O 5G na favela

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Viviane Tolosa – 4º semestre de Jornalismo

A Favela Marte, localizada na cidade de São José do Rio Preto, interior de São Paulo, será a primeira favela do Brasil a receber a quinta geração da internet móvel que promete muitos avanços tecnológicos e maior velocidade de navegação. “Hoje em dia ninguém está apto a viver longe da internet. Tudo que você vai fazer precisa de internet”, disse Josiane Maria, moradora da comunidade.

Outra moradora e responsável pela telecomunicação do projeto, Eliane Tavares, relatou como foi descobrir as ideias do Projeto 3D para beneficiar a Favela Marte. “Eu senti como se o nosso sonho estivesse prestes a ser realizado, como se o nosso grito [da favela] chegasse mais longe”.

O projeto é uma parceria da ONG Gerando Falcões com a operadora Tim, além da marca de celulares Motorola e da empresa American Tower. Toda a iniciativa faz parte do projeto Favela 3D: digna, digital e desenvolvida, que tem como objetivo melhorar a qualidade de vida de seus moradores e levar a pobreza para os museus. Micheli Machado Bisco, moradora da favela Marte, disse que espera “que o projeto consiga trazer a realidade, o que é só sonhos dentro de algumas famílias que sofrem com a desigualdade”.

Edu Lyra, CEO da Gerando Falcões, comentou que o projeto é pioneiro e o melhor da tecnologia chegará nas favelas. “A periferia, geralmente, é a última a receber a inovação e, dessa vez, queremos acelerar o processo, conectando a comunidade ao 5G e proporcionando uma série de ações e acesso a serviços digitais graças a essa tecnologia”, disse o CEO no documento divulgado pela Gerando Falcões.

A inclusão digital ainda é pouco presente em bairros periféricos. De acordo com pesquisa realizada em 2020 pelo Instituto Data Favela, em parceria com o Instituto Locomotiva, o acesso à internet é ruim em 43% das favelas brasileiras. A Favela Marte será a revolução tecnológica dentro da periferia e, no final de 2023, as 240 famílias de moradores da comunidade terão acesso ao 5G. “As pessoas de fora não têm a visão que nós dentro da favela temos”, declarou Eliana Tavares enfatizando a importância do projeto.

Durante o período da pandemia, ficou evidente a necessidade de uma internet de qualidade para as crianças continuarem frequentando as escolas. “Para nós é gratificante as pessoas tomarem essa iniciativa de colocar o 5G lá dentro”, relatou Josiane.

Cada uma das marcas terá um papel fundamental na implantação do 5G dentro da Favela Marte. A Tim foi a primeira operadora a implantar o 5G Standalone, em Brasília. Esse tipo de internet é conhecido como conexão “pura” e promete uma velocidade até 100 vezes maior que a internet 4G. Enquanto isso, a American Tower vai garantir as antenas para uma conexão rápida e muito melhor, como é proposta pela tecnologia 5G.

“Trazer a dignidade, o sonho e a força de vontade para cada morador exercer seus direitos de cidadão e ter dos governantes e da sociedade o direito ao lazer”, disse Micheli Machado. A moradora quer fazer parte de “uma favela renovada, uma favela transformada”.

Também segundo documento oficial divulgado pela Gerando Falcões, o CEO da Tim, Alberto Griselli, falou que o projeto é “entregar o melhor da tecnologia na comunidade, com iniciativas que podem englobar educação a distância, serviços financeiros, telemedicina, ações de empreendedorismo com o Instituto Tim e inclusão de mulheres no mercado de trabalho, por exemplo”.

Para ter acesso à nova tecnologia, o 5G, muitas pessoas vão precisar trocar seus aparelhos por versões mais recentes e atualizadas. Segundo José Cardoso, o presidente da Motorola no Brasil, a marca “foi pioneira em trazer o 5G para o Brasil”. Por isso, o projeto Favela 3D escolheu a parceria com a Motorola que apresenta a tecnologia 5G em 60% dos seus aparelhos. “Precisamos que os nossos aparelhos sejam compatíveis com isso”, comentou Micheli.

Os moradores foram retirados de seus barracos e realocados em imóveis alugados pela ONG Gerando Falcões, para que fosse possível a reconstrução do espaço da comunidade.  “Morar numa casa digna me faz ter mais forças ainda pra ajudar nessa luta contra a desigualdade social”, disse Eliana sobre como está sendo toda a experiência de mudança.

“Depois de muita luta, nós somos merecedores de receber tudo isso”, afirmou Josiane. A estimativa é que o projeto fique pronto no segundo semestre de 2023.

Eliane Tavares, residente da Favela Marte, conta que não espera apenas uma casa, mas sim uma transformação de sua vida com toda a nova tecnologia que será implantada. “A transformação de cada morador não só por ele sair de um barraco de madeira, mas sim a transformação de qualificação, de dar para esses moradores o direito de sonhar”, completa.

A nova comunidade será construída com avanços da tecnologia 5G. Além disso, contará com um museu da pobreza, fábrica de cultura e associação de moradores. Em 2023, os moradores terão total acesso ao 5G por meio de hubs tecnológicos. “Daqui a 1 ano e 8 meses a gente vai estar dentro do nosso espaço, de onde precisamos sair para estar melhorando para cada um de nós”, comentou a moradora Josiane emocionada.

Josiane fala que quando viu as matérias sobre a implantação do 5G na favela ficou chocada com os comentários. “A favela precisa de comida e de roupa, pra quê informática? Aliás, pra quê internet?” são alguns dos exemplos citados que ela viu. Completou dizendo que muitas vezes as pessoas reclamavam dizendo: “Nem eu tenho 5G”.

“Para mim é gratificante, né? Saber que tem mais pessoas que se preocupam com os direitos de todos de ter tecnologia e igualdade. E mais uma vez, isso mostra que a comunidade tem força para ir além”, falou Michele Bispo sobre seus sentimentos a respeito da instalação do projeto Favela 3D dentro de uma das grandes favelas de São Paulo.