Músicos brasileiros comentam destaque do cenário musical atual

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Beatriz Araujo (1º semestre)

A indústria musical brasileira, em 2018, chegou a movimentar $ 298,8 milhões de dólares em receita. Atualmente, o Brasil ocupa a décima posição do Ranking Mundial dos 10 Maiores Mercados de Música Gravada, segundo dados da IFPI (International Federation of the Phonographic Industry). 

Embora haja grande repercussão entre o público, o cenário atual favorece apenas artistas dos dois principais gêneros musicais brasileiros: o sertanejo e o funk. O Top 200 do streaming musical de 2018, mostra que, dentre as 20 primeiras posições, apenas três músicas são de gêneros distintos dos principais.

Fonte: BMAT com informações da Deezer, Napster, Apple Music, Spotify e Google Play

Diante do cenário, surge o seguinte questionamento: que motivação leva os músicos a insistir neste mercado com estilos menos valorizados pela massa e pela mídia? O Portal de Jornalismo da ESPM-SP entrevistou três músicos e uma banda para conhecer melhor o trabalho e a opinião que eles têm sobre o assunto:

Firepit

Composta por Aaron Carli (voz/violão/guitarra), Adriel Rosinelli (bateria), Guilherme Monteiro (baixo) e Johnny Lopes (guitarra), a banda de rock underground, Firepit, lançou seu primeiro EP, Where The Story Begins, em março de 2019. Em pouco menos de três meses do lançamento de seu trabalho, a banda tem se apresentado com frequência em festivais, bares e casas de shows.

As músicas com autoria de Aaron Carli são compostas em inglês por uma questão de preferência. Segundo ele, a língua estrangeira proporciona reconhecimento internacional e faz com que o som da banda soe de maneira mais natural ao seu estilo. Apesar das críticas, o vocalista conta que a admiração pelo trabalho do grupo vem sendo cada vez maior, inclusive fora do Brasil.

De acordo com a banda, a principal motivação para a produção de conteúdo em uma esfera tão massificada é mostrar algo novo para a população. Além disso, assumem o amor como o principal fundamento de seu trabalho. “Acordar todos os dias e saber que você está fazendo o que ama fazer, não tem preço. Não importa se vamos tocar para dez pessoas ou para dez mil, o amor é o mesmo”, declara Guilherme.

Por possuírem influências e estilos diferentes, os integrantes acreditam que a banda seja um investimento e pretendem dar continuidade a isso com novos projetos. “Dar continuidade ao nosso trabalho com a Firepit é um sonho. Viver de música é um privilégio, fazendo o seu som e não tocando o som dos outros”, diz Adriel.

Hugo Branquinho

O mineiro e músico MPB, Hugo Branquinho, lançou seu primeiro álbum Embrião, em 2013. Influenciado pela carreira do irmão, começou a cantar nos bares de sua cidade natal, Três Pontas (MG), com 12 anos de idade e, desde então, não pensou em outra coisa além da música como trabalho.

Encantado pelo trabalho de Milton Nascimento, decidiu seguir o mesmo caminho do cantor. “A canção, a letra, a música, é isso que eu gosto mais de fazer, a MPB preza muito por isso”, conta. Milton fez uma participação especial na terceira faixa do álbum de Hugo, dedicada ao seu filho, Antônio.

Para o músico, quem realmente for interessado neste meio deve insistir, ir atrás das oportunidades e se unir com quem gosta do mesmo. “Sozinho você não vai a lugar nenhum. Na internet, você encontra outras pessoas que fazem e gostam da mesma coisa que você, una-se com elas e você vai crescer junto”, reforça.

Com o projeto de lançar singles ainda este ano, entre eles Teu por Inteiro, possui a expectativa de que a indústria musical traga mais essência em seu conteúdo. “Eu espero que as pessoas sejam mais autênticas. Às vezes elas ficam naquela coisa do ‘eu tenho que fazer o padrão’ e esquecem que devem fazer o que estão sentindo”, declara.

Neto Borges

Quando o assunto é música, “amor” é o sentimento que Neto Borges utiliza para se referir ao seu trabalho. O músico conta que, desde sua infância, passar tardes ouvindo música com o seu pai sempre foi algo muito comum e, como resultado de seu prestígio por esta arte, pretende representar a nova onda da MPB.

Com maior apreço pelo trabalho de Dave Matthews, Borges, conta que nomes como: David Ryan Harris, Jack Johnson, Jimmy Hendrix e John Mayer, servem de referência na composição de suas músicas. Segundo ele, ser autêntico, inovar e ter perspectiva de melhora no cenário musical, são características que funcionam como motivação para apresentar algo novo às pessoas. “A arte é muito maior do que quatro acordes e uma frase que fica na sua cabeça”, completa.

Ao acreditar que parcerias são essenciais para obter sucesso na construção de uma carreira, tem planos de realizar composições para outros músicos, e reforça: “Sucesso pessoal é muito mais importante do que reconhecimento externo”. Diante de uma crise no cenário atual, diz que a indústria se encontra sob uma “pirâmide musical” e produz apenas aquilo que supostamente vá ser aceito pela massa, moldando e impondo padrões aos novos artistas.

Como marco inicial de sua carreira, pretende lançar seu primeiro EP com três músicas acústicas: Semana, Tão Simples e Agora, ainda este ano. O projeto que, segundo o cantor, possui algumas de suas composições mais intimistas será lançado ainda este ano em todas as plataformas musicais.

Samuel Santos

Professor, produtor e arranjador musical, Samuel Santos já fez parte da Atrium Jazz Band, banda do programa de Hebe Camargo. Por nascer em uma família de músicos, conta que sofreu forte influência de seu tio e também da igreja. “A música faz parte da minha vida desde sempre, vem no sangue”, diz.

Amante do jazz e do blues, conta que os estilos entraram na sua vida em torno de seus 10 anos de idade e, desde então, começou a gravar música instrumental, para o Quartas Instrumentais, apresentado pelo Nelson Ayres. Ao seguir um gênero musical pouco em alta no mercado brasileiro, acredita não ser uma escolha fácil, já que não possui uma boa aceitação por parte do público. “Alguns dizem que é massante, não tem voz, não tem letra… mas esse tipo de música é verdadeira, de uma riqueza enorme”, explica.

Além disso, conta que sua principal motivação é sentir a vibração dos músicos na passagem de som. “É gratificante, prazeroso. Embora o universo musical tenha mudado, a minha concepção de música continua a mesma. Vou dar andamento nisso até o fim da vida”, ressalta.

Como consolidação de seu legado musical, Samuel, possui um projeto composto por temas autorais em colaboração com outros três músicos, o qual pretende gravar ainda este ano, com o nome de Samuel Santos 4Teto. “Eu quero deixar meu trabalho para as próximas gerações, ser lembrado” conclui.

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