Nova forma de consumo de mídia exige seriedade na apuração jornalística

Painel sobre consumo de mídia e jornalismo no Seminário Internacional. Foto: Julia Salituro

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Ana Paula Oliveira e Beatriz Zara – 2º semestre de Jornalismo

A interconexão das mídias, especialmente com o uso da internet como complemento dos meios tradicionais, foi a mais forte tendência destacada ao longo do bate-papo sobre o consumo de mídia e jornalismo promovido no 1º Seminário Internacional de Jornalismo ESPM & Columbia Journalism School, no dia 9 de outubro, na ESPM.

Apresentada por Celso Teixeira, diretor de comunicação da Rede Record, uma pesquisa recente sobre hábitos de consumo da mídia pela população brasileira, realizada pela Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom), apontou que, mesmo com o crescimento da internet e do acesso às redes, o primeiro instrumento usado pelo público para consumir notícias é a televisão.

E um dos aspectos que mais beneficiam esse cenário, segundo Teixeira, é a compreensão – por parte dos interlocutores – sobre a realidade dos telespectadores. “O jornalismo regional e segmentado é um dos grandes responsáveis pela conquista da confiança da audiência no meio televisivo.”

Celso Teixeira destacou que a televisão não é apenas um canal de notícias, mas também de entretenimento. Sendo assim, a internet disponibiliza uma outra maneira de se utilizar a TV e, portanto, com a incorporação de novas tecnologias, a televisão, com 67 anos de existência no Brasil, é reinventada.

“Nesse momento, as possibilidades de se tornar um comunicador são enormes. Acredito, para ser um bom jornalista, é preciso estar a cada dia mais preparado, bem informado e destinado para o que você vai enfrentar. Isso é o que vai construir o seu nome, a sua credibilidade e diferenciar a informação profissional das que não seguem as premissas do bom jornalismo”, conclui Teixeira.

Conrado Corsalette, cofundador e editor chefe do Nexo Jornal, revelou que no processo de criação da publicação a ideia principal era ser um veículo esclarecedor e multimidiático. “Quando surgiu a internet, o jornalismo teve que lidar com ela”, relatou. Segundo ele, justamente por isso, é preciso sempre ter em mente que será a partir da história a ser contata que se definirá qual mídia deve ser usada, e não ao contrário.

Ricardo Gandour, diretor-executivo da rede de rádios CBN, complementou as discussões destacando que, mais do que a escolha do meio, o jornalista precisa se apoiar sobre três pilares essenciais e inexoráveis à profissão: a atitude, o método e a narrativa. “Atitude é aquela insatisfação em querer saber, descobrir; o método para organizar, planejar, cruzar fontes, identificar todos os lados de uma questão; e aí complementar com uma narrativa agradável, atraente e clara”, explica.

Ao comentar sobre a proliferação de notícias falsas nas redes, Gandour destacou que os três pilares atuam ao lado da responsabilidade, da admissão de erros. “As notícias falsas não são erros. Elas têm fins comerciais e objetivo de destruir reputações”.

Participantes do painel sobre jornalismo investigativo no Seminário Internacional ESPM & Columbia. Foto: Thaynah Silva

Jornalismo investigativo

A seriedade da apuração jornalística em oposição a essa proliferação de notícias falsas também norteou o painel sobre jornalismo investigativo. Para os palestrantes, as fake news estão presentes cada vez mais no dia a dia das pessoas, o que pode representar uma ameaça à essência do jornalismo. “Redes sociais são mecanismos de difusão de fake news. As pessoas precisam saber de onde vêm as informações”, disse Eugênio Bucci, editor da revista ESPM/Columbia.

Nesse sentido, a credibilidade do jornalismo foi uma das pautas da discussão.  “O enfraquecimento do jornalismo pode levar à catástrofe, como a ameaça à democracia”, afirmou Marcelo Rech, presidente da ANJ (Associação Nacional de Jornais). “É preciso se perguntar se o trabalho que está fazendo é relevante para alguém”, reforçou Diego Escosteguy, diretor editorial da Revista Época.

Dentre os temas abordados, estavam ainda os desafios enfrentados atualmente na produção de conteúdo que tenha a investigação como base. “Temos a reprodução do que fontes policiais estão dizendo, o que não é muito saudável”, disse Bucci. “Não podemos ser reféns das fontes oficiais”, complementou Escosteguy.

“A tentativa de quebra de sigilo contraria o que diz a Constituição, desmonta o princípio de confiança e credibilidade”, disse Rech, em contraponto à fala do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Carlos Ayres Britto, que poucas horas antes havia declarado que o Brasil é um país juridicamente de primeiro mundo.

Segundo Rech, isso mostra que, apesar de a liberdade de expressão ser um direito previsto pela Constituição, a censura ainda existe no Brasil, principalmente a judiciária, presente em dois momentos: antes de a matéria ser publicada e depois disso.