ESPM recebe a 3ª Conferência Anual de Jornalismo de Dados e Métodos Digitais

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Antônio Rocha Filho

Nos dias 10 e 11 de novembro a ESPM-SP recebeu a 3ª Conferência Anual de Jornalismo de Dados e Métodos Digitais, o Coda.Br, evento promovido pela Escola de Dados do Brasil. Na abertura, a diretora-executiva da Open Escola de Dados no Brasil, Natália Mazotte, agradeceu às diversas empresas que apoiaram o evento e convidou o presidente da ESPM, Dalton Pastore, para dar as boas-vindas a todos em nome da escola. Na oportunidade, Pastore comentou sobre o compromisso da faculdade com a excelência em todos os seus cursos e destacou o papel de inovação da escola.

Três mesas-redondas ocorreram durante o evento. Uma delas foi “Expandindo fronteiras do conhecimento: Datavis para humanos e máquinas”, com Alberto Cairo, professor de Jornalismo Universidade de Miami, e Fernanda Viegas, pesquisadora do Google, com a moderação de Daniel Waisberg, autor do Google Analytics Integrations. Na mesa foram discutidas questões relacionadas a visualizações de dados que auxiliam a navegação em sistemas diversos. Os participantes trouxeram exemplos bem-sucedidos de visualização de dados utilizados por empresas da área de tecnologia e também por veículos de comunicação da mídia tradicional.

Para Fernanda Viegas, a visualização de dados diminui as barreiras de entrada das pessoas para a compreensão das informações. “Visualização é um meio de expressão”, defendeu. Enfatizando a democratização do acesso a informações, Alberto Cairo afirmou que a “visualização de dados tem enorme potencial para se tornar uma linguagem universal”. O professor da Universidade de Miami apresentou na mesa-redonda softwares gratuitos e fáceis de usar para criar imagens interessantes na visualização de dados.

Rosental Calmon Alves, professor da Universidade do Texas, moderou a mesa “E quando o dado não está disponível?”, com as presenças de Steffen Kühne, head de desenvolvimento da Bayerischer Rundfunk, Sarah Cohen, professora de Jornalismo da Universidade do Arizona, e Jeremy Merrill, jornalista da ProPublica nos Estados Unidos. Foram discutidas questões sobre a importância dos dados para a elaboração de uma boa reportagem e apresentados casos que tiveram aplicação de metodologias de ponta para obter a matéria-prima que permitiu a publicação de histórias de impacto.

“Pesquisas eleitorais: o que elas disseram (e não disseram) nessas eleições?”, com Neale El-Dash, diretor de pesquisas da Sleek Data, e Lara Mesquita, cientista política, teve a moderação de Guilherme Jardim Duarte, editor do Jota. Os três especialistas em pesquisas de opinião e resultados eleitorais debateram o papel das pesquisas nas eleições mais recentes no Brasil, principalmente a de 2018, e a leitura feita pelos jornalistas para elaboração de suas reportagens.

Lara Mesquita destacou o papel importante que as redes sociais e o WhatsApp tiveram na eleição presidencial deste ano, assim como a influência das igrejas neopentecostais nas escolhas dos eleitores. Neale El-Dash afirmou que há dificuldades específicas para a realização de pesquisas eleitorais no Brasil, em razão do cenário com dois turnos e um número que ele considera pequeno de levantamentos, de institutos e de metodologias, na comparação com outros países, como os Estados Unidos. Na avaliação de El-Dash, o cenário pode explicar as variações entre os números de algumas pesquisas e os resultados finais das eleições.

Público do Coda.BR 2018 na entrada do evento, realizado nos dias 10 e 11 de novembro, na ESPM-SP

Workshops

Durante o Coda.Br, foram oferecidos 40 workshops sobre a utilização de dados para a resolução de problemas reais para as cerca de 300 pessoas que estiveram no evento e que tiveram a oportunidade de participar, também, dos bootcamps oferecidos.

Alberto Cairo, além de participar da mesa-redonda, ofereceu o workshop “Bonitinho mas ordinário: as mentiras que contam com #datavis e como não ser enganado”, em que mostrou diversos exemplos de infográficos que não eram precisos na informação oferecida. Na atividade, Cairo destacou a importância da escolha adequada da forma de visualização de dados. De acordo com o assunto tratado, a melhor visualização pode ser feita com um mapa, um gráfico de barras ou até mesmo uma tabela, por exemplo. O professor da Universidade de Miami deu ainda dicas práticas para a elaboração e também a leitura adequada de uma apresentação de dados, para evitar chegar a uma conclusão errada.

