowdsourcing, a convidada reforçou que “não se trata de grupos aleatórios de pessoas, ou de substituir os jornalistas, muito menos de que façam seu trabalho por você”. O recurso serve como uma forma de colaboração entre o comunicador e seu público-alvo. Ainda trabalhando com telespectadores, as “Breaking News” (notícias de última hora) muitas vezes são complementadas com conteúdos gerados pelo usuário, como vídeos e ligações sobre o que e onde o fato acontece, além das fontes oficiais.
Pensando nisso, a professora finalizou a palestra mencionando a ética necessária para trabalhar com diferentes audiências e manter o objetivo informativo, sem parcialidades, em primeiro lugar. “Sua simples participação em certos grupos pode ser vista como forma de respaldo do seu ponto de vista, considere se pode conciliar seus propósitos simplesmente observando a atividade em grupo, ao invés de se tornar membro”, aconselhou.
Antes de encerrar, a convidada sintetizou seu ponto e reforçou a importância de estar inserido nos meios digitais, sem medo de se impor e dominando as ferramentas, sem se importar com fama ou seguidores. Elena ainda citou ferramentas importantes, como o Google Alerts e o First Draft News, que devem ser aliadas de todo jornalista.
Relação com o público
O seminário continuou com a mesa -edonda com o tema “A relação entre jornalista e o público no dia a dia da profissão”. A discussão contou com a participação dos jornalistas Fabiana Oliveira, apresentadora e repórter especial do Domingo Espetacular na Record, Mauro Beting, apresentador do SBT, TNT e Jovem Pan, e Phelipe Siani, apresentador da CNN Brasil. Antonio Rocha Filho, jornalista e professor da ESPM-SP, foi o mediador da conversa.
Fabiana foi a primeira a falar e ressaltou a importância das redes sociais para o jornalismo. Ela chamou de “sociedade conectada” o fluxo de informação, proporcionado pelas redes, entre jornalista e audiência. “O público que recebe a informação se comunica com o interlocutor. Assim como abastece (fontes) por meio desse contato direto. As estradas que interligam todas essas pontas são as redes sociais”, enfatizou.
A apresentadora também destacou que as novas tecnologias são complementares às mídias tradicionais, e não concorrentes. “A nossa mensagem precisa chegar, qual estrada ela vai pegar, tudo bem, não há concorrência”. Por fim, Fabiana apresentou mais um dado que reforça a influência das redes sociais atualmente: a Kantar/Ibope anunciou que dados de audiência em plataformas digitais serão somados aos coletados tradicionalmente.
Em entrevista em audiovisual para a aluna Evellyn Schulze, após a mesa-redonda, Fabiana aprofundou a sua relação como jornalista com as redes sociais. Confira:
Mauro Beting deu continuidade à mesa-redonda falando sobre o posicionamento dos jornalistas nas redes sociais, a repercussão disso e como ele lida com as críticas e ataques que recebe. Mauro defendeu que o jornalista pode expor sua opinião em suas redes, desde que se responsabilize pelas possíveis consequências, como as críticas.
“Às vezes somos chamados de ‘isentão’. No jornalismo, temos que buscar a melhor versão possível dos fatos, temos que tentar ser isentos, é função básica, nosso dever, tentar ser o mais plural possível”, pontuou. Ele ainda contou que não bloqueia perfis que o atacam nas redes sociais e até segue alguns. “Não podemos sair bloqueando as pessoas. A gente tem que dar o contraditório, mesmo que nos xinguem”. Mauro terminou sua fala criticando a importância, segundo ele demasiada, que os veículos jornalísticos dão para os índices de audiência.
Depois do debate, em entrevista em audiovisual para o aluno Gabriel Mayer, Mauro falou o sobre as redes sociais e o jornalismo esportivo. Assista:
Phelipe Siani focou nos algoritmos das redes sociais, que para ele são os principais responsáveis pela polarização no mundo de hoje. “Quem é direita, só recebe informação de direita, e quem é de esquerda, só recebe informação de esquerda. Então a pessoa realmente acha que o mundo concorda com ela”, explicou.
O apresentador também alertou os estudantes sobre as críticas recebidas e a importância da terapia para o jornalista. “O primeiro passo para a ruína do jornalista é querer agradar todo mundo”, disse Phelipe, ressaltando que é importante ouvir quem critica, mas com certos filtros, pelo bem da própria saúde mental. “Façam terapia desde já, precisamos confiar na nossa saúde mental, os comentários do Instagram não necessariamente refletem a realidade, é um recorte”.
Phelipe terminou dizendo sobre o engajamento nas redes sociais, que segundo ele varia muito em razão do interesse das plataformas. “Nem tudo é o que parece em um mundo com tantas redes sociais”, completou.
Em entrevista em audiovisual para a aluna Maria Fernanda Neves, depois da mesa, Phelipe destacou a necessidade de sempre buscar novas narrativas e estar atento ao que audiência diz nas redes. Veja:
Rodada de perguntas
Após as apresentações, perguntas da audiência foram direcionadas aos participantes da mesa. “Como separar a figura pública das atividades profissionais do jornalista?”, foi a primeira. Fabiana resumiu a resposta com duas palavras, responsabilidade e equilíbrio, mas admitiu que é muito difícil descolar a sua imagem, do lugar onde trabalha e do que produz.
Já Phelipe não acha o equilíbrio possível.Segundo ele, a partir do momento em que se torna pessoa pública, as publicações nas redes mudam, e não é possível separar as duas coisas. Mauro disse que se deve respeitar as preferências dos outros e o que publicam.
A última pergunta foi sobre como o jornalista lida com a busca da realidade, enquanto está constantemente sendo questionado pelo público. Phelipe disse que não se pode ter medo de contar histórias, e que a verdade deve ser o objetivo final, mesmo sendo difícil alcançá-la. Mauro ressaltou a necessidade de as pessoas, sobretudo o jornalista, lerem as mais diversas vertentes e opiniões. Fabiana enfatizou que também é necessário enxergar e cruzar os diferentes lados da notícia, em busca da informação correta.
Os participantes finalizaram com mensagens para os alunos, Mauro agradeceu pelo convite e aos participantes pela troca de experiências. “Sejam autênticos e não pirem”, disse Phelipe, assim como Fabiana: “Seja você, porque como você, não tem ninguém”.
Maria Elisabete Antonioli, coordenadora do curso de jornalismo da ESPM, encerrou o seminário com uma síntese do evento e agradecimentos.
Assista ao vídeo com a íntegra do 5º Seminário Internacional de Jornalismo ESPM Columbia Journalism Schoool:
*Créditos da cobertura:
Portal de Jornalismo: Eduardo Fabrício e Larissa Crippa (2º semestre de Jornalismo)
Fotojornalismo: Karina Lopes, Júlia Dal Bello, Nicholas Thornton (1º semestre), Felipe Padovese (2º semestre), Analu Rigatto, Antônio Molina e Vitor Altino (4º semestre de Jornalismo)
Linkados na Área: Evellyn Schulze, Maria Fernanda Neves (1º semestre) e Gabriel Mayer (2º semestre de Jornalismo)
Edição de imagens e vinheta de vídeos: Jenniffer Bertarelli (Núcleo de Imagem e Som)
Orientação: professores Francine Altheman, Heidy Vargas e Erivam de Oliveira
Supervisão: professor Antonio Rocha Filho