Preconceito racial continua gerando polêmica na política mundial

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Arte: Renata Fleischman

Nomeada no final do mês de abril como primeira ministra negra da história italiana, Cecile Kyenge teve de encarar uma série de críticas e provocações que trouxeram à tona um debate dos mais antigos do homem moderno: o preconceito racial. Isso porque, logo após sua eleição, grupos de extrema direita passaram a atacá-la publicamente – houve, inclusive, páginas fascistas na internet que a nomearam “macaca congolesa”, em referência à sua origem africana. Pichações em frente à sede do Partido Democrático também mandavam a ministra “voltar para o Congo”. Em resposta, Cecile defendeu-se afirmando que tem orgulho de ser negra e priorizará medidas a favor dos filhos de imigrantes residentes na Itália.

O caso é representativo das polêmicas raciais, tão comuns na política quanto em outras esferas da vida pública. No Brasil, a deputada Benedita da Silva (PT) foi a primeira mulher negra a ocupar uma cadeira na Câmara, e, em suas declarações à imprensa e atividades, dirige-se à população afrodescendente, que compõe parcela significativa de seu eleitorado.  Do mesmo modo, o presidente norte-americano, Barack Obama, teve sua campanha de eleição de 2008 marcada pelo discurso da mudança e da renovação – o que, indiretamente, também estava ligado à sua etnia.

Para o sociólogo e professor Pedro Jaime, a construção de uma identidade negra consiste em diversos fatores, como origem familiar e experiências na escola, na vizinhança e em outros grupos sociais. Nessas vivências, o indivíduo constrói uma visão positiva ou negativa de sua identidade. “Sabemos da origem de Benedita da Silva, das favelas do Rio de Janeiro, e de sua militância nos movimentos populares. Esses ambientes certamente favoreceram a construção de um orgulho racial de sua parte”, exemplifica.

Com relação à presença de preconceito, a psicóloga Cristina Souto Rigotti é enfática: “O preconceito racial está muito presente; de um modo mais velado, mas existe”, diz. Jaime concorda com tal afirmação. “O preconceito e a discriminação racial estão evidentes. Os negros são vítimas de atitudes e comportamentos racistas no mundo contemporâneo”, afirma.

O sociólogo aponta, ainda, que o preconceito é uma atitude mental – o indivíduo pode guardá-lo e nunca revelá-lo a ninguém. Já a discriminação é o preconceito transformado em ato, seja em forma de insulto ou de exclusão. “O comportamento racista pode ser coibido com leis que transformam o racismo em crime e com a vontade política de fazer essas leis funcionarem, porém isso não impede que o racismo continue presente no íntimo de certas pessoas”, argumenta. “Nesse caso, as armas são a educação e os projetos sociais e culturais estruturados em torno da convivência inter-racial.”

Orgulho X Vergonha

De acordo com Cristina, o fato de as pessoas reforçarem, em seus discursos, sua própria etnia é positivo. O risco, para a psicóloga, reside na própria não aceitação desses traços pelo indivíduo. “Quando uma pessoa assume uma posição ela não precisa falar, ela demonstra”, afirma.

Também é um direito das pessoas sentir vergonha. “É um sentimento pessoal. Da mesma forma que uma pessoa tem vergonha de ser alta ou baixa, ninguém manda no sentimento de ninguém, e se as pessoas não se aceitam de fato como são esbarra-se em um problema mais sério, que se relaciona à baixa autoestima”, diz. “Se isso impacta na vida familiar, pessoal e profissional, é importante buscar tratamento”.

 Renata Fleischman (1º semestre)

1 Comment

Enio Moraes Júnior 29 de maio de 2013 - 07:29

Renata, parabéns pela escolha da pauta e pelo texto. É sempre importante que o Portal traga discussões referentes à cidadania brasileira.

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