Conheça George Orwell: o visionário autor de 1984 e A Revolução dos Bichos

Share

GABRIEL GARCIA | NATALIA PICANÇO
»»»Em 1927, George Orwell resolveu ser escritor. O futuro autor trabalhava como policial na Birmânia, atual Mianmar, ainda colonia inglesa .Ele era simpático aos birmaneses: detestava a autoridade da metrópole e a colonização. Orwell era bolsista na universidade de Eton. Percebeu que era diferente dos colegas, todos mais ricos, e logo abandonou o curso, revoltado com o ensino tradicionalista. Partiu para a Birmânia, para trabalhar no que seria o gatilho para sua futura vida literária. A revolta com o totalitarismo, que fez o policial se tornar escritor, foi um traço que marcaria toda a carreira de Orwell.
De volta à Inglaterra, passou anos fazendo bicos, enquanto escrevia resenhas e artigos para jornais e revistas. Influenciado por sua revolta contra as classes dominantes, registrou em seu primeiro livro a rotina dos mendigos e indigentes – para escrever Na pior em Paris e Londres, Orwell passou meses morando nas ruas da França e Inglaterra. Viajou o mundo denunciando as injustiças sociais: participou da Guerra Civil Espanhola para escrever Lutando na Espanha; visitou as minas de carvão inglesas, nas quais os trabalhadores viviam em condições desumanas, experiência que gerou A caminho de Wigan Pier. Seu grande sucesso comercial como escritor foi A Revolução dos Bichos, uma sátira da ditadura stalinista, ambientada em uma fazenda.

George Orwell: o dono do Grande Irmão

O ápice da trajetória de crítica aos opressores acontece em seu último livro, 1984. A história, escrita em 1948, se passa em Londres, no ano que dá título à obra. A cidade faz parte da Oceânia, uma superpotência controlada por um só “Partido” e liderada por uma entidade onisciente, o “Grande Irmão”. O “Grande Irmão” possui total controle sobre a sociedade, monitorando-a constantemente e, principalmente, reprimindo aquilo que afronta o Partido.
O personagem central do livro é um homem insignificante e triste, Winston Smith, funcionário do “Ministério da Verdade” que resolve se rebelar contra a ausência de privacidade na sua vida. Após entrar para a oposição ao Partido, a chamada “Confraria”, Winston acaba preso. Depois de intensa tortura, ele descobre amar o Grande Irmão, e torna-se mais um integrante da sociedade padronizada e manipulada de Oceânia.

O escritor (o terceiro a partir da direita) participou da Guerra Civil Espanhola, lutando com os Republicanos

O livro se tornou um marco da literatura política do século XX por antecipar conceitos (da teletela – uma precursora da internet – até os helicópteros militares) hoje presentes no cotidiano, mas que na época eram mera ficção científica. Ao cunhar a expressão “Grande Irmão”, uma entidade que tudo sabia e tudo via, Orwell antecipou em décadas a existência da internet e o poder que ela tem em obter informações das pessoas.
Em tempos no qual a vida de todos está aberta em uma rede social, George Orwell, morto aos 46 anos, nunca foi tão atual. Se os cartazes na Londres de 1984 afirmavam que “O Grande Irmão está te vigiando”, atualmente, empresas como o Google e o Facebook sabem ainda mais sobre o que pensamos e fazemos. Como afirmou o autor americano Thomas Pynchon, em um posfácio para 1984, “previsões específicas são apenas detalhes, afinal. O que talvez seja mais importante, necessário de fato, a um profeta em atividade, é estar apto a enxergar mais fundo a alma humana do que a maioria de nós”.
E George Orwell, durante toda sua carreira, enxergou como poucos a alma humana.

Orwell trabalhou na BBC durante a Segunda Guerra Mundial, ao lado de outros escritores, como o poeta T.S. Eliot (sentado de óculos)