Editorial: afeto que enriquece

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“Sem paz, sem amor, sem teto,
caminho pela vida afora.
Tudo aquilo em que ponho afeto
fica mais rico e me devora.”
Os versos, do poeta Rainer Maria Rilke, considerado um dos mais importantes da língua alemã, ilustram bem o processo de produção desta revista Plural. De um lado, o imenso afeto de alunos e professores empenhados em fazer o melhor trabalho possível. Do outro, as exigências devoradoras da reportagem: tudo em que se põe carinho e cuidado extras também exige esforço redobrado. Esforço de apuração, checagem, escrita, reescrita, edição, fotografia, diagramação. Esforço de diálogo e mente abertos.
Compreender as manifestações contemporâneas de afeto é trabalho complexo. Há muito, o padrão hegemônico de casais heterossexuais e de famílias tradicionais compostas por pai, mãe e filhos divide espaço com novos arranjos. Nestas páginas descobrimos novas formas de amar e de se deixar afetar, seja no sentido romântico, seja no plano familiar.
Os alunos da disciplina Grande Reportagem, do quarto semestre do curso de Jornalismo da ESPM-SP, autores destas matérias, descobriram o afeto entre deficientes físicos, entre pais heterossexuais e filhos homossexuais, em famílias adotivas, em famílias com filhos inseminados artificialmente, entre transexuais. Descobriram também o que pensam os adeptos do amor livre, do poliamor, do amor à distância e do amor que se manifesta por curtidas e carinhos digitais. O amor nos tempos da internet.
Amar, como no título da obra de Mário de Andrade, como um verbo intransitivo, que não exige complemento.
Mas o que é o amor? O que é o afeto? Ao término desses meses de pesquisa, ainda não sabemos. Mas sabemos que, sem dúvida, ficamos mais ricos no processo. renato essenfelder, editor da plural