Na famosa Rua Javari tem futebol, emoção e cultura
Compartilhar
Tarde de quarta-feira,18 de março de 2015. Os holofotes do mundo do futebol estavam voltados para as partidas válidas pela UEFA ChampionsLeague, ou, Liga dos Campeões da Europa. As badaladas e caras equipes de Barcelona, Manchester City, Borussia Dortmund e Juventus entrariam em campo pelas oitavas-de-final da competição. Entretanto, a atenção de um pequeno grupo de 650 apaixonados pelo esporte bretão estava totalmente voltada para um jogo válido pela série A3 do campeonato paulista, em que o emblemático Clube Atlético Juventus defendia sua liderança diante do Cotia Futebol Clube, dentro das dependências do estádio Conde Rodolfo Crespi, na famosa rua Javari.
Não há placar eletrônico, a arquibancada é de concreto, qualquer um é livre para acompanhar o jogo encostado no alambrado, a meia entrada custa 10 reais e o lema de um dos principais grupos da torcida, o setor 2, é “ódio eterno ao futebol moderno”. A venda dos cannolis, tradicional doce italiano, ininterrupta desde 1972, e a presença maciça de idosos que falam com o sotaque italiano característico da Mooca completam o clima especial.
O “moleque travesso” entrou em campo com vários jogadores desconhecidos: André Dias; Ferro, Léo, Victor Salinas, Orinho; Fellipe Nunes, Derli, Daniel Costa (Wellington), Adiel; Kennedy (Rafael Branco) e Abraão (Gil). De todos estes nomes citados, o mais conhecido é o de Gil, campeão do mundo pelo Corinthians em 2000 e famoso pela frase pronunciada em uma em entrevista quando jogava pelo Cruzeiro, quando ele entrou em campo no segundo tempo e alguns torcedores brincaram: “vale tudo, hein, Gil!”
Uma característica marcante da Javari é a pressão exercida pela torcida juventina sobre os adversários e o juiz. Qualquer reclamação ou xingamento proveniente das arquibancadas é facilmente ouvido por quem está no gramado devido às pequenas dimensões do estádio. O goleiro adversário foi alvo dos juventinos encostados no alambrado atrás do gol durante o jogo todo.
Passados sete minutos de jogo no primeiro tempo, o Cotia sofreu uma penalidade máxima que foi lindamente defendida pelo goleiro André, inflamando a torcida do Juventus. Os gols marcados por Orinho, cobrando falta aos quatro minutos do segundo tempo, e por Rafael Branco, aproveitando bela jogada feita por Adiel, aos 39 minutos, garantiram a vitória da equipe da rua Javari por 2 a 0, continuando no posto de líder da terceira divisão do paulista.
A vitória do moleque o manteve na liderança e entusiasmou os seus seguidores, que na maioria dos casos também são palmeirenses, corintianos ou são-paulinos. Realmente, a rua Javari preserva algo que foi perdido com o advento das novas arenas Brasil afora. “Quando a gente tá aqui veste a camisa mesmo e faz tudo pelo Juventus, o time do nosso bairro”, afirmou Gabriel Borlenghi, jovem integrante da torcida Ju-Jovem.
A organizada que após uma ano de inativide devido à morte do notável juventino Sérgio Mangiullo, voltou ao batente: “Eu sou palmeirense. O Sérgião torcia só pro Juventus. Por causa da morte dele nós paramos no ano passado, mas nós estamos voltando com tudo esse ano, com uma molecada nova pra renovar a torcida”, declarou Kekeu, atual presidente da torcida e autentico mooquense. “Eu nasci e cresci na Mooca. Minha casa é quintal pro Juventus”, disse.
Após uma bela tarde de futebol pode-se realmente afirmar que a rua Javari, o palco do gol mais bonito da carreira de Pelé, preserva algo de especial que foi perdido com o advento das novas arenas Brasil afora.
André de Sena (1 semestre) e Silvio Junior (2 semestre)