O Jornalista precisa ousar, diz André Caramante em evento na ESPM-SP

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Estudantes na III Jornada de Jornalismo da ESPM-SP. Foto: Urssula Nobre.

 

Na quinta-feira, 25, a lll Jornada de Jornalismo da ESPM-SP recebeu, no período da manhã, o jornalista investigativo André Caramante, que atua nas áreas de segurança pública e direitos humanos. Para um auditório lotado, ele relatou sua trajetória na imprensa brasileira, as experiências em reportagem e seu atual trabalho no site Ponte.

Caramante exibiu algumas reportagens, como o recente caso de despejo da Ocupação São João, abordando a experiência de cobertura e a situação crítica dos ocupantes. Após os vídeos, os estudantes de jornalismo tiveram a oportunidade realizar perguntas ao palestrante. Dentre as variadas perguntas, o jornalista foi questionado sobre as consequências de sua denúncia contra o ex-comandante da Rota, no ano de 2012. Em resposta, André contou que, após o episódio, recebeu uma série de ameaças, até contra seus filhos, e diante disso, mudou-se para os Estados Unidos, prosseguindo seu trabalho de lá.

Um dos pontos mais perguntados pelos estudantes foi a respeito dos riscos do jornalismo investigativo, e os cuidados que se deve ter. “Eu acho que vale a pena fazer jornalismo da maneira que nós acreditamos. Não é fácil, e nem sempre você terá as pessoas ao seu lado, mas é assim que eu me sinto bem. É uma questão de opção, de sonho, de querer fazer algo que tenha relevância”, disse.

O jornalista ressaltou a prioridade dos grandes veículos dada a reportagens que tratem de uma minoria. Para ele, os grandes jornais “não vão além do perímetro urbano de carros. Parece que o outro lado da cidade não faz parte dela”. O site Ponte tem como principal finalidade dar ao cidadão comum a mesma importância dada a voz das autoridades, explica.

André Caramante é repórter desde 1998, e passou por jornais como Folha de S. PauloAgora São PauloNotícias Populares e Diário Popular. O jornalista é reconhecido por realizar investigações e denúncias relacionadas a direitos humanos, tendo seu trabalho reconhecido com prêmios como o Santo Dias da Silva, em 2012, e o Prêmio Nacional de Direitos Humanos, concedido pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, em 2013, o mais relevante do país na área.

Além do trabalho em jornais, Caramante frequentou o Carandiru diariamente por dois anos, para produzir, junto a fotógrafa Maureen Bisilliat, o livro Aqui Dentro- Páginas de uma Memória: Carandiru, documentando os dois últimos anos de existência do presídio.

Após sua saída da Folha de S. Paulo, André, em parceria com outros 18 jornalistas, fundou o site independente Ponte, seu mais recente trabalho. Apesar de não remunerado, o site independente “é o sonho de qualquer jornalista.  É um site que hoje ainda não dá remuneração pra ninguém, mas apesar disso, a gente tem feito um trabalho que nos dá orgulho, porque é um jornalismo que a gente acredita e faz com dedicação, sem dinheiro envolvido. É por uma causa, uma militança em cima da reportagem”, afirma.

Caramante finalizou seu discurso ressaltando a importância da ousadia para o profissional do jornalismo, encorajando os estudantes a seguirem o que eles acreditam, colocando em prática suas ideias, ousando.

Bianca Gomes ( 1 semestre)