A história é cíclica: como o rock e o rap alcançaram, com a mesma fórmula, o mundo mainstream da música

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Gustavo Fongaro (3º semestre)

O rockeiro Ozzy Osbourne junto dos rappers Post Malone e Travis Scott performando a música Take What You Want no American Music Awards de 2019. Foto por Kevin Winter/Getty Images

De origens suburbanas e vítimas de preconceitos, o rap e o rock têm trilhado
um caminho muito semelhante no cenário musical. Ambos de povos marginalizados, origens negras e de um movimento de contracultura, surgiram como um espaço de voz para os oprimidos. Conquistaram um público fiel com suas denúncias aos problemas políticos e sociais e ganharam repercussão na mídia, tornando-se os principais gêneros no cenário musical, junto com o pop, e chegando no 1º lugar nas paradas de diversos países.

Originário da Jamaica nos anos 1960, o rap foi criado juntamente ao tempo em que surgiam os sistemas de som, os quais eram colocados para animar bailes e festas de rua no país. Esses bailes serviam como voz para as pessoas dessas comunidades. Os “toasters”, mestres de cerimônia, puxavam rimas com objetivo de que o público os seguisse, nessas rimas, discursavam sobre assuntos como violência, situação política, sexo e drogas. No início da década de 1970, devido à crise econômica e social sofrida pela Jamaica, esses jovens foram obrigados a emigrar para os EUA, difundindo e popularizando o rap, iniciando nas classes mais pobres, e também mais tarde atingindo a alta sociedade.

Também de origem negra e marginalizada, o rock foi criado a partir de influências musicais do country, blues e jazz, surgindo como estilo musical nos EUA no final dos anos 1940. O significado da palavra rock vem de uma metáfora para sacudir e/ou perturbar. O estilo se popularizou na década de 1950, com a ascendência de Elvis Presley na mídia. Na época, a Guerra Fria tomava conta de todos os noticiários americanos. A música tomou o papel de contestador de ideais políticos, econômicos e sociais, abrangendo mais pessoas com Bob Dylan nos anos 1960, que escrevia as denominadas “canções de protesto”. O cantor tornou-se um representante da juventude na luta pela liberdade e um crítico de guerras e do preconceito racial, chegando a estar ao lado de Martin Luther King, na Marcha sobre Washington, clamando pelo fim da segregação racial, liberdade e igualdade

“Devido às intervenções militares causadas pelas condições sanitárias em New Orleans, o berço do jazz, os músicos, em sua maioria esmagadora como negros e de baixa renda, começaram a se mudar para as cidades do norte da costa leste dos EUA. Como consequência, difundiram o estilo, que acabou se difundindo e misturando a outros estilos, originando o rock, o blues e o soul”, explica o entusiasta em jazz, João Manoel Barros. Mais de 60 anos de músicas e mais músicas, os estilos ainda são os protagonistas do cenário musical. O rap vive um momento de êxtase. Seguindo o mesmo caminho traçado pelo rock, o estilo cresce usando a música não somente como entretenimento, mas também como crítica social. Liderado por Post Malone, Travis Scott e Drake, o rap está em seu auge. Atingindo o top 10 das principais paradas de diversos países, antes dominadas estritamente pelo cenário pop.

O rock, apesar de não conseguir ter a mesma força que tinha na segunda metade do século passado, permanece sendo cultuado e ainda é o principal responsável por levar multidões a shows e festivais pelo mundo. A exemplo disso, a edição de 2020 do Lollapalooza Brasil, adiada para dezembro por conta do coronavírus, conta em seus headlines as bandas de rock Guns N Roses e The Strokes, e o rapper Travis Scott.

Para o estudante de jornalismo Luca Ioni, os estilos são mais que simples
canções. “Eu cresci ouvindo esses gêneros. Ambos transformam sentimentos e ideologias em música.” O jovem ainda cita pontos fundamentais para a formação da identidade musical desses gêneros. “Racionais e Beatles foram revolucionários em seus estilos. Assim como o movimento punk, por exemplo, que é uma vertente focada em passar uma ideologia de defesa de liberdades individuais. Creio que mesmo o rock não estando no auge como antigamente, foi o estilo mais importante para a música chegar no patamar onde chegou.”

Depois disso tudo, porque não juntar ambos os estilos em uma mesma música? É isso que o vocalista do Black Sabbath, Ozzy Osbourne, em parceria com os rappers Post Malone e Travis Scott decidiram fazer. Os três dividem os vocais na música Take What You Want, lançada em 2019. A colaboração alcançou o 8º lugar na maior parada americana de músicas mais vendidas na semana, os Top 10 da Billboard.