Revolução dos Cravos faz 50 anos

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Texto: Maria Travalin – 1° semestre

Locução: Guilherme Paiva – 1° semestre

 

Nesta quinta-feira (25), completam-se 50 anos desde que a canção Grândola, Vila Morena anunciou, na Rádio Renascença de Portugal, o início da Revolução dos Cravos. Responsável pela derrubada do Estado Novo de António Augusto Salazar, uma ditadura de 1933 a 1974, o levante militar e popular culminou no fim do império ultramarino português e a consequente independência das colônias na África (Moçambique, Angola, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe), durante os anos 1970.

A canção é um exemplo de uma das músicas que foi utilizada como senha para alertar a população sobre o levante. Respaldados pelos Capitães de Abril, militares descontentes com a ditadura salazarista, cidadãos percorriam as ruas de Lisboa e do Porto, colocando cravos na ponta das baionetas dos soldados, que cederam ao clamor popular. Dessa forma, o 25 de Abril ganhou o nome de Revolução dos Cravos, cuja flor é o principal símbolo da luta pela liberdade e pela deposição da ditadura.

O português Idílio Cravo, 68, contou à equipe do Portal sobre a felicidade que sentiu com o anúncio da revolução: “‘Já não vamos à guerra’, essa foi uma grande alegria que nós tivemos. Já não vamos para Angola, podemos estudar porque sabemos que temos futuro”.

No início da década de 1970, Portugal enfrentava uma grave crise econômica que, aliada aos abusos e censura do governo, causou enorme pressão popular. O afastamento de Salazar, que sofrera um AVC em 1968, e as guerras de independência das colônias africanas permitiram que a transição à democracia ocorresse de modo pacífico, com a renúncia do então primeiro-ministro Marcelo Caetano, em 1974.

Entretanto, a mudança de regime foi gradual, com Coimbra sendo uma das últimas cidades a ceder à revolução. “No dia [25], estava programado sair o nosso cortejo e o Seu Governador sumiu e não autorizou […] porque poderiam considerar que era uma manifestação de apoio ao 25 de Abril”, completa Idílio.

Desde então, o governo português realiza comemorações em memória à luta pela democracia e pelo fim da ditadura. Para este ano, a Comissão Comemorativa de 50 anos de 25 de Abril, organização encarregada por concretizar anualmente uma celebração de liberdade e democracia em Portugal, desenvolveu um filme institucional e convidou quatro reconhecidos artistas portugueses para criarem ilustrações inéditas para assinalar a data.

Já a Câmara Municipal de Lisboa preparou suas homenagens em três eventos: a Mostra de Filmes em Alcântara (MFA), no Arquivo Municipal de Lisboa; o Concerto 50 anos 25 de Abril em Lisboa, com a temática Uma Ideia de Futuro; e o Portas Abertas dos Paços do Concelho, na Praça do Município.

Polarização

A celebração dos 50 anos da Revolução dos Cravos também tem sido usada pelo debate político atual português.

Esse ano, durante transmissão na ChegaTV, o deputado André Ventura prometeu que não permitiria a presença de Lula na comemoração deste ano, caso tivesse sido eleito presidente (Portugal é uma República Parlamentarista). O político se referiu ao ocorrido no Parlamento português no ano anterior, quando Lula foi convidado para discursar durante o 49º aniversário da Revolução, tornando-se alvo de protestos. Neste ano, o Brasil enviou no lugar do presidente o ministro de Relações Exteriores, Mauro Vieira. 

O Chega!, partido de extrema direita, é responsável pelo acirramento do debate político atual, polarizando os eleitores portugueses por meio de discursos xenofóbicos e de anti imigração. Criado em 2019, saiu de 1 deputado eleito (o próprio Ventura) para terceira força do parlamento luso nas eleições legislativas de 2024, com 36 parlamentares eleitos, tornando-se a terceira força política de Portugal.

Veja a seguir a foto áudio reportagem sobre a Revolução dos Cravos (edição: Erivam de Oliveira; locução: Guilherme Paiva)