Dentre outros workshops oferecidos, “A LAI é o lide: como aproveitar a Lei de Acesso para fazer reportagens”, oferecido pela jornalista Marina Iemini Atoji, gerente-executiva da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), mostrou as vantagens da utilização da Lei de Acesso a Informação como uma ferramenta importante para a apuração de reportagens. Marina apresentou experiências bem-sucedidas com o uso da Lei para a produção de material jornalístico, deu dicas práticas para a obtenção dos melhores resultados e ainda sugeriu possíveis temas para apuração com base na legislação e nos dados que os órgãos públicos têm disponíveis.

“Iluminando o mar de dados” foi um bootcamp oferecido para pessoas que buscavam se iniciar na lógica da programação em Python e na aplicação nas bibliotecas mais populares para trabalhar com dados. Esse era o desafio proposto para a atividade que duraria seis horas, criada para iniciantes e conduzida por Caroline Dantas, estudante de Ciência e Tecnologia e Neurociência na Universidade Federal do ABC (UFABC), criadora do RefatorandoCast (podcast sobre tecnologia com pinceladas de história) e dona do canal de YouTube DevFriend, de dicas sobre desenvolvimento e Neurociência.

O objetivo final do bootcamp era permitir que o participante aprendesse a estruturar e limpar bases de dados para, a partir daí, gerar os insights de informação e reportagem utilizando poucas linhas de código. “A maior dificuldade para os jornalistas, por incrível que pareça, é a falta de objetividade”, comentou Caroline. “Esses profissionais não têm o domínio de entender o todo, de enxergar que os dados se conversam e, por isso, se perdem no mar de dados. Aqui, vamos ajudar o profissional a mergulhar nos dados de maneira profunda e a entender o que está acontecendo lá embaixo. Afinal, jornalismo é essa exploração.”

Caroline ainda aposta que, no futuro, não vai existir jornalismo sem essa exploração a fundo dos dados, com o auxílio de ferramentas para explorar bases mais complexas. “Hoje, tudo é dado – e vale dinheiro”, destacou. Além disso, ela acredita que esse seja o caminho mais seguro para eliminar ou ao menos combater com eficiência as fake news. Para demonstrar isso, escolheu como base de dados para o bootcamp o dataset do TSE das Eleições 2018.

Ela apontou para um dado curioso sobre a participação feminina para demonstrar que um número sem sua análise não necessariamente traduz a verdade dos fatos. A determinação era de que houvesse participação de 30% de mulheres – o que, em princípio, foi cumprido, com 31%. “Porém, quando saímos do dado geral para a análise por cargo, vemos que há discrepância e o não cumprimento nos cargos majoritários”, revelou. “Essa meta não foi batida quando olhamos os números para cargos majoritários e justifica o fato, por exemplo, de termos tido apenas uma governadora eleita.”

Público

Pedro Caramuru, estudante de terceiro ano Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero, que participou do bootcamp, mostrou-se animado para a maratona de quase seis horas. “Eu me inscrevi no Coda, pois sabia que seria um evento de peso”, justificou. Sobre essa oficina em particular, sua expectativa era a melhor possível: apesar de já ter contato com Python, ele buscou no evento afinar suas habilidades para utilizar a ferramenta em reportagens com grande quantidade de dados apurados.

O bootcamp teve ainda grande participação de midiólogos, analistas e profissionais da área de ciências sociais – em sua maioria em busca de, mais do que apenas aprender a mergulhar no mar de dados, voltar à superfície com conteúdo sólido e de qualidade.

Para o professor Rosental Calmon Alves, o Coda.BR, organizado por Natalia Mazotte, colaboradora do Knight Center por vários anos, foi realmente um sucesso. O professor afirmou que ficou encantando com a participação de tantos jornalistas brasileiros ansiosos para aprender mais.

O presidente da ESPM, Dalton Pastore, afirmou que a instituição está aberta para receber esse evento, em especial, que colabora com desenvolvimento dos profissionais da imprensa e com um jornalismo de melhor qualidade e com mais investigação.