Escritora paulista, Carina Rissi, é a nova “estrela” da literatura juvenil

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A autora fez uma sessão de autógrafos durante a Bienal do Rio / Foto: Grupo Editorial Record

A escritora paulista Carina Rissi entrou para a lista dos mais vendidos no ano passado e, com seis livros publicados, já está com mais quatro no forno. Autora principalmente de chick lits – romances leves e divertidos que têm como protagonista a mulher moderna e independente – Carina tem como grande inspiração a britânica Jane Austen: “eu acho que passou do ponto de ser fã. Sou obcecada!”.

Sua obra mais conhecida é Perdida, que será adaptada para o cinema e totalizará uma série com seis livros. Ela conta a história de Sofia, jovem do século XXI que vai parar em 1830, onde conhece Ian Clarke, por quem se apaixona. Destinado, terceiro volume da série, foi lançado no último dia 28 e teve a primeira edição – 20 mil livros – esgotada logo na pré venda. Com esses números, a escritora deve bater em breve a marca de 200 mil livros vendidos nos quatro anos de carreira.

As histórias e o carisma de Carina levaram vários fãs à Bienal do Rio no início de setembro, que lotaram o auditório para participar de um bate-papo com a autora, além de presenciarem sessões de autógrafos. Em entrevista ao Portal de Jornalismo da ESPM-SP, a escritora conta um pouco sobre sua carreira:

Em que momento você percebeu que ser escritora é sua vocação?

Acho que foi quando dei início ao Perdida, que, na época, não tinha título. Foi difícil construir uma trama inteira. Mas era super divertido e achei que queria fazer aquilo mais vezes.

Suas histórias costumam ser comparadas a trabalhos de autores estrangeiros. Como você enxerga essa comparação?

Acho que é comum porque, no gênero [chick lit] ainda somos poucos no Brasil. Antes de Perdida e Procura-se Um Marido chegarem, não tinha quase ninguém. O chick lit lá fora é muito forte e aqui ainda estamos engatinhando.

Você sempre fala com muito carinho da sua família. Como é a relação deles com seu trabalho?

Eles são super presentes! Estão comigo em todos os eventos, porque, no fim das contas, a vida do escritor é um pouco solitária. A gente passa muitas horas ali, só com os personagens em frente ao computador, então você acaba abrindo mão de um monte de coisa, inclusive tempo com a família. Minha filha incentiva bastante e curte demais ter uma mãe escritora. E o Adriano [marido], sem ele eu não teria nem começado essa história. Ele que me incentivou a procurar uma editora para publicar Perdida. Meus dois grandes amores, né! (risos)

Como é feito o trabalho de pesquisa por trás do livro? Em Perdida você precisou se aprofundar no século XIX, não é?

Ouvi dizer que a maioria dos autores primeiro pesquisa e depois sai com a história. Eu vou fazendo tudo simultâneo. Por exemplo, em Perdida tinha a cena em uma sala e eu pensei num sofá, numa mesinha, num vaso, e aí ia pesquisar mobília do século XIX. Sou muito minuciosa e uma coisa acaba levando a outra e quando vejo tenho umas 20 páginas abertas no computador. É uma coisa que toma tempo.

E sobre a cultura cigana em No Mundo da Luna?

Às vezes, como no caso da Luna, que a cultura cigana é muito fechada, você não encontra muita informação. Eu precisei de livros para ter respaldo e acabei não me aprofundando tanto com medo de desrespeitar alguma coisa sem querer. Têm vezes que eu fico uma semana procurando informação e não encontro. E vai dando um desespero! Mas eu adoro pesquisar. Rainha da cultura inútil! (risos)

Perdida vai se tornar um filme e uma série, que terá 6 volumes. Foi até traduzida na Alemanha. Como é encarar toda repercussão?

É tudo muito surpreendente. Quando decidi que ia publicar, tinha uma meta de vender mil livros em um ou dois anos. Hoje ultrapassei muito essa meta. Então tudo o que vem eu acho uma festa! É muita gente lendo meu livro! Mas às vezes paro para pensar e dá um medinho, tipo ‘Meu Deus do Céu, olha no que eu me meti’.

Feminismo é um tema muito discutido atualmente. Nos seus livros, as personagens femininas têm caraterísticas muito fortes, são independentes e decididas. Você teve alguma inspiração no movimento ou foi só coincidência?

Não exatamente me inspirei, mas é uma coisa que eu vivo. Eu não sou muito submissa, também não tolero muito discriminação de tipo nenhum. Acho que o mundo moderno trouxe a mulher ao devido lugar, mas ainda não chegamos lá. Temos certa resistência. E não tenho muita paciência com livros nos quais a heroína precisa ser salva o tempo todo. Gosto de mulher que vai lá, luta, consegue, e, se quebrar a cara, quebrou. Acho que não é nada de ficar esperando o príncipe encantado vir salvar, não. A gente se vira!

Por falar em príncipe, as personagens masculinas também têm papéis importantes. Para compô-los, você se espelhou em alguém? Onde encontrá-los?

(risos) Ah, não! Eles são ficcionais mesmo. Acho que no fundo todos acabam nascendo da minha admiração pelo trabalho da Jane Austen, dos mocinhos que ela criou. Acho que se você batesse no liquidificador todos os personagens masculinos dela, daria o Ian! Talvez seja coisa do subconsciente. Mesmo que seja um pouco mais estourado como o Dante ou um pouco mais duro como o Max. Mas eles não existem ainda! Infelizmente.

Como é sua relação com os leitores? Costuma receber bastante mensagem?

Nossa, muitas! Nas redes sociais, direto eles mandam mensagem. Alguns eu consigo responder, outros só leio, porque, se fosse responder todo mundo, que eu adoraria, ficaria o dia inteiro fazendo isso. Além de ter um feedback dos meus livros, eles são muito carinhosos, muito divertidos. Eu adoro!

Você costuma comentar no Facebook que discutiu com alguma personagem, que outra está dando trabalho…

Acho que é mais ou menos como amigo imaginário. Eles aparecem assim e, para mim, são de verdade. Então discutimos! Às vezes é um saco! Achava que a Sofia, até então, era a pior personagem com quem eu tinha trabalhado. Mas aí veio o Ian! Tinha hora que queria muito bater nele!

Como é lidar com personagens que transcendem da ficção enquanto você escreve?

Às vezes estou na metade do livro e não tenho a menor ideia de onde está indo, porque a Sofia fez tudo do jeito dela. E o Ian, entrar nele foi difícil. Ele é muito fechado e até conseguir chegar à essência dele, demorou muito tempo. Achei que não fosse conseguir. Às vezes estou no computador e, nesse caso de personagem não agir como eu queria, já saio pisando duro pela casa, xingando. Meio doido, mas fazer o quê? Eles aparecem assim e até agora está dando certo, né?!

E por falar no Ian, o que podemos esperar de Destinado?

Como esse pedaço da história é do ponto de vista dele, então nós vamos conhecer o irmão, o pai, o patrão, o empregado, o homem, o marido. E acho que vocês vão curtir muito e podem se apaixonar de novo por ele. (risos)

 

Marcela Bonafé (2º semestre)