Como o aquecimento global também é fenômeno social
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Nesta quinta (30), começa a COP28, em Dubai (Emirados Árabes Unidos) – fonte: Kiara Worth / reprodução UN Climate Change
Gabriela Raposo, Isabeli Souza e Lys Razel – 1ºsemestre
A COP 28 – 28ª Conferência de Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas (ONU) começa nessa quinta-feira (30) e vai até o dia 12 de dezembro, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. O evento tem como objetivo principal discutir a transição para energia limpa, firmar acordos de financiamento para Ação Climática, mobilizar a inclusão de populações marginalizadas climaticamente, reunindo natureza, vida das pessoas e os seus meios de subsistência. A COP 28 também pretende analisar e promover informações sobre medidas necessárias tomadas entre os países membros sobre como enfrentar as mudanças no clima e os efeitos causados por elas.
Isso não será tarefa fácil. De acordo com dados do Carbon Brief, site do Reino Unido com uma das maiores coberturas mundiais de eventos climáticos, 10 países (incluindo o Brasil), representam, juntos, quase 70% das emissões globais dos gases do efeito estufa. Por outro lado, os países que menos contribuem para esse fenômeno são os que mais sofrem suas consequências. Relatório de 2019 “Greve de fome: o índice de vulnerabilidade climática e alimentar” (Christian Aid) já indicava que os dez países que registraram os maiores índices de insegurança alimentar, combinados, geraram apenas 0,08% dos índices de CO2 globais.
Marcus Nakagawa, Doutor em Sustentabilidade e coordenador do CEDS – Centro ESPM de Desenvolvimento Socioambiental, diz que os países ricos já fazem investimentos em países em desenvolvimento, para que possam diminuir sua pegada de carbono e o impacto do aquecimento global, reduzindo assim desigualdades causadas pelas mudanças climáticas. “As pessoas mais ricas podem, e devem, ter um desenvolvimento seja nos seus investimentos, seja nas suas empresas para uma compensação necessária das questões climáticas. Isso com certeza vai ser discutido na COP”, esclarece Nakagawa.
Relatório da Oxfam International
Gráfico mostra a porcentagem de emissão de CO2 emitida pelas diferentes classes sociais – fonte: Oxfam International
Na segunda-feira passada (20), foi lançado o relatório “Igualdade Climática: um Planeta para os 99%”, produzido pela ONG Oxfam Internacional. O estudo se baseia em pesquisas compiladas pelo Instituto Stockholm Environment e analisa as emissões de CO2 em relação ao consumo nas diferentes classes sociais. Os resultados apontam que os 1% mais ricos do mundo (77 milhões de pessoas) foram responsáveis por 16% das emissões de dióxido de carbono em 2019, valor que equivale a mesma quantidade emitida pelos 66% mais pobres (5 bilhões de pessoas).
Sobre as perspectivas futuras, o relatório sugere que em 2030 as emissões de apenas essa menor parcela populacional deverão ser 22 vezes superiores ao valor de emissões permitidas para manter o aquecimento global abaixo da meta estabelecida no Acordo de Paris, tratado internacional adotado em 2015 que abrange a mitigação adaptação e financiamento das mudanças climáticas.
O relatório traz à tona o conceito de justiça climática, que abrange como as mudanças climáticas impactam a vida de pessoas de maneiras e intensidades diferentes de acordo com sua situação monetária. Fenômenos como chuvas intensas, ondas de calor, aumento do nível do mar e aumento da temperatura global, tornam visível a vulnerabilidade de grupos menos favorecidos financeiramente, graças aos impactos causados pelas mudanças climáticas.
Novo ativismo climático
Ações como a dos ativistas do Just Stop Oil buscam dar visibilidade e democratizar o debate climático – fonte: Divulgação Just Stop Oil
Atualmente, a pauta socioambiental tem contado com uma grande participação de jovens dispostos a discutir e mobilizar outras pessoas sobre desenvolvimento sustentável, justiça e injustiça climáticas. Greta Thunberg, a jovem ativista conhecida internacionalmente, é um dos ícones desse novo ativismo climático. Graças ao seu conhecimento e a forma com que comunica o fenômeno às novas gerações, Greta é frequentemente convidada a discursar em diversos eventos renomados, até o parlamento da ONU. Além dela, há milhares de outros jovens que, individual ou coletivamente, levantam a sua voz e realizam mobilizações virtuais e presenciais.