Karina Lopes – 4º semestre de Jornalismo
O 5G tem sido protagonista em muitos assuntos do mundo atual. Tecnologia, carros, internet das coisas e inteligência artificial são alguns exemplos das áreas que demandam essa nova geração das telecomunicações. No entanto, essa tecnologia passa por um impacto grande no que se refere à geopolítica. No ano de 2021, aconteceu o leilão do 5G no Brasil, que trouxe diversos embates a respeito da China e dos Estados Unidos, reflexo das discussões internacionais sobre a adoção da tecnologia.
O 5G está sendo muito comentado atualmente, sobretudo por conta da velocidade e volume com que as informações passam a ser trocadas. Por conta dessa dependência tecnológica, muitos países que são potências mundiais estão enfrentando uma corrida para saber quem terá maior influência nesse setor. É nessa circunstância que a corrida do 5G chega ao Brasil.
O leilão que aconteceu no Brasil para saber qual empresa seria responsável pela rede de distribuição nacional aconteceu em 2021. Nesse cenário, dois países tiveram grande destaque: China e Estados Unidos; ambos de grande relevância para o contexto brasileiro. Por algum tempo, Donald Trump, ex-presidente dos EUA, tentava fazer com que o Brasil proibisse o funcionamento da chinesa Huawei em território nacional, o que não era nenhum pouco viável para o nosso país.
Leonardo Trevisan, professor de Geopolítica Internacional na ESPM, explica à Plural por que isso ocorre: “Quando o Brasil foi fazer o jogo do 5G, o país queria excluir os chineses por pressão dos americanos, que vieram aqui e falaram para não deixar os chineses entrarem na disputa, mas isso foi impossível porque desde o período do 2G a Huawei já tem os equipamentos montados aqui no Brasil. Ficaria muito caro desmontar tudo para ter só o 5G americano.”
A Huawei, então, foi impedida de participar do leilão por não ser uma operadora de telefonia, mas a empresa ainda fornece os equipamentos necessários para as telecomunicações brasileiras. Esse cenário de conflitos trazidos pelo 5G não se restringe ao Brasil, mas alcança também outros países. Em represália à companhia chinesa, os Estados Unidos orientaram aos países aliados, como Reino Unido, França e Itália, que banissem a Huawei de seu território.
O Chile excluiu a empresa de seu projeto de cabos transpacíficos, e a Índia decidiu retirar os equipamentos chineses por conta de conflitos nas fronteiras de ambos os países. Essas medidas, segundo o advogado Ericson Scorsin – doutor em Direito pela USP e especialista em tecnologias digitais e telecomunicações –, adotadas pelos Estados Unidos como uma forma de se manter na corrida global do 5G e não perder a sua influência para a China. O pesquisador disse ainda à Plural que essas medidas “negam o livre comércio”, já que impõem restrições aos países e à tecnologia chinesa. Esses exemplos mostram o poder que nova tecnologia exerce sobre as nações e deixam uma pergunta no ar: por quê?
Para responder a essa questão é necessário entender que essa problemática é bem mais ampla do que parece. As telecomunicações, segundo Scorsin, não fazem mais parte apenas do contexto comercial, e sim da geoestratégia de um país. Victor Veloso, pesquisador da área de tecnologia e questões cibernéticas, explica à Plural que, a partir do momento em que um país tem domínio da estrutura de telecomunicações, é possível interceptar as informações que passam por ali.
Um grande exemplo disso é o grupo chamado Five Eyes, que nasceu no início da Segunda Guerra Mundial – composto pelos Estados Unidos, Canadá, Nova Zelândia, Austrália e Reino Unido –, como o objetivo principal compartilhar informações derivadas de espionagem entre si. O caso prático mais recente que demostra a importância das telecomunicações é o ataque russo às antenas de transmissão durante a Guerra da Ucrânia, que dificultou a comunicação do país atacado com seus aliados.
Nesse sentido é possível entender porque as potências mundiais se preocupam com quem terá o controle das redes de transmissão nos próximos anos e o motivo dessas disputas em relação ao 5G, já que ele é visto como o futuro das telecomunicações. É importante ressaltar também que, além da chinesa Huawei, a distribuição do 5G pelo mundo tem a participação de outras duas empresas europeias: Ericsson, da Suécia, e Nokia, da Finlândia, ambas apoiadas pelos Estados Unidos.