Histórias de mulheres que tentam assegurar a dignidade feminina

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Muitas delas foram agredidas e resolveram enfrentar a situação. Foto: divulgação

Uma casa, aparentemente tranquila, na zona sul de São Paulo, nas imediações da Vila Mariana. Ao entrar, nota-se pouca movimentação e um ar de seriedade. Uma assistente social faz o acolhimento. Muito simpática e atenciosa, ela começa a contar um pouco do seu dia a dia no local. Choro, ódio, indignação e sofrimento. As mulheres que se consultam com a assistente, muitas vezes já suportaram diversas agressões antes de enfrentar a situação e tomar as devidas providências.

Durante a conversa, a assistente social é interrompida por um rapaz de aproximadamente 30 anos, alto e com cabelos negros que alegava ter perdido sua intimação. Ao ser questionado sobre o conteúdo do documento, ele diz não lembrar e foi encaminhado para outra seção.

A conversa continuou. Outros exemplos típicos foram comentados pela assistente social:  mulheres que dizem ser agredidas, mas na verdade são as agressoras; mulheres que querem desesperadamente solucionar seus problemas em uma simples ligação telefônica; e mulheres que fazem as pazes com seus companheiros por acreditarem que eles podem mudar e, consequentemente, retiram a acusação feita no Boletim de Ocorrência.

Inquérito

“Aqui acontece de tudo”, afirma a assistente que foi interrompida mais uma vez, agora por uma mulher de aproximadamente 50 anos, baixa e de cabelos vermelhos. Ela levantava um papel antigo dizendo que queria reabrir um inquérito contra seu ex-marido que, por estar doente, a pedido dos filhos, voltou a morar junto com ela.

Exaltada, a vítima conta que só consegue dormir com uma faca debaixo do travesseiro. No entanto, o problema se estendia. A casa pertencia aos dois envolvidos e a vítima não queria vender o imóvel para que houvesse a partilha do bem, uma vez que seu salário se limitava a R$ 800 e não daria para comprar ou alugar outra residência.

Alcoólatra, drogado e violento. O ex-marido não se intimidava com a passagem pela polícia, há quatro anos, e as agressões continuavam. Ainda se mostrando nervosa, a vítima pede folders informativos sobre os seus direitos, com o intuito de se apoiar na lei para solucionar seus problemas.

A visita ao local termina. Uma garoa fina e um vento frio ajudam a encerrar a tarde com um clima tenso e de reflexão. Em média, até 30 mulheres visitam o local diariamente buscando resgatar sua integridade física e sua dignidade.

 

Carla Fernandez e Fernanda Botteghin (3º semestre)