Memórias do Fotojornalismo – Imogen Cunningham

Share

Theo Fava – (2º semestre)

A Imogen Cunningham é uma fotógrafa que merece destaque especial entre todos os modernistas do Século 20. Nascida em Portland, na costa oeste dos Estados Unidos, ela sempre teve uma aptidão pela arte, tendo aulas extracurriculares durante sua infância nas férias e aos finais de semana. Sua história com a fotografia, no entanto, começou em 1901, quando obteve sua primeira câmera fotográfica, aos 18 anos.

Cunningham começou com o movimento artístico do pictorialismo, como foi o caso de muitos outros modernistas. Seus primeiros trabalhos se concentraram em retratos e nus, com o foco suave e a pequena amplitude tonal que eram características desse movimento. Ela também demonstrou interesse pela botânica, matéria que estudou na universidade, e que mais tarde faria aparições importantes em suas obras modernistas.

No início dos anos 30, a fotógrafa se tornou membro fundadora do Grupo f/64 na Califórnia, que tinha um manifesto com regras estéticas para ampliar a importância do modernismo fotográfico. Embora o nome de Cunningham não seja tão conhecido quanto os de Ansel Adams e Edward Weston, é inegável que ela tinha o mesmo talento e domínio da técnica que esses outros indivíduos. Também é admirável que ela tenha conseguido esse nível de sucesso em uma época em que as mulheres não eram fortemente reconhecidas no meio e enfrentavam ainda mais opressão sistêmica do que hoje. Com certeza, trabalhar como mulher em um ambiente dominado por homens teve um efeito profundo em seu trabalho, dando-lhe um toque único que a destacou em comparação ao trabalho de seus colegas masculinos.

As flores que ela fotografava, como a que se vê nesta imagem em particular, seguiam todas as regras que estavam especificadas no manifesto do grupo f/64. A curvatura arredondada da flor recebe um destaque forte, e o fundo é completamente escuro, criando a ausência de qualquer coisa que pudesse desviar o observador da forma do objeto. Quem estuda geometria poderia associar a imagem da direita à espiral de Fibonacci, o que vem a mostrar o quanto a estética modernista foi influenciada por essa ciência. Além disso, a iluminação do objeto não poderia apresentar um contraste maior entre o branco e o preto, e o foco é extremamente nítido, pois detalhes extremamente pequenos são visíveis, como as imperfeições na textura da flor.

Cunningham eventualmente se tornaria fotógrafa para a Vanity Fair, uma revista de cultura extremamente famosa nos Estados Unidos. Embora o estilo modernista possa não ter sido a abordagem principal em suas obras durante esse período, quase todas as características do modernismo são visíveis nesta imagem (fig. 6). A composição é montada com muito cuidado e há um forte conflito entre a luz forte no rosto da dançarina fotografada e o fundo preto. O resultado é uma foto belíssima que mostra de verdade a exclusividade que o meio tem em capturar texturas e pequenos detalhes, como pretendia o modernismo.

Outro elemento curioso na vida de Imogen foi sua relação complexa com o fotógrafo Ansel Adams. Os dois tinham ideologias e visões de mundo completamente divergentes, especialmente em virtude dos ideais feministas de Cunningham, e constantemente faziam comentários negativos um sobre o outro. Havia, no entanto, um sentimento persistente de amizade e carinho, que permeou a vida de ambos. Em uma fotografia tirada por Alan Ross, a fotógrafa fica ao fundo, olhando com desagrado para Adams, que mostra uma câmera com um sorriso malicioso no rosto. Esta imagem cômica poderia simbolizar completamente a natureza complexa de sua amizade.

Ainda que a fotógrafa tenha falecido em 1976, aos 93 anos de idade, o seu legado artístico e de quebra de barreiras será eterno.