“Eu não ‘incomodo eles’, e eles não me incomodam”, diz morador de rua

A invisibilidade é, muitas vezes, a opção de pessoas que vivem nas ruas. Foto: arquivo

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A invisibilidade é, muitas vezes, a opção de quem vive nas praças e avenidas da Vila Mariana. Foto: arquivo

Esperança, fé, fome, anonimato. O Município de São Paulo que tem cerca de 11 milhões de habitantes, mas sofre com alto número de moradores de rua, 14.478 pessoas. Desse total, 7.713 estão nos centros de acolhida e 6.765 na rua, segundo Censo de Pessoas em Situação de Rua no Município de São Paulo, de 2011.

Entre os moradores de rua, a maioria é do sexo masculino; 82%. Apenas 13% são mulheres e sobre 5% não se tem informação. A região central tem o maior percentual de cidadãos em situação de rua, em torno de 55%, e o distrito de Santa Cecília possui o maior número de indivíduos abandonados da cidade, de acordo com pesquisa divulgada no site da Prefeitura.

A região da Vila Mariana, localizada na zona centro-sul de São Paulo, tem aproximadamente 103 moradores de rua. Se comparados estes dados de 2011 com os de 2009, houve um aumento de oito indivíduos na rua, de acordo com o Censo de Pessoas em Situação de Rua no Município de São Paulo.

“Não conheço pessoas nem locais que tem o costume de doar comida para moradores de rua, até porque existem regras da casa para não ficar doando, e já ocorreram casos de mendigos que, após receber a comida, atravessaram a rua e jogaram fora. Eles preferem moedas para comprar algo de sua preferência”, diz Léia Aguiar, que mora na Vila e trabalha em uma padaria da região.

Segundo José Carlos Souza Neves, que vive em situação de rua, são poucas as padarias e restaurantes que lhes dão comida. Porém, às vezes, ocorre distribuição de alimentos em algumas praças do bairro. No entanto, ele diz que não come todo dia e, antes de ter essa vida, trabalhava como pedreiro, mas perdeu seu emprego há oito meses e teve que ir para a rua. “Eu não ‘incomodo eles’, e eles não me incomodam”, diz Neves sobre a invisibilidade que procura manter junto aos moradores do bairro.

Reintegração

Em relação aos centros de acolhida, são poucos os que funcionam. Eles servem apenas para dormir, porque no outro dia o cidadão que ali passa a noite tem que ir embora logo de manhã, comenta Neves. Ele diz que vende papelão e que não compensa ir para estes centros, pois enquanto dorme não tem onde guardar a mercadoria que recolheu durante o dia.

Na região da Vila, há projetos como a ABCP (Associação Beneficente e Comunitária do Povo), voltado para pessoas em situação de rua. A entidade tem como objetivo a reiteração social desses indivíduos e está localizada na rua Afonso Celso, 1185, próximo à estação de metrô Santa Cruz.

Outra iniciativa é o Projeto Quixote, que tem como foco crianças e adolescentes, principalmente aquelas em situação de risco. O órgão localiza-se na Avenida Eng. Luís Gomes Cardim Sangirardi, 789. Projetos como esses tem intuito de mostrar para esses indivíduos a sua importância e reintegrá-los à sociedade.

Eduardo Pascoal, com colaboração de Timon Escobar (1° semestre)

Serviço
ABCP: http://www.voluntariosonline.org.br/ong/ABCP-Associacao-Beneficente—Comunitaria-do-Povo
Projeto Quixote: http://www.projetoquixote.org.br/o-que-e/o-projeto/